Filho de José Maia do Amaral e D.ª Celina Francisca de Souza, nasceu em Biquinha (MG), aos 11 de novembro de 1940. É casado com D.ª Rosângela Queiroz de Melo Maia e tem três filhos: Fabrício, Micheline e Fabíola, com 13, 8 e 5 anos respectivamente. Fez apenas o curso primário, em Canastrão, no município de Tiros, partindo aos 11 anos para o trabalho.
Qual foi o seu primeiro trabalho?
Em 1952, tínhamos um movimento de depósito de creme de leite, que era um trabalho duro, pois buscávamos o leite em animais e posteriormente transportávamos o creme para São Gotardo, onde o entregávamos à Santa Matilde.
Quando você veio para Patos?
Aqui chegamos em 24 de maio de 1955, quando eu tinha 14 anos.
Houve algum fato especial em que os motivasse a vir para Patos?
Lamentavelmente, houve uma motivação pelo menos parcial, que foi o aspecto político. Naquela época em que a política era praticamente uma guerra, nas pequenas localidades, minha família participava dela ativamente, no município de Tiros, e após uma eleição muito disputada, toda a nossa família houve por bem se mudar e eu fui o primeiro a sugerir a vinda para Patos, da qual eu já ouvira falar muito. Uns seis meses antes de nós, havia vindo o Tio Cota (Antônio Maia do Amaral).
Qual foi a sua primeira atividade aqui?
Iniciamos com uma pequena mercearia na Rua Duque de Caxias, 49 (na casa do Sr. Bichano). Em 1956 meu pai passou para um sítio, nas imediações das atuais instalações do Tiro de Guerra, ficando eu e meu mano Zander, na mercearia, onde permanecemos até 1962, quando em companhia de nosso primo Edgardo Maia, fundamos o Armazém Souza e Maia Ltda., na Rua Silva Guerra, 177 (esquina com D. Luiza). Naquela época eu tinha apenas 21 anos de idade e o Edgardo, 16 e tivemos a felicidade de implantar alguma coisa nova em termos de comércio atacadista, fazendo um movimento muito bom com comércio e transporte, levando cereais para São Paulo e trazendo mercadorias para o consumo da região. Em 1968, eu me afastei do armazém, para junto com o Dr. Aldo Lino Silva, constituirmos a Sociedade Construtora Paranaíba, onde ficamos até 1973.
Quais foram as obras construídas pela Construtora Paranaíba, enquanto você fez parte dela?
Construímos as casas populares da COHAB, no Bairro Abner Afonso, com 414 unidades que foi na época, o maior conjunto residencial de Minas Gerais e construído em prazo recorde de dez meses. Executamos várias obras para a CARPE (grupos escolares), para a CASEMG (armazéns e silos) e postos de gasolina, aqui, em Paracatu, João Pinheiro, Unaí e Carmo do Paranaíba. Aqui, construímos o prédio das Casas Pernambucanas, à Rua Major Gote; o Edifício “Antônio Maia”, à Rua Olegário Maciel; o Edifício “Silvio Maia”, à Av. Getúlio Vargas, em frente à Prefeitura, além de diversas casas residenciais. Depois quando deixei a firma, continuei construindo particularmente.
Quantas casas residenciais você já construiu como sócio da firma e individualmente?
Parece que vinte e oito.
Quantos apartamentos e quantas salas compõem os prédios de cujas edificações você participou?
São 42 lojas e salas e 23 apartamentos.
Quando você deixou a Construtora Paranaíba e qual foi sua atividade seguinte?
De 1973 a 74 construímos o edifício do Hotel Líder e concluída sua construção, deixei a construtora em 1975, para juntamente com os irmãos Edmundo e Boaventura Magalhães, constituirmos a Empresa Hotel Líder Ltda.
Quantos apartamentos tem o Hotel Líder?
São 30 apartamentos e duas suítes. Para a época de sua construção era um hotel de grande porte, que hoje já se torna pequeno. É um hotel de duas estrelas.
Você tem algum plano em relação ao hotel?
Temos o projeto e cálculo para construção de um prédio de oito andares e construímos apenas quatro (garagem e mais três) e durante este ano, apesar da crise, devemos fazemos uma de duas opções: ou construímos os outros quatro pavimentos do atual prédio elevando-os para 90 apartamentos ou então, partiremos para a construção de um novo hotel, de um gabarito bem melhor, em um terreno que adquirimos para esta finalidade, na Rua Major Gote, 1111, onde hoje funciona o Núcleo Micro-Regional de Emprego e que se comunica com outro terreno de fundo, com frente para a Rua José Reis, perfazendo um total de 3 mil metros quadrados. Temos um projeto já elaborado e uma carta de consulta na EMBRATUR, mas o projeto é um pouco arrojado para esta época de tantas dificuldades financeiras. Seria um hotel muito melhor do que o atual, com 110 apartamentos, onde poderíamos centralizar as decisões da região, pois teríamos ali, um salão para reuniões (um centro de convenções) e garagem para 200 veículos. Se houver o apoio do empresariado patense, acredito que poderemos construí-lo, talvez com o ingresso de outros elementos na firma, que deveria ser uma S.A. com a participação do empresariado patense. Digo até que não seria um projeto para se pensar em ganhar dinheiro, mas sim, um projeto de mais alto alcance para o desenvolvimento de Patos de minas.
Qual seria a categoria do novo hotel?
Se concluirmos a construção do atual, deveremos passar para três estrelas, mas teremos o problema de garagem, porém, se partimos para a nova construção, deveremos passar para três ou quatro estrelas. Não há interesse, no interior, em ultrapassar a três estrelas, porque o fluxo de ocupantes é composto de dois terços de pessoas que não aceitam, nem têm condições de ocupar hotéis acima de três estrelas.
Quantos hóspedes o Hotel Líder recebe por mês?
Mais ou menos mil.
Depois do Hotel Líder, o que é que veio?
Estive durante um curto espaço de tempo trabalhando com imóveis, que é um ramo de que eu gosto muito. Foi quando surgiu a FIAT, em 1976, com a possibilidade de participarmos como concessionário dela, aqui em Patos.
Como foi constituída a firma?
Surgiu então a COPAVE (Comercial Patense de Veículos S.A.) constituída por mim, através de meu amigo Dr. Adolfo Neves Martins da Costa, que era o primeiro Presidente da FIAT Automóveis, e que havia sido Presidente da Associação Comercial de Minas Gerais, quando eu presidia a nossa Associação. Entraram então, os componentes da firma Santiago e Cia. Ltda. (Artemis): Aldivino de Souza, Gerson Gomes Carneiro, Carlos Santiago Amparatto e Adão Joaquim de Souza que eram proprietários deste terreno, com 6 mil metros quadrados, fazendo frente para as ruas Major Gote, Rui Barbosa e Amazonas; familiares do senhor Anávio Braz de Queiroz e de outros componentes da Braz Silva e ainda meu primo Edgardo Maia, o Arlindo Porto neto e seu irmão Hamilton Francisco Porto. Posteriormente, os familiares do Grupo Braz Silva se desligaram da firma. Éramos dez sócios.
Como se compõe a atual diretoria da COPAVE?
Presidente, Aldivino de Souza (Nute); Vice, Edgardo Maia do Amaral Gontijo; Diretor Comercial, José de Souza Maia; Diretor Financeiro, Arlindo Porto Neto; Diretor Gerente, Hamilton Francisco Porto.
Quais as características da firma e de suas instalações?
A COPAVE é constituída hoje de dez sócios; tem um capital registrado de 130 milhões de cruzeiros; ocupa uma área de 6 mil metros quadrados de terreno, com 2.130 metros quadrados de construção.
Quantos veículos, em média, vocês estão entregando por mês?
Para surpresa nossa o mercado em 83, vem recebendo uma boa reação. Esperávamos ficar numa faixa de 20 veículos/mês e estamos vendendo mais de 40 veículos/mês. Temos tido a felicidade de alcançar o maior índice de participação do Brasil, onde existem as quatro marcas, ou seja, de cada 10 veículos vendidos em Patos, 3,5 a 4 são FIAT e este é o maior índice percentual de participação de mercado em todo o país, o que nos deixa muito felizes. Por diversas vezes já ganhamos este prêmio e ontem (03/05) estivemos em Belo Horizonte, participando do lançamento de mais um veículo e fui informado de que novamente, ganhamos os prêmios de abril. Somos inclusive o primeiro lugar de vendas (aí já não é percentual) do interior de Minas Gerais. Vendemos mais do que Uberlândia, Juiz de Fora, Divinópolis, Governador Valadares, Poços de Caldas e outras cidades maiores. Isto nos envaidece, por mais humildes que sejamos.
Qual tem sido a percentagem de carros a álcool vendidos?
É surpreendente, chega a 90%
Você tem ainda outras atividades na cidade?
Estamos construindo, eu e o meu cunhado Engenheiro Civil Nelson Queiroz de Melo, dois conjuntos de 4 apartamentos cada um, na Av. Paranaíba, logo adiante do DER e neste segundo semestre, devemos constituir uma nova empresa construtora. Já temos projetado para o mês de julho, o início de um novo prédio, na Praça Dom Eduardo, com dois blocos de 15 apartamentos ao lado da casa do Dr. Ximenes, em frente ao Colégio N. S. das Graças. Participo também, com 50% da Indústria de Lajes Paranaíba, onde fabricamos lajes e pré-moldados.
Você participa de atividade rural?
Tenho a Fazenda “Andrade” no município de São Gonçalo do Abaeté, que é uma fazenda pequena onde exploro somente a pecuária e em sociedade com meu cunhado Doriano Queiroz de Melo, temos a Fazenda “Retiro da Roça”, no município de Lagamar, onde plantamos arroz, feijão e milho e tiramos leite.
Aproximadamente quantas pessoas são empregadas em todos esses empreendimentos?
Varia muito, principalmente por causa do setor de construção. Mais ou menos de 120 a 150.
Qual tem sido s sua atuação no Rotary Club de Patos de Minas?
Lá ingressei em 1966 e permaneço até hoje, com muita alegria. Fui presidente do clube no período 75/76 e tenho participado de todos os movimentos que ali são feitos, com muita honra e prazer.
E na Associação Comercial?
Pertenço à Associação Comercial há muitos anos e inclusive tive a honra de presidi-la no período 67/68 e tenho sempre participado das diretorias. Lembro-me que ao assumir a direção da Associação, com os meus 26 anos, solteiro, tinha um entusiasmo até excessivo e até aproveito a oportunidade para render uma homenagem muito grande, ao meu saudoso amigo e pai de vocês, senhor João Pacheco Filho, que foi meu Vice Presidente e meu braço direito e era a pessoa em que eu encontrava o equilíbrio e o bom-senso para resolver os problemas de maior gravidade, que naquele época encontramos em grande quantidade, no aspecto político, econômico, de financiamento, social e fiscal e conseguimos resolver todos os problemas sem criar atritos e arestas e posso dizer que saímos bem.
Como você está vendo a atual diretoria da Associação Comercial?
Tenho uma alegria muito grande de ver a atuação desta diretoria. Ela tem mostrado um interesse enorme de trabalhar pela entidade, como também pela cidade e até o momento, temos notado que o seu trabalho tem sido bastante objetivo. Tenho certeza de que será uma gestão bastante promissora para Patos.
Você já recebeu alguma homenagem mais significativa pelo seu trabalho?
Sempre nos consideramos homenageados pela amizade e consideração de todos, mas não posso deixar de descartar o título de “Empresário de Destaque” de 1976, a mim conferido pela Federação das Associações Comerciais do Estado de Minas gerais no dia 06 de julho de 1976, por indicação da Associação Comercial e Industrial de Patos de Minas.
Você nasceu em Biquinhas e para aqui veio com 14 anos de idade. Você recebeu o título de “Cidadão Honorário Patense”?
Não. Mas no entanto eu me considero tão patense quanto os outros, porque aqui cheguei criança, aqui trabalhamos e participamos da vida em todos os setores e atividades. Casei-me com uma moça de família tradicional de Patos (Queiroz Melo): meus três filhos nasceram aqui. Apenas não tive a felicidade de nascer aqui, como quatro de meus irmãos.
Com toda a sinceridade, como você vê o título de “Cidadão Honorário Patense”?
Vejo-o com uma certa facilidade, embora muitos dos que já o receberam tenham feito por ele muita justiça. Não faço restrições aos que o receberam, mas penso que a pessoa para receber um título de cidadania deveria realmente ter realizado algo de muito positivo e proveitoso, em prol da cidade e da região. Com toda a sinceridade, penso que esse título deveria ser mais caro.
No setor comunitário, você tem mais alguma participação?
No período 73/75, participei da diretoria da Cooperativa Mista Agropecuária, como Gerente Geral e naquela época, fizemos uma grande ampliação e melhoria, no setor de laticínios; tivemos a felicidade de sanear todas as finanças da Cooperativa, pois quando assumimos, a situação era bastante delicada, inclusive com a penhora de imóveis, com dívidas ativas perante o fisco estadual e federal, especialmente INPS. Durante aquele período tivemos dois presidentes: o Sr. Urias Nunes de Paula e o Sr. Pedro Pereira dos Santos e foi naquela gestão inclusive, que iniciamos o empacotamento do leite. Fui membro da Comissão Central da Festa do Milho durante dois anos e inclusive minha mana Silésia foi Rainha do Milho, em 1963.
Qual a sua perspectiva em relação à atual Administração Pública Municipal, que tem à frente seu sócio Arlindo Porto Neto?
Fazendo uma retrospectiva, para não falar somente do Arlindo, eu diria que o apoio da COPAVE vem da participação direta e do apoio de todos os sócios e de nosso quadro de funcionários, que é fator preponderante do sucesso que temos alcançado. Falar sobre o Arlindo, quase que seria desnecessário, pois praticamente toda a comunidade o conhece, e conhece bem e eu que tive a oportunidade de trabalhar com ele aqui, durante seis anos, tenho uma tranquilidade muito grande em dizer que apesar das dificuldades econômicas e financeiras e crise por que passa nosso país, eu acredito muito em Patos de Minas e na região, através da sua administração. É um elemento ativo, organizado e acima de tudo trabalhador e além disto, é “sangue novo”, por isso, podemos acreditar nele.
Como você encara as possibilidades comerciais de Patos?
Vejo a necessidade de coisas novas para a cidade e conclamo o nosso empresariado a pensar desta maneira, na criatividade, em coisas novas que gerem empregos. Nós temos condições atualmente de pensar em coisas grandes, mas precisamos de cada um pensar em coisas novas, que dêem empregos para ocupar nossa mão de obra ociosa e que dêem algum respaldo à Administração Municipal. Não adianta pensar-se em se instalar coisas que já as temos aqui, às vezes até em excesso e ociosas. Precisamos criar o que não temos. A hora não é de dividir. As despesas sobem a cada dia e não tem sentido alguém querer iniciar o que já temos aqui.
Qual é a sua perspectiva em relação à industrialização de Patos?
Sem querer entrar no mérito do aspecto político chego a ficar pessimista com o quadro brasileiro. Todos sabem que temos hoje 22% da população ativa desempregada, o que corresponde a 7 milhões de brasileiros sem emprego, o que vai nos levando a uma crise social. E eu não dou conta de entender um país imenso como o nosso, com 120 milhões de habitantes, ser dominado por um sistema de banqueiros e das multi nacionais e que o governo aceite este modelo econômico, deixando de remunerar uma atividade produtiva, para remunerar escandalosamente uma atividade especulativa, como é a atividade financeira. Está havendo uma inversão de valores: o capital está sendo superior ao trabalho. E isto não é vantagem em nenhum lugar do mundo. As taxas de juros sobem dia-a-dia e ninguém que tem dinheiro disponível tem coragem de se arriscar em alguma coisa, a não ser por ideal. O rendimento do dinheiro é hoje, maior do que o de qualquer outro empreendimento. Eu confesso que fiquei triste hoje e tive até vontade de chorar, quando entrei na agência do Banco do Brasil e vi cartazes em vários lugares com os dizeres: “Aplique em RDB”, “Faça a aplicação de seu dinheiro”. Isto não poderia acontecer. Naquela agência e em qualquer outra deveria haver cartazes que anunciassem: “Aplique seu dinheiro na indústria”, ou “na pecuária” ou “na agricultura”; “gere empregos e recolha tributos” e nunca conclamar o povo a aplicar dinheiro, pois todos vão se transformar em agiotas oficializados. Todo mundo grita que o modelo econômico está errado e o governo não procura muda-lo. Assim não posso ver no momento nenhuma possibilidade de grandes indústrias para Patos. Entretanto, acredito na pequena indústria, que seja também coisa nova, como já disse, onde o nosso capital seja razoavelmente satisfatório, porque esta não é época de se pensar em dever muito com as taxas de juros que estão aí. Não podemos pensar em dever mais do que um terço do investimento. Perdemos grandes oportunidades no passado: hoje não temos condições de pensar em grandes indústrias.
Como você vê o aspecto das escolas superiores, para Patos?
Vejo com muito bons olhos. Todas as cidades que cresceram seu potencial cultural tiveram resultados amplamente favoráveis. Para mim o melhor investimento que se faz é na educação. Sou amplamente favorável a que se faça uma pesquisa (aliás este é um setor de que eu pouco entendo, pois só tenho o curso primário) para se saber o que é ideal para a região, mas precisamos lutar nesta área.
Você quer dizer mais alguma coisa?
Eu não poderia encerrar, sem agradecer a A DEBULHA, com toda sinceridade pela escolha de meu nome para ocupar esta secção. Fiquei sumamente honrado e acredito que muita gente melhor do que eu, deveria ocupar este lugar, na minha frente. Devo dizer ainda, que minha família embora numericamente pequena, havendo chegado a Patos em 1955, com os casamentos realizados, hoje participa de quase todas as famílias patenses maiores e consequentemente eu me sinto muito bem, nesta querida cidade. Fica a vocês o meu agradecimento muito sincero e também o de minha família. Recebo esta honraria como um grande prêmio e como mais um estímulo para o trabalho.
* Fonte e fotos: Entrevista de Dirceu Deocleciano Pacheco e João Marcos Pacheco publicada na coluna “Os Que Fazem Nossa Terra” da edição n.º 69 de 15 de maio de 1983 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de História do Unipam.