UMA VOZ QUE ME EMOCIONOU

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PASSADOTEXTO: ZAMA MACIEL

Eu ainda me recordo bem. Foi há vinte e cinco anos passados, numa manhã de fim de maio, quando era eu aluno da escola primária que o saudoso Prof. Leonides mantinha na casa onde, hoje, reside o meu colega de agrimensura Bertier Borges, que ouvi pela vez primeira falar no aniversário da cidade de Patos. Agenor Maciel, aquele espírito bom e culto, na sua voz mansa e com a sua proeza erudita, explicava-me que na data do dia, a cidade fazia anos, vinte e cinco anos!

A minha curiosidade infantil queria saber muita cousa, e eu fui perguntando, e êle foi respondendo.

Algumas das minhas perguntas e muitas de suas respostas ainda me estão frescas na memória.

Indaguei quem fundara a cidade, e ele me explicou, e citou-me os nomes dos primeiros povoadores, dos homens que se distinguiram nos primitivos tempos, enfim contou-me a história da povoação plantada à margem da lagoa dos Patos, e que naquele dia via transcorrer o seu primeiro quartel de vida independente como cabeça de vasto e futuroso município.

Houve solenidades comemorativas do evento histórico, e quais foram já não seu eu.

Agora, vinte e cinco anos transcorridos, quando já o meu primeiro professor de história, repousa no ceio da terra que tanto amou e engrandeceu, revivo a sua figura boa, na testa deste modesto artigo, como a querer fortalecer o meu espírito nas fontes puras do passado, do passado nobre, altivo que é, hoje, o motivo de nosso orgulho cívico. E porque trago o seu nome à lembrança dos que me hão de honrar com alguns minutos de leitura?

É que, este ano, em 25 de maio¹, Patos verá passar o quinquajessimo aniversário de sua elevação à foros de cidade. E foi ele que ensinou, como se poderia ensinar a uma criança, que estas datas de tão alta significação cívica devem ser comemoradas dignamente. A ele devo, portanto, a minha primeira lição de culto cívico, que o convivio nos meus militares desenvolveu em meu ser, e empregnou-me a alma de profundo amor a terra onde nasci, e assim me deu a largueza de espírito necessária para compreender e amar a grande Pátria brasileira, da qual é Patos célula nova e vivificadora.

Infelizes os povos que não têm história! Infelizes os nucleos sociais que não têm passado de lutas e alegrias em comum para cimentar-lhes as arestas morais tão necessárias aos embates e vivicitudes a que estão sujeitos os povos nos caminhos do tempo.

Só a noção e o pleno conhecimento de largo passado indiviso, dão a vitalidade requerida para triunfar nas grandes horas da existência. A história é ainda grande mestra da vida, o mesmo manancial onde o tribuno modelo buscava energias para apontar ao povo de Roma o caminho a seguir.

A nossa terra tem uma história curta, e sempre viveu feliz na abundância que lhe dá a fertilidade de suas matas. Contudo, é nosso dever manter viva a comunhão espiritual com o passado.

Daí a emoção cívica que se apoderou de mim ao ouvir a voz de José Gonçalves de Amorim, pelo microfone da ZYB4, convidando os patenses a comemorar dignamente a data que assinala a passagem dos cincoenta anos da cidade que a inicitiva feliz de Silva Guerra plantou à margem remançosa do Paranaiba, na chapada clara de sol, no coração quente do Brasil.

* 1: O correto é “24” de maio. Leia “A Questão da Data de Aniversário de Patos”.

* Fonte: Texto publicado na edição de 1.º de março de 1942 do jornal Folha de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Adrianacaitano.wordpress.com.

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