Noé Ferreira da Silva ou Dr. Noé Ferreira, como era conhecido, nasceu no distrito de Santa Rita de Patos (atualmente município de Presidente Olegário) em 05 de junho de 1887. Filho do casal Tenente Coronel Augusto Ferreira da Silva e Anna Gonçalves da Mota (Donanna) teve que completar o “curso preparatório” destinado ao ingresso no ensino superior em Cachoeira do Campo (MG), bem como em São Paulo. A porcentagem de alunos que concluíam os cursos superiores, na ocasião, era bem reduzida, devido às possibilidades restritas, ocasionadas por diversos fatores, entre eles as dificuldades de percorrer grandes distâncias devido à ausência de meios apropriados, à falta de recursos financeiros e à limitação de escolas adequadas. Cursou a Faculdade de Odontologia de São Paulo (capital), diplomando-se em 1906. As peripécias por que passou o referido universitário eram bem acentuadas, tais os problemas ocasionados pela distância de sua residência a São Paulo, o que motivava toda vez que ia à capital paulista os seguintes procedimentos: dirigia-se a cavalo, acompanhado de seu irmão mais velho Itagyba, que fazia o curso de Direito, de Patos até Campinas passando a noite nas rudes pousadas da época, normalmente distante uma das outras 06 léguas. Enfim, ao chegar à cidade de Campinas, vendia seu cavalo, embarcava no vagão da estrada de ferro até alcançar a capital paulista. Ao retornar à sua terra natal, nas férias de final de ano, vinha de trem até Campinas, comprava um cavalo e fazia o percurso inverso.
Casou-se em setembro de 1913 com a senhorita Affonsina Maciel, filha de Antônio Dias Maciel Júnior (Tonho) e Amália Maciel, esta filha primogênita do Major Jerônimo Dias Maciel. A pequena reportagem deste casamento foi publicada no jornal patense “O Commercio” de 05 de outubro de 1913, do qual o Dr. Noé era colaborador. Eis aqui, respeitando a ortografia da época, o resumo das notícias no mencionado jornal:
Os actos civil e religioso effectuaram-se em casa do pai da noiva com a assistência da família dos ilustres nubentes. Aquele foi presidido pelo Juiz de paz em exercício, Sr. Agenor Modesto da Silva e este pelo Revdo. Cônego Getúlio de Mello, digno vigário da Parochia”. “Serviram de paranymphos, por parte do noivo, o capitão José Antônio da Silva e sua Exma. senhora, por parte da noiva o capitão Aurélio Theodoro de Mendonça e sua Exma. esposa. Após estes actos foram servidos aos assistentes profusos copos de champagne.
Para satisfazer a vontade do pai, Noé completou o curso superior mencionado, mas não exerceu a profissão. Foi agricultor e pecuarista, jornalista, redator proprietário do jornal “A Reforma”, professor e fundador do Instituto Sul Americano, educandário situado na Rua Olegário Maciel, nesta cidade. Por insistência de amigos, uma vez que não era político, foi candidato a vereador à Câmara Municipal de Patos, tendo sido eleito para a legislatura 1912-1915, desempenhando a função de secretário da mencionada Câmara. É curioso frisar que o Doutor Noé exerceu o mesmo cargo que o seu avô materno Manoel José da Motta na primeira Câmara Municipal de Patos para o qual fora eleito. Como vereador propôs a construção de um prédio destinado a um grupo escolar, bem como a realização de obras de saneamento e outros melhoramentos, tais como abastecimento de água, rede de esgoto e instalação de energia elétrica.
Por ocasião da nefanda Gripe espanhola (1918) saia o Doutor Noé rumo às fazendas vizinhas para dar atendimento aos afetados pelo vírus da insidiosa enfermidade, valendo-se dos seus conhecimentos de assepsia. Era usual chegar às casas das propriedades rurais e não encontrar alguém capacitado a fornecer um copo de água para os outros moradores, uma vez que a contaminação era devastadora. A preocupação com os amigos, bastante evidente pelos seus atos, indicava que não pensava em si mesmo, pois não era imune à peste.
Tendo se convertido, posteriormente, aos preceitos da Igreja Presbiteriana, não obstante a tradição Católica Apostólica Romana de toda sua família, Noé Ferreira foi crente fervoroso até sua morte, às 23 horas e trinta minutos do dia 22 de novembro de 1933, originada pelo deficiente funcionamento do seu aparelho digestivo, ocasionando-lhe cruciantes padecimentos durante um longo período. No dia seguinte, durante as solenidades de seu enterro discursou o professor da Escola Normal Geraldo de Santana Sobrinho, em nome do Instituto Sul Americano. Deixou viúva e sete filhos, sendo o mais velho com 18 anos e o mais novo com apenas 02 anos. Posteriormente, foi homenageado pelos vereadores que lhe concederam o nome de uma rua no bairro Bela Vista, nesta cidade de Patos de Minas que tanto amou. Affonsina nasceu em Patos a 23 de janeiro de 1894 e faleceu a 21 de julho de 1963, recebendo, também, homenagem da Câmara Municipal que denominou uma rua no Bairro Jardim Paulistano de “Afonsina Maciel”. Abaixo, resumidamente, a relação dos dados dos filhos do casal, todos nascidos em Patos:
1 – Amália, falecida aos cinco meses de idade.
2 – Antônio Ferreira Maciel, que se formou em odontologia e exerceu o magistério, nascido a 28 de outubro de 1915 e falecido em Patos de Minas a 07 de outubro de 1990.
3 – Irene Ferreira Magalhães, normalista, nascida a 31 de agosto de 1916 e falecida a 16 de maio de 1985.
4 – Helena Ferreira Resende Lima, prendas domésticas, nascida a 09 de dezembro de 1921 e falecida em Belo Horizonte a 20 de julho de 1970.
5 – Marisa Ferreira Baeta Neves, prendas domésticas, nascida a 17 de março de 1923 e falecida em Belo Horizonte a 25 de outubro de 1989.
6 – Amália Maciel Ferreira de Santana, normalista, professora; nascida a 03 de julho de 1925.
7– Adhemar Ferreira Maciel, advogado, Juiz Federal, Juiz do Tribunal Regional Federal da Primeira Região e Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), nascido a 28 de dezembro de 1928.
8 – Newton Ferreira da Silva Maciel, advogado, professor universitário, nascido a 22 de dezembro de 1931.
Os filhos do casal Noé e Affonsina foram todos casados e geraram, até o momento, 146 descendentes.
* Texto: Newton Ferreira da Silva Maciel.
* Foto: Arquivo de Newton Ferreira da Silva Maciel.