TEXTO: JORNAL FOLHA DE PATOS (1942)
Sufocam-me em meio da enorme agitação da vida hodierna, o resfolegar de velhos sentimentos tradicionais, vividos pela lenda de cada região, chegando mesmo a amortecerem-me, nartotisados pela inconstância da humanidade.
Seres animados ou inanimados que em épocas bem distantes testemunharam episódios relativos à civilização de um povo e que a muitas gerações contaram os feitos, são, às vezes, massacrados e alojados no mais profundo dos esquecimentos.
Patos tem a sua história… seus costumes e a sua evolução de seu progresso tem fatos assinalados por acontecimentos marcantes!
Velhos, já octogenários, mas que têm a inteligência lúcida, mais presa ao passado que ao presente, contam casos dos tempos que já se foram: lendas belíssimas e cheias de romantismo relembram as velhas arvores que muitos e muitos anos viveram no largo da Matriz; a velha magnólia (ainda de pé) deixa escapar do sussurro de suas folhas um som doce que parece querer imitar os dobrados que em outros anos eram ouvidos em retreta domingueira; enfim as crendices sobre a arvore da Sinhana de Preto, o cemitério velho, os alegres e animados festejos carnavalescos de entrudo, limões de cheiro, tudo isto encerram uma história e miriades de lendas que contadas a uma pessoa de cerebro criador seriam por certo bem coordenadas aos fatos históricos e caprichosamente floreadas formando um livro de grande valor para as gerações vindouras, as quais não mais encontrarão veteranos para lhes satisfazer curiosidades.
Tivesse eu inteligência e capacidade para descrever sobre a chegada do primeiro auto, um ford alto, de pneus fransinos, businando e aos solavancos no meio do pasto, em contraste agora com o sereno deslise do avião que cortou os ares de nossa terra pela 1.ª vez! Surgirá por certo, dentre os patenses, u’a mão prodigiosa, guiada pela força do amor à terra e uma intensa e sadia boa vontade que ha de escrever a vida de nossa cidade, desde infância fagueira à beira da Lagoa dos Patos até a idade em que se acha, vivendo hum ambiente de progresso e harmonia recostados à margem do Paranaíba.
* Fonte: Texto assinado por “Fernanda” publicado na edição de 29 de março de 1942 do jornal Folha de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Mengardas.blogspot.com.