PACÍFICO SOARES: NEGÓCIOS DE 1922 A 1983

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PACIFICO 1Filho de Pacífico Soares Cardoso e D.ª Maria Soares da Rocha, nasceu em 18 de setembro de 1906, em Andrequicé (na Côrte), município de Presidente Olegário, que então pertencia a Patos. Estudou lá mesmo, com um “professorzinho” que “dentro de uns três ou quatro meses, os alunos sabiam o que ele sabia também”. Foi casado em primeiras núpcias com D.ª Isabel Côrtes Soares, com quem teve um filho, Geraldo, casado com D.ª Giselda Castelo Branco Soares. É casado com D.ª Agostinha Amaral Soares e têm os seguintes filhos: Dalmi, casado com Alda Tôrres Soares; Edir, casada com Dr. Isídio Barbosa Santos; Dr. João Bosco, casado com Ana Célia Dalla Rosa Soares; Solange e Grace, solteiras. Em 5 de dezembro último [1982], comemorou as “Bodas de Ouro”.

Qual era o seu trabalho lá na Côrte?

Meu pai era fazendeiro e nós trabalhávamos junto com ele, na criação de gado e em lavoura.

Quando foi que o senhor se mudou para Patos?

Foi em 1922, que nós viemos todos.

Algum motivo especial determinou a mudança de sua família para cá?

Meu irmão mais velho, o João, já morava aqui e um dia ele foi lá nos buscar para cá.

Quantos irmãos eram naquela época?

Éramos sete e hoje, somos apenas cinco: Aristeu, Agenor, José, Pedro e eu.

Qual foi o seu primeiro trabalho aqui?

Meu irmão mais velho, o Aristeu e eu fomos trabalhar como peões de boiadeiro. Fomos a Goiás buscar uma boiada para os senhores Amadeu Maciel, Abner Afonso de Castro, Pedro Martins Borges e Albino Nunes. Buscamos esta boiada para baixo de Planaltina, na beira do Ribeirão do Torto, aquele que hoje, joga água na Capital Federal.

Quantos dias vocês gastaram na viagem de ida e volta e quantos bois trouxeram?

Gastamos 64 dias e trouxemos em quatro boiadas, quatro mil e tantos bois.

Depois disto, qual foi sua atividade?

Quando chegamos, já havia começado a construção do Hospital Regional “Antônio Dias” e nós dois, que entendíamos do assunto, fomos chamados para trabalhar com carroção de bois, no transporte de pedra, areia, cascalho e outras coisas.

O senhor trabalhou lá muito tempo?

Trabalhei uns meses, depois o Major Gote me chamou para trabalhar em sua loja comercial que ficava ali, onde hoje está a Eletrodias. Comecei como varredor do armazém e logo depois ele me passou a gerente. Depois o Major Gote fêz sociedade com a Amadeu Maciel e eu fiquei lá até 1936, quando eles venderam a loja para o Bermudes.

Qual era o seu trabalho como gerente e o que se vendia na loja?

Eu trabalhava no balcão. Comprava e vendia. Lá nós tínhamos de tudo o que se vendia na época: cereais, ferragens, tecidos, armarinhos, arame farpado.

Qual foi o seu destino então?

Eu não quis continuar na loja e resolvi construir esta casa aqui da esquina das ruas Dr. Marcolino e Marechal Floriano (que se chamava Rua Industrial) porque aqui existiam uma máquina de arroz e uma oficina de marceneiro. Construí a residência anexa ao armazém e ao lado um cômodo para açougue.

Quando o senhor iniciou a atividade de seu armazém?

Foi no dia 31 de julho de 1936 e eu me recordo bem disto, porque corri muito para não começar em agosto, por uma questão de superstição. Não tinha ainda nem balcão e coloquei a mercadoria no chão mesmo. Meu antigo patrão, Amadeu Maciel, me ajudou muito. Ele veio aqui e disse: “Você tem que vender aqui, pelo menos 200 mil réis por dia e se não vender, você fecha isto”. No primeiro dia, vendi 400 e tantos mil réis e fui depressa para contar a ele.

Como se chamava o estabelecimento?

Quando o Bermudes comprou a loja ele mudou o nome de “Casa Gote” para “Casa Patense”. Então o Amadeu me pediu que pusesse o nome em meu estabelecimento de “Casa Gote”, “porque ele não queria que o nome do Gote desaparecesse da praça” e eu o atendi. O Bermudes se julgou prejudicado e foi ao Rio de Janeiro, onde registrou o nome e eu fui obrigado a mudar para “Casa Amadeu Maciel”, nome que permaneceu até que o Geraldo, meu filho a assumiu e mudou para “Casa Soares”.

Qual foi o seu capital inicial e qual era o ramo de negócio?

O capital foi de 1 conto de réis e foi o pai de vocês, João Pacheco Filho, que foi meu contador, ou guarda-livros, como chamávamos naquela época. Ele organizou tudo para mim e me ajudou demais. Aqui também, eu vendia quase tudo: ferragens, arame, gêneros alimentícios e açougue.

PACIFICO 3Depois do armazém qual foi a sua atividade?

Na esquina em frente ao meu armazém existia antes, uma máquina de beneficiar arroz, a do José Alonso dos Santos e então, em 1940, eu resolvi instalar uma outra aqui mesmo, na Rua Marechal Floriano, quase em frente ao armazém.

Qual era a capacidade de beneficiamento de sua máquina?

A capacidade de beneficiamento da máquina era de 30 sacos por dia e nós trabalhávamos dia e noite e não dávamos conta do serviço. Trabalhavam comigo o Antônio Honório Rodrigues e o João Vicente Ferreira (Polaco) que apesar de aposentado, está comigo até hoje, pois é como se fosse gente de minha família.

O senhor falou que o capital da firma era de 2 contos de réis, como foi distribuído este capital e como foi paga a mercadoria?

Olha, 2 contos de réis valia muito. Eu não sei quanto representaria hoje, mas o João Pacheco, organizou a firma com todos os livros e pagou o meu imposto para o resto do ano, pois naquele tempo pagávamos o imposto por verba, para o ano todo. As mercadorias, comprei toda a prazo, do Osvaldo Cotta Pacheco, de Catiara.

Qual era o prazo normal para pagamento?

Para mim, não teve prazo certo, ele me mandava caminhão fechado de mercadoria numa espécie de consignação. Eu só pagava depois que vendia. Eu também ia comprando aqui arroz, feijão, capados e o caminhão levava de volta, para acertarmos depois e sempre acabava sobrando dinheiro para mim.

Depois da máquina de arroz, o que é que veio?

A máquina começou a ficar pequena e em 1947 eu fui a São Paulo e comprei uma outra para 60 sacos por dia. Construí aquele armazém na esquina da Avenida Brasil com Rua Ouro Preto e transferi para lá ficando durante muitos anos, sendo que há mais de dois anos, ela está alugada para a firma Cereais Patureba. Depois, mais ou menos há uns quinze anos, resolvi e montei uma serraria lá mesmo na outra parte do quarteirão, com frente para a Rua Ouro Preto, onde continuo até hoje.

Qual o tipo de trabalho executado em sua serraria?

Nós apenas desdobramos madeira: prancheamos e serramos madeira para travamento de casas.

O senhor tem atividades no setor rural?

Há mais ou menos trinta anos, comprei uma fazenda, de 70 alqueires, onde atualmente existe o Aeroporto. Depois a vendi para o Flausino Pacheco Lou e comprei outra no Leal, sendo mais tarde desapropriada para a instalação da Colônia Agrícola. Mais tarde comprei uma de 150 hectares no Mataburrinho e outra no município de Vazante, com 1.965 hectares, as quais conservo até hoje.

O que o senhor explora em suas fazendas?

Antigamente eu tocava muita lavoura. No Mataburrinho eu colhia 400 sacos de milho e 300 e tantos de feijão, todo ano. Agora, tanto em uma como na outra, estou criando gado, mas é pouca coisa. Aqui tenho gado cruzado de holandês e lá, gado comum.

É do conhecimento geral que o senhor prosperou muito no setor imobiliário. Quantos imóveis o senhor possui na zona urbana?

Tenho 27 casas, das quais eu construí oito, sendo que algumas são pequenininhas e 30 lotes. Possuo também uma chácara do outro lado do Rio Paranaíba, na Fazenda Barreiro, com 14 hectares, que é um lugar para passear.

PACIFICO 4Na política, qual tem sido a sua atuação?

Durante muitos anos, fui membro do diretório da ex-UDN e da ex-Arena, só deixando agora, na criação do PDS. Não que eu tenha ido para a política por meu gosto e sim, para atender meu chefe, o Amadeu Maciel. Atuei a vida toda na política e inclusive, participei da revolução de 1932, permanecendo durante 22 dias, no Palácio da Liberdade, ao lado do Dr. Olegário Maciel.

Como era a política nos primeiros anos de sua participação?

Era tudo muito custoso. No dia de eleição, a coisa era brava e perigosa e só mesmo por Deus, não morria muita gente.

Ao longo destes seus quase 77 anos bem vividos, o senhor teve grandes decepções e grandes tristezas?

Decepções não. Tive muita tristeza quando da morte de minha mãe e de meu filho Francisco, ocorrida há menos de três anos. Também, quando minha primeira mulher morreu, eu era muito novo e fiquei muito desorientado.

Em seus negócios, qual foi sua grande alegria?

Foi poder criar e educar os filhos e adquirir estes imóveis, pois quando comecei, eu tinha um sonho: adquirir uma casinha para mim e outra para minha mãe e Deus me deu muito mais.

No início de seus negócios havia muita venda a prazo? O senhor tomou muito prejuízo?

Quase todas as vendas eram feitas na base da caderneta, para a pessoa pagar quando tivesse o dinheiro e nunca tomei prejuízo.

O senhor participou de algum outro empreendimento aqui?

O Amadeu Maciel resolveu construir o prédio do Cine Olinta, onde hoje está a Rádio Clube de Patos e reuniu sete sócios, dentre eles, Antônio Romualdo, Flausino Pacheco Lou, José Alves da Silva, Olegário Tibúrcio de Souza e eu. Mais tarde o Antônio Romualdo que era o segundo maior cotista, depois do Amadeu, resolveu deixar a sociedade e eu acabei ficando com a cota dele, que era de 150 contos de réis, para atender o Amadeu. Depois o José Alves quis sair e eu também comprei a sua cota, até que ficamos somente o Amadeu e eu. Logo depois, um dia cheguei na casa dele e ele me disse: “eu não quero nem você como sócio naquele negócio” e eu disse: “eu também não queria e entrei por causa do senhor”. Acertamos tudo e ele ficou sozinho.

Por falar em cinema, nos seus primeiros anos aqui, quais eram os meios de diversão?

Apenas os cinemas, que eram dois e eram mudos. Tinha também um coreto em frente ao atual prédio da Rádio Clube, onde a banda tocava todos os sábados e domingos.

Durante a sua longa participação na vida política o senhor fez algum inimigo?

Graças a Deus, nenhum. Costumo sempre dizer que quem não gostar de mim, fica no prejuízo, porque eu gosto dele.

Que conselho o senhor daria para os que estão começando a vida?

Trabalhar muito e com honestidade.

O senhor acha que o comércio atual é mais difícil é do que o de quarenta anos atrás?

Muito mais difícil. Antigamente havia liberdade para se negociar. Pagava-se o imposto por verba e não havia mais problemas. Hoje não há mais liberdade. Começar hoje é duro.

O senhor já se aposentou?

Não. Pago o INPS há uns quarenta anos e não quero aposentar. Vou deixar para aposentar quando morrer.

Há mais alguma coisa a dizer?

Agora eu tenho é que agradecer a vocês por esta honra.

* Fonte e fotos: Entrevista de Dirceu Deocleciano Pacheco e João Marcos Pacheco publicada na edição n.º 71 de 30 de junho de 1983 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

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