Ronaldo Rocha, nosso dileto amigo de muitos e muitos anos, sempre gostou de tomar uma cana. Inclusive, já levantamos, juntos, vários copos de várias marcas.
Certa vez, o Ronaldo ficou meio adoentado. Foi ao médico, Dr. João Carlos Guedes, que lhe deu um regime violento: parar de tomar aguardente.
Aquilo foi um transtorno. Chegamos até a procurar o médico, porque o problema estava nos prejudicando também: tínhamos que tomar a nossa dose normal e a dele.
Mas o Ronaldo ficou triste e revoltado apenas uns quinze dias. Voltou logo, logo, a ser o que sempre foi e todo mundo achando que a bebida estava mesmo afetando-o. Mas a verdadeira história era que ele estava tomando às escondidas.
Sabe aquele cômodo que fica debaixo da caixa d’água no fundo do quintal? Foi lá mesmo que ele escondeu um garrafão de cinco litros de pinga, da boa.
Numa noite daquelas, quando a família estava reunida para assistir a uma novela na televisão, o Ronaldo resolveu, como se não quisesse nada de nada, dar uma “firmada na moral”, ou seja, tomar uma golada.
Discretamente, levantou-se e foi para o quintal, ver como estava o tempo; olhou para todos os lados, certificando-se de que não havia olheiro e abriu a porta do cômodo, onde estava o santo garrafão.
Levantou-o com cuidado e, como não havia copo, tomava pelo gargalo mesmo.
Nesse exato momento, chega a esposa por trás, dizendo:
– O que é isso, Ronaldo?
E ele, tendo levado um grande susto, mas sendo um pessedista dos antigos, sabe como ninguém administrar um problema. Deixando cair um pouco de aguardente em seu pijama, disse:
– Estava só cheirando!
* Publicado em “Patos de Minas – Histórias que até parecem estórias…”, de Donaldo Amaro Teixeira e Manoel Mendes do Nascimento (1993). Ilustração de Ercília Fagundes Moura.