Um pecuarista patense muito conhecido com fazenda lá pras bandas do Pilar resolveu levar a esposa num daqueles restaurantes que servem comida a quilo somente no almoço. O sujeito, mais marrento que jogador de futebol depois que pega um pouquinho só de fama e tipo daqueles que considera o seu rebanho o melhor do mundo, acredita que levar a esposa para jantar num restaurante de comida a quilo é o máximo da polidez amorosa. Mas, mal informado das coisas da cidade, não sabia que à noite era na base do cardápio.
Chegaram, se acomodaram e na pose característica de rei do gado, o homem pediu uma cerveja e disse que depois jantariam. Então, os garçons ficaram esperando o chamado. Acontece que a mulher, que também desconhecia o que era à la carte, estava com uma fome tremenda e não queria esperar o maridão sorver a bebida. Como dizia para as amigas, “as tripas grossas já estavam comendo as finas”. Deu uma espiada no balcão self service e, perspicaz que era, reparou na ausência de pratos e talheres. Então comentou com o marido. Ele, muito educado com um chapelão de sertanejo universitário atolado na cabeça, disse:
– Peça ao garçom, pô.
Ela retrucou:
– Mas tá tudo tampado e parece desligado.
Ele relinchou:
– Tem dó, muié, vai logo.
Os garçons conseguiram entender algumas daquelas palavras delicadas, mas não a totalidade. Por isso estranharam quando a mulher solicitou um prato. O garçom trouxe o prato acompanhado de um garfo e uma faca, já pronto para perguntar à mulher se queria escolher a comida. Ela, varada de fome, se virou com rapidez e foi se servir. Levantou tampa por tampa, sem encontrar alimento algum. De lá mesmo gritou pro fazendeiro:
– Marido, este restaurante não tem comida!
O que aconteceu depois desta pergunta? Ora, o fazendeiro se levantou e foi até o caixa, pagou a cerveja e saiu com a mulher resmungando:
– Onde já se viu, já são oito horas da noite e a boia ainda não está pronta. Vamos muié, vamos lá pra Rua da Fome.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.
