SOBRADINHO, A RESUMIDA HISTÓRIA DE UM BAIRRO

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SOBRADINHOTEXTO: NEWTON FERREIRA DA SILVA MACIEL (2014)

Numerosos são aqueles que ignoram o significado de determinados logradouros de Patos de Minas. Em um exemplar de jornal de nossa cidade, alguns anos atrás li uma crônica elaborada por um jovem. Em seus escritos, como a censurar a importância da origem, observava-se o seu total desconhecimento sobre a denominação do bairro Sobradinho. Aliás, acredito que poucos patenses saibam a razão do nome deste bairro, confundido com frequência com o bairro Guanabara. Quando tive oportunidade expliquei-lhe a razão de tal denominação, pois na realidade era a única referência para o local. Havia um pequeno sobrado nesta região, um pouco afastado do centro da cidade. Interessante comentar sobre esta edificação uma vez que sua origem é proveniente do vocábulo latino superatu, a qual exprime “que está por cima”. A expressão sobradinho, diminutivo de sobrado, hoje praticamente não usada, tem o sentido de “andar de um edifício acima do térreo”, segundo o dicionário Houaiss. Por coincidência, tenho em minhas mãos um artigo escrito pelo senhor Laurindo Borges no jornal Folha Diocesana, editado em 24 de maio de 1984, justamente comentando sobre este acanhado prédio de indiscutível história, pois o autor afirma ser o mesmo construído quando Patos era Vila, ou seja, anterior a 1892. O sobradinho foi, na realidade, a primeira construção da região que teve dois pavimentos. Veja ilustre leitor como é ignorado, sob o aspecto histórico, às vezes, aquilo que nos parece banal.

Baseado nas informações contidas no mencionado jornal passamos a conhecer até o nome da pessoa que construiu o sobrado nos últimos anos do século XIX: Antônio Theodoro de Mendonça. Diversas famílias, através dos tempos, lá residiram. Quando criança gostava de jogar futebol. Naquela época improvisávamos muitos locais para esta diversão e sempre perguntávamos – em que local? Um dos nossos preferidos era o campo de futebol, situado em frente ao sobradinho. Gostávamos de praticar ali o nosso esporte preferido, uma vez que o terreno era plano, tinha áreas gramadas e a presença de sua moradora muito gentil, Dona Aurora. Quando estávamos sedentos éramos socorridos pela prestativa proprietária com a finalidade de beber a água fresca de seu pote de barro.

Curioso, sabendo que no sobradinho que pertenceu a meu avô materno e família, inclusive minha mãe quando era criança, pedi licença à Dona Aurora para entrar no prédio e conhecê-lo mais aprofundadamente. Posso descrever os seguintes detalhes, não obstante minha memória retrógrada não esteja muito eficiente: internamente, no andar térreo existia a sala, e logo após a cozinha, no lado direito e um banheiro, do lado esquerdo, próximo à simples escada de madeira que alcançava o piso superior. Na parte elevada encontravam-se três quartos. Nada mais. O pequeno prédio era pintado com a cor amarela. Nos fundos um quintal com árvores frutíferas descrito pelo cronista citado como “laranjeiras, mangueiras, abacateiros, jabuticabeiras e outras árvores”. O acesso mais prático, usado pelos poucos moradores e pelos interessados era a passagem por um beco chamado “biquinha”. Nas proximidades havia um pequeno córrego que era ultrapassado apenas por uma estreita pinguela.

Para os leitores mais novos, que talvez não conheçam o termo, gostaria de explicar que “pinguela” significa uma espécie de ponte, construída por poucos troncos de árvore ou tábuas. No caso do córrego mencionado no início desta crônica posso garantir que se tratava de apenas um caibro de 30 centímetros, mais ou menos, de largura…

Após narrar sobre a origem da denominação do bairro e as minúcias da pequena construção, passarei, agora, a descrever o modo como o bairro denominado Guanabara foi bipartido e surgiu, em consequência, o bairro Sobradinho. Segundo fui informado por uma antiga residente houve a intenção da criação de um bairro com o nome de sobradinho por motivo puramente histórico. Após solicitação ao vereador José Caixeta Magalhães, solicitou o mesmo que se fizesse um abaixo assinado entre os moradores. A exigência foi cumprida e fez o edil um projeto de lei com tal objetivo. Posteriormente, preenchidas as exigências legais houve a aprovação do projeto pelos vereadores sendo o mesmo sancionado pelo prefeito. Os limites do bairro, hoje um dos mais valorizados da cidade, segundo o mapa oficial são os seguintes: ao norte a Avenida Araguaia; a leste Avenida Paracatu e Padre Almir e o restante Avenida Padre Almir até o encontro com a Araguaia.

NOTA: A primeira definição do perímetro e dos logradouros do Bairro Sobradinho se deu pela Lei n.º 2926, sancionada pelo Prefeito Antônio da Vale Ramos em 30 de janeiro de 1992. Em 14 de maio de 1997, através da Lei n.º 4388, o Prefeito Elmiro Alves do Nascimento redefiniu o perímetro e os logradouros pertencentes ao bairro.

* Foto: Panorâmica na década de 1990 onde aparece o Bairro Sobradinho, na parte inferior. Do arquivo de Donaldo Amaro Teixeira.

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