Vaguinho, um dos diretores da Cresa, antiga Casa das Representações, em 1987, comprou um carro do Pompéia.
Passaram-se alguns meses e o vendedor achou a chave duplicata do carro. Como não encontrou o Vaguinho, entregou-a ao seu irmão, Dílson.
Todos os dias, Vaguinho ia de carro para o trabalho. Não havia um lugar determinado onde colocar o carro por ali. Mas era, geralmente, mais distante da sua loja comercial. Ao certo, para facilitar uma caminhada maior.
Seu irmão, então, só esperava o Vaguinho abrir as portas da loja e entrar no estabelecimento, para dar início à aventura. Como ele estava com a duplicata da chave, ligava e movimentava o veículo para trás ou para frente, uma média de cinco metros. Com o passar dos dias, ia até dez metros.
O Vaguinho começou a preocupar-se com aquilo. No princípio, achava que, de fato, o local em que havia deixado o carro era aquele mesmo. Porém, alguns dias depois, concluiu que algo não estava andando certo: ou ele ou o carro.
A esposa sentiu que o marido andava meio preocupado. De cabeça baixa o dia inteiro, sem dar conversa alguma em casa. E ela, achando que, às vezes, poderia ser coisa séria, resolveu interrogá-lo.
– Estou preocupada com você. O que está acontecendo?
Ele assustou com a pergunta, tentou desconversar, mas acabou confessando para a esposa o que estava acontecendo com seu carro.
– Inclusive, hoje de manhã, quando cheguei, marquei o lugar certinho com um giz. Quando voltei, a marca do giz estava no mesmo lugar e o carro não.
A esposa procurou a família, detalhou o fato para o pai e irmãos, achando que ele poderia estar passando por um período de descontrole emocional. E nesta conversa chegou até a marcar consulta com o médico da família. Quem sabe, tivesse mesmo de levá-lo para Belo Horizonte ou São Paulo?
E quando o problema estava no auge da discussão, o Dílson levanta-se, entrega a chave para o pai, e diz, sem comentário:
– Esta chave é a duplicata da chave do carro do Vaguinho…
* Publicado em “Patos de Minas – Histórias que até parecem estórias…”, de Donaldo Amaro Teixeira e Manoel Mendes do Nascimento (1993).
* Foto: Somaacessorios.com.br.