AMADA & ODIADA BICICLETA: PROBLEMÁTICA SEM SOLUÇÃO

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AA bicicleta é um meio de transporte muito apreciado pelo patense. É certo que faz bem à saúde e também é certo que quanto mais a cidade cresce mais se complica o trânsito. Integrada a este como todos os outros tipos de automóveis, a bicicleta, no transcorrer dos tempos, tem sido amada e odiada ao mesmo tempo. O jornalista Murilo Corrêa da Costa escreveu no jornal Correio de Patos (19/01/1980): Ora, estou convencido de que quando defendo a necessidade de uma longa e bem feita campanha de educação de trânsito, e quando me declaro contra a indisciplina das bicicletas ou dos ciclistas em relação a todas as regras de trânsito, estou defendendo a vida de quem se utiliza do referido veículo porque do choque entre uma bicicleta e um veículo mais pesado a desvantagem é sempre do ciclista e quem está errado é, invariavelmente, o ciclista. As regras de trânsito são para todos incluindo os pedestres.

Pouco menos de nove meses (30 de outubro) após a publicação do artigo, Murilo escreveu na revista A Debulha: Nos últimos trinta dias duas pessoas perderam a vida em plena via pública e por desgraçada coincidência, ambas estavam montadas em bicicletas. Culpa delas? Não sei por que não estava presente e não vi mas, meus amigos, a sistemática inobservância das regras de trânsito por parte dos ciclistas somada à imprudência de muitos que dirigem carros resulta nas tragédias que estão ocorrendo a intervalos cada vez menores.

Em 31 de julho de 1981, na mesma A Debulha, o mesmo Murilo Corrêa da Costa tocou novamente no assunto: As bicicletas continuam trafegando sem observância de nenhuma regra de trânsito num desafio constante aos veículos mais pesados que, volta e meia, amassam um pobre ciclista que não é, necessariamente, um ciclista pobre. As calçadas não mais representam passagem segura para os pedestres porque lá também estão as bicicletas a ameaçar-lhes a integridade física. Certa vez um técnico de trânsito do DETRAN disse que as bicicletas constituem problema sem solução o que não é verdade porque nas cidades grandes os ciclistas andam direitinho de acordo com as regras porque, se não o fizerem, morrem sob as rodas dos carros e é exatamente isto que todos queremos que não aconteça. Patos está crescendo, o número de veículos pesados é sempre maior e, logicamente, o perigo aumenta na mesma proporção. As ciclovias seriam a solução? Acredito que o mais importante e certo seria a inclusão, nos currículos escolares, de instruções sobre trânsito. Do Pré-Primário à Faculdade.

Em 15 de junho de 1985, o mesmo Correio de Patos publicou a seguinte matéria: A reunião do Conselho Patense de Defesa da Comunidade discutiu, na noite de segunda-feira, a questão dos problemas causados pelos ciclistas em Patos de Minas. Segundo informação do Prefeito Arlindo Porto, existe em nossa cidade 50.000 bicicletas, e que é muito difícil uma forma de controle deste veículo. De acordo com Arlindo, a prefeitura tem recebido muitas queixas relacionadas com o abuso dos ciclistas no centro da cidade. Acrescentou que já foi encaminhado ao Departamento de Trânsito propostas para diminuir o índice de incidentes causados por bicicletas, mas que a polícia não encontrou ainda uma forma correta para solucionar o problema. O prefeito anotou os pedidos feitos por parte dos presentes, com relação à colocação de estacionamentos para bicicletas e motos, que estão absorvendo todos os espaços existentes no centro. Alguns dos presentes acharam que uma forte campanha de conscientização poderia resolver os abusos, e que a repreensão por parte da polícia também fortaleceria esta hipótese. A ideia, ainda em planos, para o prefeito, seria o emplacamento das bicicletas, prática que já foi utilizada com algum sucesso há uns tempos atrás, mas que, atualmente, devido ao grande número deste veículo, carece de maior planejamento e estudo. Vamos aguardar.

E em 19 de outubro o jornal reforçou o assunto: Desde segunda-feira o policiamento começou a orientar os ciclistas no sentido da observância das regras do trânsito. Custo a crer que vamos chegar mesmo a ter o prazer de ver as bicicletas sendo dirigidas corretamente sem os habituais desrespeitos às mais simples regras do trânsito. Obedecer a sinalização, não trafegar sobre as calçadas e coisas que tais. Receio seriamente que em face das inevitáveis reclamações, as autoridades sofrerão toda espécie de pressões de políticos interessados em cortejar os infratores que se contam aos milhares e que representam outros tantos votos. Para políticos inescrupulosos vai ser muito mais vantajoso ficar contra a lei do que a favor dela. Espero que os trabalhos de disciplinamento do trânsito decorram orientados por processos educados e com a indispensável serenidade. Com energia, também.

Em 18 de janeiro de 1986, no mesmo jornal, Oswaldo Amorim opinou: Quem quiser se deixar mistificar que se deixe, mas, em relação ao problema das bicicletas, a necessidade de ordem no trânsito não está em causa. A ordem é necessária e ninguém questiona isto. O que está em causa é a necessidade de se reorganizar o trânsito, também em função dos ciclistas, virtualmente marginalizados pelo atual sistema, criado em função apenas dos veículos automotores.

O tempo passou e com ele veio a mesma problemática. Já em 25 de setembro de 1993 o jornal Folha Patense publicou: Pela segunda vez foi adiada a reunião que iria tratar da regularização do trânsito de bicicletas em Patos de Minas… Com um número estimado de 40 mil bicicletas, Patos enfrenta problemas de trânsito por causa do desrespeito dos usuários às normas mais elementares. As infrações mais comuns são o tráfego pela contramão e o avanço aos sinais luminosos no centro da cidade. Mas é o trânsito sobre calçadas que mais colocam em risco a integridade física de idosos, gestantes e crianças.

E o tempo continuou sua interminável viagem e a bicicleta com sua interminável problemática. Em 11 de agosto de 2002, o jornal virtual Patos Hoje noticiou: O trânsito de Patos de Minas não oferece segurança para motoristas, condutores de motocicletas e principalmente para ciclistas. Na briga por espaço nas ruas e avenidas da cidade eles são os mais frágeis. Mesmo assim são os que menos respeitam a leis de trânsito. Os ciclistas trafegam pelas calçadas, na contramão de direção e não respeitam as paradas obrigatórias. Os acidentes são inevitáveis.

Em 17 de outubro de 2010 foi a vez do blog Noispedala opinar: Enquanto as grandes metrópoles no mundo têm resolvido seus problemas de trânsito reduzindo os espaços dos carros e privilegiando as bicicletas, aqui em Patos acontece o contrário. Mesmo sendo uma das poucas cidades brasileiras provida de ciclo faixas e ciclovias, a prefeitura, órgão responsável pela sinalização de trânsito da cidade, parece não se importar nem um pouco com a vida dos ciclistas.

De 2010 para cá, foram inúmeros os acidentes de trânsito envolvendo ciclistas e várias mortes. E tudo continua como dantes no quartel de Abrantes.

* Edição do texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Pt.clipartlogo.com, meramente ilustrativa.

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