A Folia de Reis é uma manifestação folclórica de origem portuguesa, muito marcante em várias regiões do país e com um significado todo especial em Patos de Minas e região, devido à Campanha realizada pela Rádio Clube de Patos em benefício do Dispensário S. Vicente de Paulo. No final da década de 50, Sebastião Alves do Nascimento, maior acionista da Rádio Clube de Patos S.A., líder político notável, que foi Prefeito de Patos de Minas e Deputado Estadual em várias legislaturas, abriu espaço para as apresentações das Folias de Reis com transmissão direta pela Emissora.
No início eram apresentações esporádicas, até ganhar o atual formato: campanha anual com renda em benefício do Dispensário. Desde o primeiro momento, a Rádio Clube abraçou a causa das Folias, um exemplo vivo de folclore e a causa do Dispensário, que atende a centenas de pessoas necessitadas.
Patrício Filho é considerado o principal articulador da campanha. Durante décadas, ele foi um grande comandante. “Seu entusiasmo, seu coração humanitário do tamanho do mundo, sua voz revestida de uma doce sonoridade, sua ascendência sobre as pessoas e, acima de tudo, sua profunda vocação para o serviço desinteressado aos pobres, tornaram-no inquestionavelmente um grande líder e pessoa estimada por toda a população de Patos de Minas, notadamente pelos grupos das Folias de Reis”, publicou Nêgo Moreira em seu livro sobre os cem anos do movimento vicentino em nossa cidade.
Segundo o relato de Joaquim Antônio de Lima (Nêgo Moreira), em seu livro, sobre a arrecadação do Dispensário São Vicente de Paulo com a Campanha das Folias, encontramos o seguinte relato:
“No livro-caixa da instituição, estão registradas as primeiras doações, bem como os respectivos valores e procedências. Na data de 30/01/67, fez-se o primeiro registro de doações pelas Folias de Reis, através da Rádio Clube de Patos”.
“A Folia de Aragão e uma outra da cidade (não conseguimos o nome desta), encaminharam ao Dispensário as importâncias respectivas de Cr$ 33,30 e Cr$ 7,00. Ainda na mesma data, o Caixa do Dispensário acusa o recebimento, também através da Rádio Clube, de mais três doações: Folia do Mataburrinhos, 106,80; Folia do José Pedro Teles, 106,15 e a Folia de Pindaíbas, 92,60”.
“Já o ano de 1968, embora as contribuições tenham ocorrido num nível de pequenos valores, já ficou configurada a potencialidade da Campanha. Na verdade os valores eram de pequena monta. Mas a oferta de uma Folia, seguida de mais outra, e de mais outra, como que mobilizou o gigante adormecido”.
“Vamos aos dados: Folia do Retiro, 8,30; do Sumaré, 9,50; do Sertãozinho, 4,27 e mais 1,55; da Galena (Eli Mendes), 7,60; do Ponto Chic, 1,00; do Adão Tavares, 7,55; do Aragão, 8,25 e a Folia do Torresmo, 10,20”.
“A partir desta data, já as apresentações das Folias passaram a acontecer todos os anos nos microfones da Rádio Clube de Patos, no tempo próprio, sob o comando do radialista Wulfrano Patrício”.
Graças ao empenho do jornalista Oswaldo Amorim, que amou como poucos a cidade de Patos de Minas, as Folias de Reis mereceram um documentário que foi exibido nos cinemas do Brasil inteiro. Oswaldo trabalhou em revistas e jornais de renome nacional, como o Estado de São Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, O Cruzeiro, Manchete, Visão e Veja. Colaborava com os jornais locais e participava de programas na Rádio Clube de Patos. Era um defensor do meio-ambiente, das Folias de Reis e de todo o folclore e um visionário, sempre apontando na direção do progresso, pedindo Universidade para Patos de Minas, pedindo estradas asfaltadas, demonstrando todo o seu amor às causas patenses. Faleceu no dia 15 de agosto de 2001, repentina e serenamente.
Já nos anos 90, Patrício Filho passou a contar com a colaboração do radialista Walico Pereira de Lima, outro que se dedicou com todo afinco ao prosseguimento das campanhas. Em janeiro de 1997, em plena Campanha das Folias, Patrício Filho sofreu um acidente de carro, quando deixava Brasília rumo a Patos de Minas. Constatada a formação de coágulo sanguíneo, Patrício teve que passar por uma cirurgia. A sua recuperação foi bastante alentadora.
Aos poucos, voltou a participar dos programas. Ainda numa fase de recuperação, fez uma viagem a São José dos Campos (SP) para visitar familiares e se recuperar com mais tranquilidade. Lá, foi acometido de uma pancreatite necro-hemorrágica, tendo de se submeter a uma cirurgia inesperada. Foram oito dias internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) naquela cidade paulista.
Patrício faleceu numa manhã de domingo, 21 de setembro de 1997, Dia do Radialista. Foi transladado para Patos de Minas, em avião fretado. O aeroporto local ficou sem espaço para acolher a multidão que lá compareceu. O velório, após cortejo de veículos desde o aeroporto, foi realizado no auditório da Rádio Clube de Patos. Milhares de pessoas compareceram para prestar a última homenagem ao grande radialista. O sepultamento se deu no Cemitério Santa Cruz. A mensagem de Wulfrano Patrício no encerramento da Campanha de 1996 (fevereiro de 1996) viria a ser o epitáfio em seu túmulo:
Continuem a preservar as nossas Folias de Reis. Não desanimem… É uma riqueza folclórica que nós temos aqui na região… Um punhado de Folias que fazem verdadeiros hinos de amor a Cristo e à humanidade! É gente que sabe externar através da poesia simples, aquele pensamento maravilhoso que sai lá do coração de cada um dos foliões. Essas folias são maravilhosas.
A partir do ano de 1997, Walico Pereira de Lima deu prosseguimento às apresentações das Folias de Reis na Rádio Clube, com a ajuda de seus companheiros. No início da Campanha, as apresentações aconteciam durante o mês de janeiro, com abertura no dia 6, dia consagrado aos Santos Reis Magos. As Folias faziam as suas inscrições e vinham durante toda a semana, de segunda a segunda. Com o passar dos anos, com o êxodo rural, a possibilidade de agendamento das Folias para os dias úteis tornou-se difícil, pelos compromissos da maioria dos foliões com seus afazeres profissionais.
A preferência passou a ser dada aos sábados e aos domingos. Tal fato resultou em expansão da Campanha para os meses de janeiro a fevereiro e, nos últimos anos, para março, abril e início de maio. A explicação é que os grupos de Folias de Reis passaram a realizar várias promoções como leilões e bingos para aumentar a arrecadação e, com isso, decidiram adiar as apresentações o quanto fosse possível.
A arrecadação vem crescendo a cada ano. Para exemplificar, tomemos o ano de 2002, com renda superior a 152.700,00 reais, em comparação com 2003, quando foi registrado o total de 168 mil. Em 2004 subiu para 192 mil reais e para 239 mil em 2006 e 292 mil em 2007. Em 2008 e 2009 os saldos foram 376 mil e 431 mil reais, respectivamente. O montante ultrapassou a cifra de meio milhão em 2010, quando foram arrecadados 513.172 reais e 90 centavos¹. Desde o início da Campanha, 100% da renda são destinados ao Dispensário São Vicente de Paulo. É a fabulosa ação social realizada pela Rádio Clube de patos, que destina todo os espaço necessário para o sucesso da Campanha das Folias de Reis.
* 1: Leia “Recorde de Arrecadação das Folias de Reis em 2014” e “Wulfrano Patrício e Suas Folias”.
* Fonte: Rádio Clube – Setenta Anos e Suas Histórias, de Adamar Gomes.
* Foto: Santanadoitarare.pr.gov.br.