(Antes de mais nada, A DEBULHA quer registrar uma vez mais, os seus cumprimentos à firma Braz Silva S.A. Comércio e Indústria, da qual o senhor é Diretor Presidente, que completou 25 anos de atividades, no último dia 26, desejando-lhes muito sucesso e muitas vitórias, nos anos vindouros).
Filho de Braz Soares dos Santos e D. Benevenuta Caliméria de Oliveira, Anávio Braz de Queiroz nasceu em Guarda-Mor (então município de Paracatu), aos 5 de julho de 1919. Fez três anos do antigo curso primário, lá mesmo, em Guarda-Mor, concluindo o referido curso em Carmo do Paranaíba (para onde se mudou com a família, aos 13 anos de idade) e estudou mais dois anos em um colégio que o professor Aguinaldo de Magalhães Alves, mantinha naquela cidade. Casou-se em 1947, com D. Madalena Bicalho de Queiroz, com quem tem quatro filhos: Hamilton de Queiroz Bicalho (Empresário), casado com D. Sônia de Queiroz Alves; Dr. Tarciso de Queiroz Bicalho (Engenheiro Civil), casado com D. Maria Cristina Marques Bicalho; Dr. Lisandro de Queiroz Bicalho (Engenheiro Civil), casado com D. Regina Coeli Montondon Bicalho e Dr. Paulo de Tarso Queiroz Bicalho, também Engenheiro Civil, solteiro. Tem três netos.
Como e quando, o senhor começou sua luta pela vida?
Quando fomos para Carmo do Paranaíba, com 13 anos, comecei a trabalhar como empregado, em um estabelecimento comercial que pertencia ao Sr. Leopoldo de Oliveira Gondim. Trabalhava de dia e estudava de noite. Passei depois a trabalhar com caminhão de transporte, viajando para Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e especialmente para Catiara, que “era a porta de saída” de quase toda a mercadoria da região.
Quando o senhor veio para Patos?
Em 1945 e 46, morei aqui, como um dos componentes da Empresa de Transportes Batista e depois retornei para Carmo, levando comigo a idéia e o desejo de um dia retornar a Patos.
Retornando a Carmo, qual foi a sua atividade?
Juntamente com meus irmãos e meu cunhado João Batista da Silva, assumimos a concessão da General Motors (Chevrolet), em 1946.
Como se deu o seu retorno a Patos?
Em 1958, a firma Sebastião Alves e Irmão, concessionário da General Motors, aqui em Patos, foi posta à venda e eu não perdi a oportunidade de realizar meu sonho de retornar a Patos, adquirindo-a e assumindo sua direção.
O grupo que adquiriu a firma era o mesmo de Carmo do Paranaíba?
Naquela época, a firma era composta por mim, por dois irmãos meus, um sobrinho e o meu cunhado João Batista da Silva; foi quando criamos a firma Braz Silva S.A. Comércio e Indústria, que completou 25 anos de atividades dia 26 de março.
Onde a Braz Silva se estabeleceu?
Ficamos lá mesmo, onde era a Sebastião Alves e Irmão, onde hoje estão o “Paraíso da Borracha” e a Lanchonete “Tabu” e ficamos lá durante 10 anos, até construirmos este prédio aqui (esquina de Major Gote com Paranaíba) e nos transferimos.
Como se compõe a atual diretoria da firma?
Somos quatro diretores. Eu sou o Diretor Presidente, e os demais Manoel Furtado de Oliveira, que é meu irmão, Alderico Rodrigues Mendes e Hamilton de Queiroz Bicalho (meu filho) são Diretores Comerciais. Devo entretanto, destacar que aqui, somos um todo. Formamos uma equipe onde todos trabalham e são unidos, sem distinção para nenhum. Nossos empregados são tratados como companheiros de trabalho, não existindo diferença entre patrões e empregados. Nossa equipe de trabalho é excelente. Considerando o padrão de Patos, de um modo geral, todo nosso pessoal é relativamente bem remunerado e se temos alcançado algum sucesso é graças ao trabalho coletivo.
Sabemos que a atividade de vocês são várias. Depois da concessão da Chevrolet, o que veio?
Quando adquirimos a concessionária lá em cima, éramos concessionário também da Atlantic com o posto na esquina da Major Gote com José de Santana e em 1968, quando passamos para cá e construímos o posto em frente a este prédio, passamos a representantes da SHELL. Naquela mesma época, construímos também as dependências da oficina, ao lado do posto de gasolina e abrimos a retífica.
Atualmente, não existem outras atividades da firma?
Sim. Somos também representantes da Bosch, há seis anos aproximadamente, com instalações na Avenida Brasil e partimos também para o ramo da construção civil. Nossa atividade central, entretanto, é a revenda Chevrolet e Shell.
Há quantos anos vocês estão no ramo de construção? A firma é a mesma?
Há quatro anos mais ou menos começamos no setor de construção, entretanto, a firma não é a mesma. Ela é totalmente separada, embora sejamos os mesmos sócios. É a Construtora Braz Silva Ltda.
Quantos prédios já foram edificados pela Construtora Braz Silva?
Construímos o Edifício “Braz Silva”, de três andares com lojas e salas, na Rua Major Gote, em frente ao local onde iniciamos nossas atividades; o Edifício “Dom José Coimbra”, também com três andares e lojas e salas, na Rua José de Santana, entre Major Gote e Getúlio Vargas e estamos concluindo agora, o Edifício “Boa Vista”, com três andares, de apartamentos, na Rua Patrocínio ao lado da Coca-Cola. Nestes dias, vamos iniciar um novo conjunto, ao lado dele.
E o edifício da Praça do Mercado?
Aquele é construído por uma outra firma, da qual eu faço parte com outros sócios: é a Construtora Marcado, onde sou sócio com o Dr. Antônio Alves (Engenheiro Civil), Adílson Ferreira Viana, Dr. João Carlos Cisneiros Guedes Andrade (Médico) e com o Sr. João Gustavo. É um edifício misto, com lojas e apartamentos, sendo que uma de suas partes já está concluída. Sua galeria terá três entradas: uma pela Praça do Mercado, outra pela Rua Padre Caldeira e outra pela Rua Agenor Maciel.
O senhor teve participação na construção de outros edifícios?
O Edifício “Niterói”, também com três andares, com lojas no térreo e seis apartamentos nos outros dois na esquina das ruas Tiradentes e General Osório, foi construído individualmente, juntamente com o Tarciso meu filho e o Adilson Viana. Há também o Edifício “Hatalipa”, cujo nome foi formado pelas duas letras iniciais dos nomes de meus quatro filhos, com três andares de apartamentos, (onde resido), na Rua José de Santana, entre Major Gote e Juca Mandu, foi construído por mim.
Há outras construções das quais o senhor participou?
Sim, este prédio da firma, cujo térreo ocupamos e onde existem dois andares de apartamentos e logo que chegamos, construímos quatro casas residenciais na Rua Cônego Getúlio.
Aproximadamente quantos apartamentos e quantas salas compõem estas edificações?
Mais ou menos uns 20 apartamentos e 80 salas.
Aproximadamente quantas pessoas são empregadas nestas três firmas das quais o senhor faz parte?
Aproximadamente umas duzentas.
Qual tem sido sua participação nos movimentos da comunidade?
Sou membro fundador do Lions Clube Centro e fui seu primeiro presidente e como tal, fui também um dos fundadores do Conselho Patense de Defesa da Comunidade. Sou sócio da Associação Comercial e Industrial de Patos de Minas, da qual fui presidente duas vezes. Foi durante minha administração que a Associação adquiriu sua sala no Edifício Antônio Maia, em sociedade com o Lions. Eu sentia a grande necessidade de um auditório de porte médio para Patos e me bati pela aquisição daquela sala, que tem sido de tanta utilidade para a comunidade. Fiz uma campanha de arrecadação de fundos e acabamos comprando a sala. Realizei o negócio, assinei promissórias, avalizei, endossei tudo e paguei também, muita coisa de meu bolso. Fui membro da Fundação Educacional de Patos de Minas, inclusive junto com o Dr. Dirceu, quando enfrentamos uma luta enorme para a instalação da Faculdade de Filosofia. Geralmente somos solicitados a colaborar em quase todos os movimentos e nunca negamos nossa colaboração.
O senhor já recebeu o título de cidadão honorário?
É uma coisa até interessante. Há muitos anos por proposta do então Vereador Prof. José Paschoal Borges de Andrade, a Câmara me concedeu este título e eu tenho em casa o ofício da comunicação, mas até hoje não o recebi, porque não me julguei em condições de recebê-lo. Não achei que se justificasse aquela honraria e depois, o tempo foi passando. Sei que o senhor Aduvaldo Ramos e o Nute, estão na mesma condição.
Com toda a sinceridade que o caracteriza, responda por favor: como o senhor vê o título de “Cidadão Patense”?
Para ser sincero mesmo, acho que ele não deve ser dado a qualquer um. Penso que para alguém merecer um título destes ele tem que fazer jus.
E poucos anos atrás, depois de tudo o que o senhor já havia feito, considerou-se indigno dele?
Achei que não era a hora. Fiz um julgamento do que eu havia feito e achei que minha bagagem não era suficiente. Posso até ser mal interpretado, mas acho isto uma coisa muito séria. Por exemplo: procurei influenciar muito para que o Mário Andreazza e o Elizeu Resende, recebessem aquele título e muita gente dizia que era um absurdo. Ora, naquela época, não tínhamos nem um palmo de asfalto e não vamos dizer que conseguimos todas estas rodovias asfaltadas por causa do título que lhes foi dado, mas tenho certeza de que isto ajudou.
As firmas das quais o senhor faz parte têm algum plano em vista?
Todos sabem que o país está vivendo dias difíceis. Assim, estamos esperando para fazer novos planos, principalmente na construção civil, pois é quase impossível vender-se um apartamento, uma loja ou uma sala sem financiamento e hoje, com juros altos como estão, não está fácil de se realizarem negócios. Atualmente o ramo não é animador.
Qual a média de veículos vendidos por mês pela Braz Silva?
Há uns dois anos atrás, chegávamos a vender de 30 a 40 veículos por mês. No ano passado, vendemos 20 em média e este ano acreditamos que deverá cair para uns 18.
Quantos litros de combustível em média, são vendidos por mês?
Uma média de 180 a 200 mil litros, sendo que hoje, a venda de álcool, já atinge uns 60 mil litros, pois esta venda está crescendo muito.
A venda de carro a álcool tem crescido muito?
Hoje, a procura de carro a álcool está em torno de 80%.
Como o senhor viu os incentivos dados aos motoristas de táxi, para aquisição de carros novos?
Isto foi uma maravilha, pois atualmente, quase nenhum motorista tinha condições de adquirir um carro novo e o sistema de táxi no Brasil, iria acabar entrando em falência. Houve um incentivo que reduziu o preço do carro em mais de 40% e quase todos eles, trocaram seus carros.
Como concessionário, o senhor conhece alguma coisa sobre a possibilidade de se concederem os mesmos incentivos ao produtor rural?
Várias pessoas já me perguntaram isto, mas ainda não vi qualquer referência a isto, em lugar nenhum.
Como o senhor vê um processo de industrialização para Patos?
Acho as possibilidades muito restritas, entretanto, para aproveitamento de nossos produtos agropecuários, já se torna viável, pois temos a matéria prima, energia elétrica de sobra e temos o principal, que é o mercado consumidor. Inclusive, ouvi dizer que estão instalando no Areado, uma fábrica de um queijo especial e isto por exemplo, tem muitas possibilidades.
Fale sobre a nova Administração Municipal e qual é a sua expectativa?
Conheço o Arlindo há muitos anos, como companheiro de Lions. Trata-se de uma pessoa extraordinária; muito capacitado e organizado sendo uma esperança muito grande para Patos. Penso que um bom administrador é aquele que sabe escolher a sua equipe de trabalho e ele escolheu muito bem. Sua escolha foi muito feliz e ele está com uma equipe muito boa. Acredito que ele vai fazer um bom governo.
O que deve merecer prioridade da Administração Municipal?
Creio que as faculdades e as escolas de um modo geral. Sou testemunha de que o Arlindo trabalhou demais pela implantação da Escola Agrícola e acredito que ele vai lutar muito neste setor.
Por que o “Tio Anávio”?
Lá em Carmo, eu tinha sobrinhos mais ou menos de minha idade e que me chamava de tio. Os outros meninos foram se acostumando com aquele tratamento e hoje, tanto lá como aqui, quase todo mundo me chama por “Tio Anávio”.
Qual a melhor experiência de sua vida?
O que eu acho mais importante é a pessoas estar satisfeita com o seu trabalho e com o que tem. Eu me considero satisfeito com o que obtivemos, porque foi a recompensa de nossa luta e nós lutamos muito.
Sabemos que há quase um ano, a Braz Silva adquiriu o imóvel onde está localizado o “Teatro Telhado”, que pertence ao Centro de Estudos Teatrais, e até hoje ele não foi desativado. Por quê?
Quem deveria responder isto, era você, João Marcos. Quando adquirimos o terreno, eu disse para você, que o teatro poderia permanecer ali até dezembro de 1982. Antes de vencer aquele prazo, você me procurou e eu disse que vocês poderiam permanecer lá sem nenhum ônus até quando precisássemos do terreno, aliás, como havia feito seu pai e depois vocês. Esta é uma forma de contribuirmos com a cultura e a arte de nossa gente e com o ideal de quem luta por ela.
Qual o seu ponto de vista a respeito da nova diretoria da Associação Comercial?
Inclusive, faço parte da diretoria. Achei ótima a escolha do Roberto, da Fertipatos, para Presidente. Ele é um rapaz novo, idealista, tem demonstrado muita capacidade de trabalho e acho que é uma grande esperança para a Associação. Havia realmente, necessidade de sangue novo ali.
O que mais o senhor tem a dizer?
O que quero deixar muito claro é que seja ressaltado que aqui, todos trabalham em igualdade de condições e somos todos iguais. Finalmente, agradecer a A DEBULHA, por esta atenção.
* Fonte e fotos: Texto de Dirceu Deocleciano Pacheco e João Marcos Pacheco publicado na coluna “Os Que Fazem Nossa Terra” da edição n.º 67 de 21 de abril de 1983 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de História do Unipam.