MAGOS DO SOL – ENTREVISTA

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MAGOSA Casa de Cultura Patense, mostrou através das promoções já apresentadas que sua meta é melhorar o nível cultural de Patos. Incluindo nestas promoções, aconteceu no dia 23 próximo passado um show que tem tudo para marcar época na cidade. O “BEATLES FOREVER”, além de agradar pelas músicas que nunca desaparecerão das nossas mentes, trouxe de volta (todos juntos, em um mesmo show), o “Magus do Sol”¹: Luiz Carlos Esteves: Teclados, violão e voz – Taquinho Noronha: Violão e voz – Joãozinho: Guitarra – Ivan Corrêa: Contrabaixo, violão e voz – Heleno Versiani: Bateria e percussão – Waldir Carvalho: Guitarra, violão e voz. Vai daqui ainda, os parabéns para o pessoal da parte técnica com o Rodrigo Versiani e o José Luiz Esteves. E ainda, a brilhante iluminação feita pelo Heitor Rocha Mendonça (CET). A idéia deste “bate-papo”, surgiu porque esse pessoal todo, apesar de infelizmente, ser ex-“Magus do Sol” está fazendo separadamente  um ótimo trabalho em música e “ainda são cada vez mais”, Patos de Minas.

Ontem, depois do show, eu disse ao Heleno que queria fazer uma entrevista com vocês, porque me parecia que era a volta do “Magus do Sol”. É esta volta que está “pintando”?

Ah, não! Não tem nada disso não. É só mesmo para este show. (Heleno)
Esse show, prá gente, é tipo a volta dos Beatles em menor escala. Porque no momento, cada um está seguindo um caminho, uns se casaram, cada um em uma cidade diferente com a vida encaminhada… Daí para você largar tudo e “mexer” com a música nós não temos condições principalmente financeiras. (Luiz Esteves)
Mas do show, surgiram outras idéias. A gente viu que o negócio foi bom. Nós não esperávamos… Aliás, estávamos esperando um pouco, porque todo mundo trabalhou muito, então tínhamos direito de colher os frutos. Agora, devido aos problemas: dificuldade de acústica no Poliesportivo, uma série de problemas técnicos, a chuva, etc… a gente não esperava aquilo tudo que teve ali. A reação foi excelente e por isso o trabalho pode frutificar muito mais. O conjunto não vai ser formado de novo, mas poderão surgir propostas de reencontros novamente para este e outros tipos de shows, em determinadas épocas, aqui ou em outras cidades. Inclusive, no ano que vem nós vamos realizar o “BEATLES FOREVER” outra vez, mas com outras músicas. (Romero – Casa da Cultura).

E individualmente, o que é que vocês vêm fazendo em música?

Bom, eu gravei um disco compacto, mas infelizmente não deu certo porque a gravadora não fez divulgação nenhuma. Prometeram muito prá gente, mas depois parece que entraram em falência e não cumpriram. O disco foi tocado em algumas rádios, inclusive na FM aqui em Patos. (Luiz Carlos)
Eu também estou seguindo um caminho individual, sempre “mexendo” com música e até com um show marcado aqui para Patos em abril, mas sem nada muito certo por enquanto. (Taquinho Noronha).

E você, Joãozinho? Parece que você andou sumido, sem vir a Patos durante muito tempo, não é?

É. Tem uns 6 anos que eu estou em Brasília. Mas só trabalhando e estudando, tem 4 anos que eu estou parado em matéria de música. (Joãozinho)
Na verdade, de um modo geral está todo mundo parado há um tempão. Eu por exemplo, além da gravação de estúdio para o disco não tive mais nada. Show nenhum. É claro que a gente continua estudando e sonhando com uma Banda como a de ontem no show. (Luiz Carlos)
Esse fato ninguém pode negar. Existe uma vontade muito grande de organizar a coisa toda, mas o lado financeiro não deixa. (Taquinho)
Além do dinheiro, precisava mesmo era de um empresário bom para tocar o negócio. (Heleno)

Quando vocês montaram o “Magus do Sol”, como é que era o conjunto?

O “Magus do Sol” teve várias formações, sendo uma das melhores essa que tocou no show ontem. (Taquinho).
Além da gente, teve um outro pessoal muito bom, é como o Gerson, o Béu (hoje nos EUA), o Gilberto, o Bota. Apesar de tudo, o conjunto acabou em 1977. (Luiz Carlos)
Agora, modéstia a parte, na história da música em Patos de Minas, o “Magus do Sol” foi muito importante, porque não era um conjunto criado para as apresentações, mas sim como o Heleno disse era um conjunto que tinha garra, vontade e energia para lutar. (Taquinho)

Parece que na época o pessoal não pensava assim de vocês, não. Teve umas “barras” muito violentas para enfrentar, não é isso?

Se teve. Até intimação da polícia nós recebemos. Conta aí Heleno. (Luiz Carlos).
A gente ensaiava em um cômodo alugado, lá no bairro Guanabara. E parece que um dos moradores de lá nos denunciou, alegando que os nossos ensaios eram um crime contra a sociedade. (Heleno)
Teve outra história, até um momento bastante infeliz, que até trocaram o nome do conjunto para “Famigerados do Sol”. É que a gente estava tocando em um palanque em frente ao Forum, com a rua cheia de “nego”, e de repente a escola de samba da cidade veio subindo a Getúlio Vargas. Nós então aumentamos o som dos instrumentos e eles tiveram até que parar. Realmente, não foi nada bom isso. (Taquinho)

Mas e atualmente? Vocês acham que o pessoal está dando apoio à música?

A época mudou muito, e apesar de o apoio ainda ser pequeno, aumentou umas 20 vezes do que era antes. Na época, quem subia em um palco era maconheiro, vagabundo, etc… (Luiz Carlos)
(Neste momento, no meio da entrevista entra o Ivan Correa).

Tem uma pergunta que eu acho importante fazer ao Ivan também. É sobre as gravações em Belo Horizonte. Tem uma coisa assim, não é Ivan?

É, lá eu estou bem enfronhado em música mesmo. Estou tocando todo dia, já gravei com o Marco Antônio Araújo, com o Grupo Mambembe, e agora estou gravando em um disco independente com um cara novo. Começando agora. (Ivan)

Voltando ao pessoal daqui de Patos, houve uma esticada culturalmente aqui. Você sabe porque, Romero?

DO SOLO negócio é que não é só nas capitais que o pessoal está receptivo para o que está acontecendo de novo em termos de cultura, etc… No interior também está se aceitando tudo que venha enriquecer esta cultura. O show de ontem, apesar de rock, é uma prova disso. (Romero)
Mas não é muito não. No Brasil todo existe um problema que eu acho triste, que é a pessoa que tem um determinado estilo ter bronca de quem faz outro estilo diferente. Isso não pode existir, porque música não tem fronteira. A música é igual ao mundo: quem faz as fronteiras no mundo são as pessoas. As definições devem servir simplesmente para classificar. (Luiz Carlos)
Em BH a gente forçou para acabar com isso. Fizemos encontros onde se tocava de tudo, do rock ao samba e com isto acabamos com as panelas. (Ivan)

Mas e o estilo? Como é que cada um de vocês se posiciona com relação a estilo em música?

Estilo é algo que você adquire com o tempo. O Taquinho por exemplo, apesar de termos começado juntos, tem um estilo muito mais sertanejo. Eu sou de vanguarda. Também, ele é irmão do Osmano e Manito, aliás a maior dupla sertaneja do Brasil. Registra isso aí, porque aqui em Patos ninguém dá valor neles. (Luiz Carlos)
Eles estão com 10 LPs gravados, e é claro, com uma bagagem dessa tinham que me influenciar. Além disso, tem meu pai que tocava fandango, e mil outras coisas. (Taquinho)
Agora isso de estilo, é mais um lance de compor. Porque quando você é instrumentista, você não tem estilo definido. Às vezes, a gente está acompanhando um cara sertanejo usando uma técnica de rock, etc… Para o instrumentista a fronteira acaba. (Ivan)
Eu concordo com isto que o Ivan disse, porque quando eu fui para Brasília e estava fazendo música ainda, eu tinha que tocar de tudo. Mas se for olhar no fundo eu sou rockeiro como todo mundo aqui. Aliás, isso é influência dos próprios Beatles que também eram rockeiros. (Joãozinho)

Além dessa forte influência dos Beatles, que parece vocês todos receberam, em termos de música popular brasileira, teve alguma coisa mais forte?

De compositor especificamente, não teve muito não. Mas eu ficaria com toda a música sertaneja e folclórica. Apesar de ter uma linha mais progressista, a música sertaneja em mim ainda é muito forte. (Luiz Carlos)
Além da música sertaneja em si, vou falar o nome de uma pessoa meio desconhecida ainda, que eu admiro demais. É o Elomar Figueira de Melo. (Taquinho)
Na minha época eu curti muito Os Mutantes, inclusive eu ainda gosto muito do Serginho, que é guitarrista. (Joãozinho)
Está difícil. Mas não por radicalismo nem nada, mas eu prefiro encaixar mais no lado folclórico mesmo. Agora eu gosto muito do trabalho do Ivan Lins, da cabeça dele. Mas ele também foi influenciado igual eu fui. (Ivan)
Para nós todos, esse lance de influência mesmo foi parar para outro lado, Inglaterra, Estados Unidos… Mas não deixa de existir um pouco de música sertaneja na gente. (Heleno)

Quer dizer que vocês que foram taxados de rockeiros na época, na verdade curtem é música sertaneja?

No meu ponto de ver a coisa, eu acho que a melhor música brasileira não está registrada em disco, infelizmente. Se você me pedir para dizer qual o músico brasileiro que eu mais curto, eu citaria o Taquinho, o Dalla. Você pega essas músicas deles, arranja bem arranjado e grava em disco. Promove, para você ver se o cara não vai ser famoso. E assim como o Dalla, e o Taquinho existem milhões que fazem músicas boas. (Luiz Carlos)

Esse fato de gravar um disco, atualmente, é muito difícil, é porque ninguém acredita em quem está começando?

É isto mesmo. Na minha gravação por exemplo, eu tive uma experiência muito ruim. Simplesmente a gravadora manda o disco para as rádios e quando eles vêem que é de cara novo, não tocam. Ou então, a gravadora vende em grande quantidade para as lojas de discos, que aí os vendem ao público a preço de banana. Eu mesmo comprei o meu disco, carimbado com um selo de “Amostra Grátis – Invendável”, em uma loja a Cr$ 25,00 cada um. Isso nem se eu for comprar na gravadora fica por este preço. Isso é o maior crime que pode acontecer, a polícia devia ficar de olho nisso aí. Além disso, ainda tem as famosas fitas piratas, que se grava prá todo lado. (Luiz Carlos)
O fato é que toda gravadora, quer que o produto gere lucros imediatos, caso contrário não interessa. (Taquinho)
Por isso que está surgindo o espaço para o disco independente. O cara grava o que ele quer gravar, com o dinheiro dele, e vende na base do “mano a mano”. (Ivan)
Tem que ser isso mesmo. O lado A do meu disco, por exemplo, é uma música que eu gravei por que eu gosto. Agora o lado B, eu jamais gravaria se eu pudesse escolher. Mas o produtor quis, e se eu falar que não, aí é que eu nunca vou conseguir gravar mesmo. No mais, os produtores também, tratam o músico sem um pingo de respeito. Por que se não têm respeito pelo músico, deviam ter pelo menos respeito humano. (Luiz Carlos)

Em termos de show, ontem, vocês acham que o pessoal respondeu bem comparecendo devido à proposta do show (Beatles), ou realmente está se abrindo um caminho para a música em Patos?

Eu acho que tudo somou. O título do show, realmente, foi fundamental, por que mesmo 20 anos depois a música dos Beatles ainda é a mais tocada. Agora por outro lado, tem o grupo que surgiu daqui de Patos e portanto tem toda uma bagagem que chama pessoal. E ainda tem a Casa de Cultura, que está promovendo outros shows aqui, e com isso atraindo mais o público. (Romero)

Com relação a fazer música como uma forma de viver: música no Brasil, pode dar dinheiro para quem está começando?

Impossível. (Luiz Carlos)
Eu acho que é possível. (Ivan)
Ah, mas existem vários tipos de músicos. O Ivan, o Heleno, o Joãozinho por exemplo, são caras bons demais que podem tocar com qualquer um que pintar. Agora eu já tenho uma linha de composição e cantar que não dá para ganhar dinheiro. Eu tenho que batalhar as minhas músicas, o meu lugarzinho ao sol. E nesse caso é impossível viver de música. (Luiz Carlos)

MAGOS 2Para esse pessoal que faz música aqui em Patos e ainda não enfrentou como vocês lá fora, vocês têm alguma sugestão para se dar bem em música?

Eu acho o seguinte: quem está conseguindo alguma coisa atualmente, começou realmente do nada. Quer dizer, tiveram uma trajetória, um canal que é preciso seguir. É preciso também, ficar de olho na concorrência que está preta. Tem muita gente encarando mesmo, estudando, evoluindo e se você ficar para trás eles passam na sua frente e pronto. Ninguém deve desanimar não, mas tem que meter a cara mesmo. Outra coisa importante, é encontrar uma identidade musical, influenciar só até certo ponto porque depois já é prejudicial. (Ivan)
(Vem chegando o Dalla e ajuda a entrevista).

Aqui em Patos, fala-se muito que o pessoal tem preferência pela música sertaneja. Vocês acham que e preferência é realmente essa?

Eu não acho. Acho que a preferência é principalmente por aquele tipo de música que mexe, que faz com que eles dancem. (Heleno)
Realmente isso é engraçado. O Dalla, por exemplo, é um cara que eu considero um bom compositor apesar de não seguir o mesmo caminho que eu, mesmo a gente tendo começado juntos. Mas no show dele, que foi bastante sertanejo, não teve a lotação que merecia. O pessoal devia ir assistir a todo show de música que houvesse para animar o músico. (Luiz Carlos)
O negócio é que nós atualmente estamos em um esquema de massificação violento, e a televisão é o maior meio de comunicação. Daí quem está sendo divulgado, tem mais assistência do público. E o Dalla, por exemplo, não está nesse esquema. (Romero)

Vocês têm mais alguma coisa de importante que seria bom ressaltar? Você que chegou agora, Dalla?

Tenho sim. O lance é o seguinte, antes o pessoal juntava ai de qualquer maneira e acabava não fazendo um show, fazia era um “junta e vai”. Dai o pessoal ficou meio de saco cheio com a coisa. Mas de um tempo para cá, ficou diferente, você vê, o show do Luiz Carlos teve um cenário lindo, e outros shows aí. Além disso, nós que fazemos música já estamos, posso dizer, fazendo um trabalho bastante profissional. O povo precisa se conscientizar disso e prestigiar mais os bons shows que estão surgindo de gente de Patos mesmo. (Dalla)
Outra coisa que eu queria deixar aqui, era a sugestão do pessoal mais novo e a gente que está aqui há mais tempo, conseguirmos um jeito de nos promovermos. Fazer, por exemplo, uma boa gravação, pelo menos audível, e tocar na rádio daqui uma vez ou outra. Assim o pessoal poderia pelo menos saber quem era o cara. Antigamente, tinha os bailes, e aí camuflado, nós colocávamos uma ou duas músicas nossas no meio do que a gente estava tocando. Mas hoje o melhor recurso seria o rádio, mesmo. (Luiz Carlos)
Eu acho que o Dalla tem uma notícia muito boa aí. Me parece que a “Saracura Três Potes”, e o “Moleque Saci” deram IBOPE por aí. Não é isso, cumpadre? (Taquinho)

Tem alguma coisa de novo por aí, Dalla?

É, parece que eu vou tocar naquele programa… como é que é… “Som Brasil”, não é isso? Pois é. Foi um lance que o Xaulim arranjou para mim e o pessoal todo. Ele deu minha fita para o Boldrin e anteontem (22/01) ele telefonou falando que estava tudo certo, era só marcar a data. Dai, nós vamos juntar o pessoal todo e fazer um show lá no Sampa. Por que aonde vai um tem que ir todo mundo. (Dala)

Pode terminar?

Não ainda não. Primeiro a gente quer agradecer ao pessoal que compareceu ao show ontem, e a Cristina, que por ser música também, tão gentilmente nos cedeu o piano. Agora diz aquele poema sobre os Beatles aí, Romero! (Taquinho)
“Os Beatles são mutantes/Protótipos revolucionários,/enviados por Deus,/possuídos de um poder misterioso de criar uma nova espécie humana,/uma raça jovem de risonhos homens livres”. Quem falou isso foi um poeta e filósofo americano. Chamado Timothy Leary, e isso resume essa loucura que foram os últimos 20 anos. (Romero)
No mais, o show sempre, e sempre continuará. (Luiz Carlos)

NOTA: Infelizmente o Waldir Carvalho não pôde comparecer ao nosso “bate-papo”. Vai daqui então o nosso abraço e os votos de uma luta cheia de vitórias por esse caminho florido da música.

* 1: Grafia do texto original.

* Fonte: Entrevista de João Vicente Deocleciano Pacheco e Carlos Magno C. Santana publicada na edição n.º 40 da revista A Debulha de 31 de janeiro de 1982, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Fotos: Arquivo Luiz Carlos Esteves.

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