NOÉ FERREIRA DA SILVA: FALECIMENTO

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SERENAMENTE, calmamente, resignadamente, no dia 22 deste [11/1933], ás 23 horas e trinta minutos, entregou seu espirito a Deus, o nosso prezado dr. Noé Ferreira da Silva¹, redator proprietário da “A Reforma”.

Os cruciantes padecimentos que sofreu durante o desenvolvimento tenaz da molestia que o levou não desfaleceram o seu espirito crente, que se conservou lucido, puro e nobre até o instante terrível do desenlace fatal. Bem aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Dormiu em Deus, alicerçado numa convicção inabalável e confortadora. Ainda no dia da sua vitoria final, quando a morte se avizinhava, á beira do seu leito perguntamos si ele se achava forte, espiritualmente forte. Parece que sua voz se tornou mais nítida para uma resposta imediata que saiu clara e vibrante: SOBRE ESTE PONTO, GRAÇAS A DEUS, AINDA NÃO BAQUEEI UM SÓ MOMENTO. E de fato, o inesquecivel morto não baqueara, tão profunda era sua fé, tão rica de esperanças e promessas que jámais falharão. Preciosa é a morte dos justos aos olhos do Senhor. O céu se enriqueceu com a entrada triunfal da alma do dr. Noé Ferreira, justificada pelo sangue do Cordeiro, “alva mais que a neve”.

E porque o morto, tão pranteado, era um adepto fervoroso da religião de Jesus Cristo, a Igreja Presbiteriana local lhe prestou sinceras e comoventes homenagens.

Assim é que ás cinco horas e meia da arrepiada e triste tarde do dia 23 – o caixão que conduzia os restos mortais do dr. Noé foi transportado para o salão de cultos daquela corporação evangelica, conduzido pelos seus amigos.

No momento em que o cortejo penetrou naquele recinto o orgão enchia-o de notas lentas, de um dó profundo o coração das pessoas presentes. Colocado o caixão na eça adredemente preparada para áquele fim o côro da Igreja cantou um hino, repassado da mais intensa tristeza. Toda cerimonia religiosa foi dirigida pelo rev. dr. John Johnston, pastor presbiteriano, que depois de ler trechos das Sagradas Escrituras, apropriadas ao momento, assentou-se, seguindo com a palavra o professor Carlos Chaves, diretor do Instituto Sul-Americano, que pronunciou uma oração tocante que impressionou vivamente os circunstantes. Após o cantico de mais um hino seguiu-se o cortejo funebre para o cemiterio Municipal, onde orou o rev. Johnston comovidamente. Terminada a parte religiosa falou o dr. José de Santana Sobrinho, professor da Escola Normal, em nome do Instituto Sul-Americano, de que o finado foi um dos fundadores. Pelo fundo e pela forma a oração do professor Santana, exalçando as qualidades do dr. Noé, deixou uma impressão forte no espirito de toda assistencia. A perda que se verificou com o passamento do nosso prezado redator é uma grande perda para nossa sociedade e para sua familia. Amigo da nossa terra – o dr. Noé, por diversas vezes, viu o seu nome sufragado pelo povo para servir como vereador á extinta Camara Municipal. Ultimamente entregára-se ele ao cultivo de uma fazenda de sua propriedade, quando correu a triste nova de seu precario estado de saúde. Impossibilitado de trabalhar devido a debilidade de seu organismo e não se conformando com o viver sem luta, veio para cidade e pouco tempo depois adquiriu “A Reforma”, posto onde se achou até á morte. Seus artigos sempre se revestiram de elevado senso, claros, de linguagem simples e correta.

O dr. Noé era uma alma nobre e grandiosa. Formado em 1906 pela Faculdade de Odontologia de São Paulo, pouco trabalhou em sua profissão, tendo se entregado, pouco depois de sua formatura, á vida de agricultor e criador. A dor que pesa sobre seus amigos, e, particularmente sobre os seus companheiros de trabalho, é imensa. Conforta-nos, no entretanto, a certeza de que temos de que o dr. Noé Ferreira partiu, bem cedo ainda desta vida, atendendo á chamada do Mestre. Este Jesus adorável, em Quem ele creu, com firmeza, fidelidade, perseverança e amor inaudito.

* 1: Leia a biografia em “Noé Ferreira da Silva”.

* Fonte: Texto publicado com o título “Dr. Noé Ferreira” na edição de 25 de novembro de 1933 do jornal A Reforma, do arquivo de Newton Ferreira da Silva Maciel.

* Foto: Arquivo de Newton Ferreira da Silva Maciel.

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