SAUDADES DAS SERESTAS PATENSES

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ATEXTO: JÔ DRUMOND (2014)

Na década de 60, na Rua Teófilo Otoni, via-se uma charmosa chácara, cortada pelo córrego do monjolo, com jardim florido, horta e pomar. Naquela chácara, vivi os melhores anos de minha juventude.

Lembro-me com saudades das serenatas, nos finais de semana. Às vezes, aconteciam duas ou três cantorias, em uma mesma noite, com diferentes seresteiros. Éramos cinco mocinhas casadoiras, à espera dos príncipes encantados. Aguardávamos ansiosamente as serestas dos finais de semana, que aconteciam sob nossas janelas. Terminada cada cantoria, a etiqueta mandava piscar a luz em agradecimento. Os galãs deixavam rosas vermelhas nos peitoris das janelas. Minha mãe esbravejava, no dia seguinte, pois as rosas romanticamente oferecidas eram arrancadas do seu roseiral. Em geral, os seresteiros apresentavam-se em grupo de três ou quatro e cantavam juntos, em plena madrugada, acompanhados por um violão. Nosso grande desafio era tentar descobrir para qual das cinco donzelas era cada serenata. Não havia frestas nas janelas. Quando não conseguíamos identificar as vozes, ficávamos disputando a seresta. Cada qual a queria para si. Era difícil descobrir a identidade dos galãs românticos. Eles preferiam manter o mistério.

Há pouco tempo voltei a Patos e desci a Teófilo Otoni, com o coração palpitante, ansiosa por rever ou reaver um pouco do passado. Desolada, constatei que não há mais casa, mina, pomar, nem jardim. Nossa chácara fora demolida, loteada e urbanizada. No antigo pomar, plantaram-se edifícios. Não restou ali nenhum traço do passado. O córrego é agora bordejado por larga avenida. A região tem nova face; a face do progresso. Novas ruas foram traçadas e construções erguem-se por toda parte; restaurantes e bares ruidosos pipocam na região. Em vez de doces serenatas, ouve-se música mecânica da pior qualidade, em alto volume, nos bares da região.

Felizmente, a chácara continua intacta em minha memória. Onde quer que eu vá, em minhas andanças mundo afora, ela estará sempre comigo; e as serenatas de antanho, sob as janelas de minha juventude, ressoam ainda em meus ouvidos.

* Fonte: Texto de Jô Drumond (Josina Nunes Drumond Caixeta), escritora patense radicada em Vitória (ES), publicado na edição de 06 de dezembro de 2014 do jornal Folha Patense.

* Foto: Violeirosdobrasil.com.

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