RUAS CONTAM A NOSSA HISTÓRIA, AS

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AATEXTO: DIRCEU DEOCLECIANO PACHECO (1984)

Nunca pude entender porque determinadas cidades brasileiras têm suas ruas, praças e demais logradouros públicos, designados por números ou letras, quando a utilização de nomes de pessoas, famílias, povos, profissões, cidades, estados, países ou coisas, permite não só a homenagem que se presta, mas acima de tudo, proporciona a fixação de um pouco da História.

Desta forma, em nossa querida Patos de Minas, quando se fala por exemplo, na Rua Silva Guerra fixa-se a pessoa do doador de uma gleba de terras que haveria de dar origem à cidade; a Rua Major Gote, nos lembra o pioneiro Major Sesóstris Dias Maciel, apelidado Gote, que trouxe para aqui, o primeiro automóvel¹ e o primeiro caminhão e construiu a estrada rodoviária ligando Patos a Catiara, a então “Porta para o mundo” do patense; a Rua Prefeito Camundinho, nos traz à memória a veneranda figura do Prefeito Clarimundo José da Fonseca Sobrinho, que governou a cidade durante quase quinze anos e muitos outros exemplos poderíamos citar ao longo de várias páginas desta revista.

Dentre eles, duas praças, pelos seus nomes nos lembram importantes lances de nossa História: a dos BOIADEIROS e a da DISTRIBUIDORA. A primeira, localizada no entroncamento das Ruas Olegário Maciel, Agenor Maciel e José de Santana e a segunda, onde até há bem pouco tempo se situava a estação rodoviária.

A Praça dos Boiadeiros, a nos lembrar o local onde os tropeiros e boiadeiros do passado acampavam ao chegarem de suas longas e cansativas viagens, à sombra de frondosa gameleira, que há muitos anos infelizmente não existe mais. A Praça da Distribuidora, onde se localizava a antiga estação distribuidora de energia elétrica que antecedeu a CEMIG e muito anterior à edificação da hoje abandonada estação rodoviária, em cuja parte fronteiriça, se instalavam os parques de diversões dos meus saudosos tempos de criança.

Entretanto, atendendo ao mesmo anseio de se prestar homenagens e de se escrever a nossa História, há alguns anos atrás, talvez inadvertidamente, tiveram elas seus nomes mudados respectivamente, para Abner Afonso de Castro² e Desembargador Frederico, político liberal, que foi presidente da Província.

Não tenho nada contra os respeitáveis cidadãos alvo da homenagem ao mesmo tempo em que a considero justa, mas neste ano em que nos batemos pela Preservação da Memória Patense, julguei oportuno lançar daqui a sugestão aos nossos Vereadores, no sentido de se dar os nomes dos ilustres homenageados a outros logradouros públicos ainda não identificados, restituindo-se às duas praças do centro da cidade, os seus nomes primitivos: PRAÇA DOS BOIADEIROS e PRAÇA DA DISTRIBUIDORA, para se resguardar a nossa História, enquanto ainda é tempo; enquanto grande parte da população que conviveu com aqueles nomes, ainda por aí está, a testemunhar os fatos.

* 1: Na verdade, não foi Sesostris Dias Maciel o responsável pela chegada do primeiro automóvel a Patos de Minas. Uma matéria publicada na edição de 12 de abril de 1942 do jornal Folha de Patos define a questão: “Um dia, já la se vão cerca de trinta anos, alguem aqui chegou, trazendo na mesa de um carro de bois, um Ford primitivo e bastante usado, com intuito de auferir lucros, alugando-o, simplesmente para corridas nas ruas largas da cidade. O Major Gotte, cofiou a sua barba, adquiriu o auto e, eminentemente prático, começou logo a construção da estrada em direção à Lagoa Formosa. Antes mesmo de terminar o trecho iniciado, rumava para Catiara” (Leia “Major Gotte: Figura Impressiva”).

* 2: A Lei n.º 911, de 1.º de junho de 1967, alterou o nome da Praça dos Boiadeiros para Praça Abner Afonso, sem o “de Castro”.

* Fonte: Texto publicado na edição n.º 90 de 30 de abril de 1984 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto (18/01/2014): Eitel Teixeira Dannemann – Placa de inauguração da Praça Abner Afonso em 14 de fevereiro de 1960.

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