O Onofre tem mesmo discernimento para enfrentar situações em que se exige raciocínio rápido. Essa é uma característica de praticamente todo bom negociante, como é o caso dele, dono de uma revendedora de carros que fica no centro. Num dia desses aí para trás, é claro, o Onofre vinha de sua fazenda localizada no Leal quando foi parado por um policial rodoviário na Avenida JK. Tudo foi conferido e tudo estava em ordem. Afinal de contas seria uma incoerência um sujeito que trabalha negociando carros estar sem a devida documentação do veículo. Mas, tinha um probleminha: como estava em período de chuva intensa, o carro estava todo enlameado e não se conseguia enxergar as placas do veículo, principalmente a traseira. Aquilo foi mais do que suficiente para o guarda justificar uma multa. Mas o Onofre não se conteve e aquele tal do discernimento logo lhe apontou uma solução que poderia dar resultado. Então ele perguntou:
– Uma cerveja resolve?
O policial se espantou com a ousadia do homem e já estava para lhe dar ordem de prisão, pois era um profissional sério, quando resolveu dar corda para caracterizar efetivamente o delito.
– Claro que resolve, meu amigo.
Satisfeito com a concordância do homem da lei, Onofre foi ao porta-malas e pegou uma garrafa de um engradado que tinha comprado num depósito de bebidas de um amigo localizado no Distrito Industrial. Na maciota, abriu a garrafa na frente do guarda, e, serenamente, começou a limpar as placas com o precioso líquido amarelo e um lenço. O policial, de boca aberta, ficou paralisado, só olhando. Terminado o serviço, as placas ficaram limpinhas, limpinhas. O Onofre então disse:
– E não é que a cerveja resolveu mesmo, seu guarda?
O Onofre entrou no carro e se mandou. Até hoje a multa não chegou! E até hoje o Onofre se recusa a dizer quem era o guarda. Diz apenas que de vez em quando eles se topam no trânsito e, lembrando a passagem, dão boas risadas.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.
