Sesostris Dias Maciel, o Major Gótte, em 1912 foi o responsável pelo aparecimento da segunda bicicleta em Patos de Minas. Em 1913 introduziu o primeiro automóvel e o primeiro caminhão, mesmo não havendo estradas de rodagem na região. A compra dos veículos, no entanto, não foi feita sem o desconhecimento deste pequeno problema, pois a visão do major era construir uma estrada, a primeira do Município. Através dela poderia se chegar mais facilmente ao ramal ferroviário mais próximo: Catiara. E com esta visão o Major Sesóstris construiu a Rodovia Patos-Catiara, com início dos trabalhos em 1916. O decreto 4.546, de 26 de março de 1916, outorgava-lhe o privilégio de tráfego por 25 anos e subvenção quilométrica, para construção, uso e gozo da estrada de rodagem, apropriada ao tráfego de automóveis, ao qual partindo de Lavrinhas (Catiara), na E. F. Goyaz, fosse ao distrito de Santa Rita de Patos (hoje município de Presidente Olegário), e ainda pelo distrito de Areado (hoje distrito de Chumbo), com um ramal entre ponto conveniente da estrada, para Carmo do Paranaíba. Ele mesmo, em seu automóvel, realizava o transporte de passageiros, por sinal escassos no tempo, de Patos até a Estação, a fim de prosseguirem viagem para os grandes centros. Fato curioso é que, antes da estrada ficar pronta, o Major dava voltas pelas ruas conduzindo passageiros, que pagavam passagem para um percurso de meia hora.
Em 1919 o Major Sesostris vendeu a estrada a José Rangel¹, que a reformou e a encascalhou adotando o critério de que quem comprasse carro de sua firma revendedora² estaria isenta da taxa de pedágio. Além de comprar e melhorar, instalou uma linha de ônibus regular. Em 1927 mantinha corridas às 2.ªs, 4.ªs e sextas feiras para Catiara, saindo de Patos às 13:40, e passando por Santana de Patos (14:55), Vilela (15:50), Serra do Salitre (16:35) e Catiara (17:00). De Catiara saia às 8:25, chegando a Patos às 12:00 horas, às 3.ªs, 5.ªs e sábados. Para Carmo do Paranaíba mantinha uma linha, com entroncamento em Santana de Patos, e corridas diretas às quintas e sábados. Velocidade máxima permitida: 32 km/hora. Venda de passagens e despachos eram encerrados cinco minutos antes da partida.
Sesostris Dias Maciel nasceu em Patos de Minas em 18 de maio de 1864. Era filho de Antônio Dias Maciel, o Barão de Araguari, e irmão, entre outros, de Olegário Dias Maciel, Farnese Dias Maciel e Osório Dias Maciel. Além de construtor da 1.ª estrada de rodagem de Patos de Minas, foi comerciante (Casa Gótte), vereador (presidente, de abril a dezembro de 1889) e delegado de polícia. Um ano antes da estrada, instalou 70 aparelhos de telefone urbano na cidade. Pertencia à 3.ª Cia. 156 do Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional da Comarca de Patos de Minas. Faleceu em 11 de abril de 1942 no Rio de Janeiro.
A notícia da construção de uma estrada de rodagem no Município de Patos pelo Major Sesostris repercutiu enormemente na cidade. A estrada, por si só, já seria um grande avanço para a região. O fato, então, dela ser de responsabilidade do Major Gótte deu oportunidade à imprensa local de tecer loas ao empreendedor. Em 25 de junho de 1916 o jornal Cidade de Patos, comandado por Marcolino de Barros e tendo como Redator-Chefe o Dr. Euphrasio José Rodrigues, publicou a matéria que segue (com o título “Automobilismo em Patos. Construcção da Linha, os Esforços do Major Sesostris Dias Maciel. Outra Notas”:
A automobilisação em Patos vai se transformando em realidade. O importante industrial Major Sesostris Dias Maciel está á frente da construcção da linha, já tendo assinado o contracto com o governo do Estado. A primeira vista parece um facto de somenos importancia este, e no entanto vai marcar uma nova éra para esta cidade; com meios de transporte e de locomoção, a industria e a lavoura se desenvolverão sob mais auspiciosos augurios, entrarão para o nosso meio as gentes das terras grandes como dizem alguns de nossos ingenuos sertanejos, os capitaes gyrarão com mais abundancia e facilidade, o commercio se desenvolverá mais; era a unica cousa que faltava para podermos exclamar como Vico em relação ao homem: “Patos se fez a si mesmo”. Não existe uma verdade mais commovente do que esta. Cidade do sertão abandonada pelos governos de todos os tempos si, é uma cidade bella foi devido ao esforço titanico de seus filhos. Nos rodeiam todos os confortos da civilisação moderna. Agua canalisada, luz electrica, imprensa, estabelecimentos de instrucção, fábrica de banha, xarqueada, aprendizado agricola etc. nesta pequena chronologia, quanta persistencia e quanta fadiga! Foi uma lucta sem tregoas. Os que quiserem saber a nossa historia, perguntem ao primeiro transeunte das ruas, ella é de hontem, elle mostrara os bellos edificios de architectura moderna, e dirá, foram unicamente os homens que habitam nesta terra, que levantaram os seus braços potentes como os de Hercules, sublimes e ousados como os de Prometteu e fiseram de Patos uma maravilha.
Max Nordan em sua obra “Molestia do seculo” descreve o sabio das Academias, inundando o proscenio de uma luz inextinguível e do outro lado descreve o industrial, sustentando milhares de operarios, e fabricando os estofos da civilisação moderna, e conclue perguntando, qual destes homens seria mais util a humanidade?
É o caso de diser-se como os Brahamanes pensadores, não sei. Quem ousará, pôr em duvida a utilidade do Major Sesostris na cidade de Patos? Homem industrial por exellencia, está sempre á frente de todos os empreendimentos, que tendam a melhorar a terra que lhe serviu de berço. Trabalhador infatigável, não deve descançar nunca. Desde o seu começo, quando pobre, tinha sempre no cérebro as idéas grandiosas, devia ser um revoltado e foi um consolado; mais tarde quando a fortuna lhe sorriu, bem viram os leitores os empreendimentos que realisou; hoje se vamos ter uma estrada de automóvel ainda é devido a elle, ao esforço titanico desse homem previlegiado, ditosos aquelles que trabalham pelo bem do povo, conquistando um nome glorioso para si e para sua familia, porque são estes os verdadeiros nobres, a nobresa é mais de quem a conquista, do que de quem a herda.
Embora não esteja mais no zenith, mas sim pendendo para um ocaso glorioso, porque a velhice lhe bate as portas, a cidade de Patos muito tem delle a esperar, assim tivesse ella a esperar de muitos que encerrados no seu egoismo, não quiseram ou não souberam lhe ser util.
Diz-se por ahi que para amar a patria é preciso sentil-a no desterro; não, mil veses não; ha entes que como o Major Sesostris nunca comeram o pão amargo do exilio, e no emtanto o seu amor por este torrão, é extremado, e cresceu com o seu abandono; por isto é que as corôas com que a ingenua patria premeia o heroico desvanecimento de seus filhos, ennebriam como o succo das vinhas, sabem como o primeiro leite da vida e são como os primeiros beijos que nos perfumaram o berço.
* 1: José Rangel foi um dos homens de maior visão e mais organizado que já morou em Patos de Minas. Apesar do Major Sesostris ter construído a estrada e introduzido a primeira linha de transporte de passageiros, foi José Rangel que, adquirida a estrada, instituiu linhas regulares de jardineiras. É, merecidamente, reconhecido como o Pioneiro dos Transportes. O Terminal Rodoviário José Rangel é uma justa homenagem.
*2: José Rangel era revendedor de automóveis Chevrolet e Ford.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Fontes: Jornal Cidade de Patos, do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam; Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca; Patos de Minas: Capital do Milho, de Oliveira Mello; Logradouros Públicos de Patos de Minas, de Júlio César Resende.
* Foto: do livro Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca, batida pouco antes do embarque do Major e família com destino a Paris. Como o livro foi publicado em 1974, está registrado que a viagem aconteceu “no final do século passado”, que era o final dos anos 1800. Está bem caracterizado o costume da época em fotos de família: o “chefe” da casa e o filho (futuro chefe) sentados e esposa e filhas em pé ao lado.