SAUDADES DE MARCOLINO E OLEGÁRIO

Postado por e arquivado em ARTIGOS.

TEXTO: JORNAL O PATENSE (1949)

Há mais de um quarto de século que vimos agarrados ao atascadeiro de nossos governantes na escalada da montanha de areia movediça de nosso progresso, através de uma marcha lenta e de mais santa e resignada paciência.

Assistimos o avanço vertiginoso de cidades vizinhas por estradas que se nos afiguravam mais tortuosas, mais repletas de empecilhos, mas que lhes foram de facil remoção, porquanto à vontade ferrea de seus filhos, prendendo-se élo a élo à vontade dinâmica de seus administradores públicos, impulsionaram-nas de tal modo que não sabemos como nos definir, em dados comparativos, de vez que sobram-nos elevados fatores preponderantes; sobrepujamo-nos em verbas orçamentárias duas a três vezes mais; superamo-nos, mais, em produções as mais ricas e de maiores valores; interpomo-nos na balança da carteira de exportação e fazemo-nos sentir no intercambio comercial, quando o imprevisto nos surpreende.

Militam ainda ao nosso lado o constante bafejo dos poderes públicos, estadual e federal, num estimulo crescente para a conquista de nosso próprio triunfo.

Só um fator, – e apontamo-lo num gesto de contribuição – nos trouxe arrostados e vem nos arrastando através dessa caminhada tão ingloria, de rumos tão adversos, já que nos sobram tantos elementos, tanta multiplicidade de causas de reais valores para o maior e melhor incremento progressivo de nossa cidade: é o fator Homem Público a Serviço da Causa Pública!

Encontramo-nos atamancados e presos ao marco daquela arrancada estupenda que assinalou Marcolino de Barros à testa de nosso município¹, e nem mais um passo à frente teriamos dado, se não fôra a ajuda, para nós enaltecedora, do Estado, pela mão filha e amiga de Olegário Maciel, dotando-nos com três prédios imponentes e majestosos², diriamos, se os houvessemos eternizado com a nossa gratidão, através de nossos administradores, com o asseio de nossas ruas, com o ajardinamento de nossas praças e avenidas, com o calçamento, com a proibição tácita de construções que destoam com a nossa valorização economica, enfim, determinando a proeficiência de nossos administradores.

Entretanto, atravessamos todo esse longo periodo de inatividades administrativas, estarrecidos ante a nossa própria grandeza, usurariamente conservamos intactos aqueles trofeus de nosso triunfo, nimbados pela auréola de glorias daqueles dois vultos insignes, estacionando-nos junto ao mausoléo das esperanças que ambos votaram à nossa terra.

Quando em 1947 fomos atropelados pelo advento de uma nova éra politica, alimentavamos esperanças de que horizontes mais claros e mais amplos nos seriam descortinados e que melhor norteados, uma ou outra estrada bem mais firme, bem mais segura nos seria apontada, para a reconquista do tempo perdido.

Vasamos, sabe Deus como, duas etapas sob a orientação do novel timoneiro de nosso município e confessamo-nos, hoje, ao término das mesmas – e o fazemos acanhadamente – que nos achamos naqueles mesmos marcos iniciadores de 1918 e 1928³.

A cidade é a mesma e os seus problemas são os mesmos daquelas épocas.

É que o atual administrador4 não teve a felicidade de acertar com o problema dos nossos problemas; com a estrada que levaria Patos de Minas ao mais alto pincaro de nossas aspirações: cuidando-a como merece; tratando-a como precisa, ninando-a pelas suas prendas; fazendo-lhe valer pelos seus dotes naturais e que ao proprio dever do administrador se impunham numa logica fluente de patense amigo de sua terra e de sua gente.

* 1: Marcolino de Barros foi um dos grandes propulsores do progresso de Patos de Minas. No seu governo houve uma verdadeira chacoalhada no Município: água canalizada, luz elétrica, telefone, Cadeia Pública (aquela que ainda está de pé, mas totalmente desprezada), Grupo Escolar de Patos (que depois recebeu o seu nome), remodelação de ruas com a construção dos primeiros passeios, construção de muitas pontes e escolas rurais, entre outras modernidades.

* 2: Citamos quatro: Escola Normal, Hospital Regional Antônio Dias, Grupo Escolar Marcolino de Barros e Fórum Olympio Borges.

* 3: A primeira gestão de Marcolino de Barros foi de 04/06/1912 a 31/12/1915. Deu sequência numa segunda gestão até 03/06/1918. A terceira e última gestão foi de 17/05/1927 a 02/12/1930, quando Getúlio Vargas assumiu o poder e Clarimundo José da Fonseca Sobrinho foi instalado como prefeito, ficando até 30/09/1945, com o fim do Estado Novo.

* 4: Vicente Pereira Guimarães.

* Fonte: Texto publicado o título “Patos de Ontem… Patos de Hoje…” na edição de 25 de dezembro de 1949 do jornal O Patense, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.

* Foto: Do livro Patrimônio de Santo Antônio – Do Sítio ao Templo, de Sebastião Cordeiro de Queiroz, publicada em 28/10/2016 com o título “Panorâmica no Final da Década de 1940 – 3”.

Compartilhe