Esta história é do nosso grande amigo Nicolau Ribeiro. Sabe? Nós temos uma baita inveja desta querida pessoa. Ele deve ter uns setenta anos e é mais moleque que nós…
Bem… O Nicolau sempre foi muito caridoso. E todo sábado ele recebia, na parte da manhã, em sua residência, a visita de uma senhora de idade incerta, pedindo-lhe sempre ajuda financeira. Num destes sábados, combinou com ela uma maneira de curtir com certo amigo seu. E ficou tudo acertado para o próximo sábado, em frente ao cine Tupã, onde os dois sempre se encontravam.
Nicolau tinha um amigo, com o apelido de Varejão, que não acreditava em nada.
– Sou um ateu, graças a Deus!
E o palco já estava armado, com os personagens, inocentemente, nos devidos lugares. Aí chega o Nicolau, nove horas da manhã, em frente ao cine Tupã, numa roda de várias pessoas, inclusive o Varejão. Nicolau, depois de fofocar um pouco, disse que estava meio impressionado com um fato ocorrido no dia anterior, em que uma senhora adivinhou vários fatos acontecidos em sua vida. E os detalhes eram tão gritantes que o nosso amigo já estava quase acreditando no caso.
Alguns riam e o Varejão, além de criticar, dava retumbantes gargalhadas.
E nesse momento, eis que surge a senhora com quem o Nicolau havia combinado. Aí sim, em ato contínuo, foi uma verdadeira comédia.
E o Nicolau, teatralmente, disse:
– Que coincidência! Aqui está a senhora de quem falava agorinha mesmo. E já que o Varejão duvida de tudo, ela vai ler as linhas de sua mão.
O Varejão não gostou da proposta, mas para mostrar o homem que era, não poderia desabonar a sua associação dos descrentes. E aceitou o desafio.
Então a senhora, fazendo uma ponta naquela peça, reclamou que, quando lia as linhas da mão de alguém, se sentia muito mal durante o dia; mas como o pedido era do senhor Nicolau, não havia como negar.
Segurou a mão do desafiante. A roda ficou muito fechada, pelo grande interesse de todos, e ela foi logo desabafando.
– Você tem uma amante lá no Areado.
E aí o Varejão empalideceu.
E a senhora continuou:
– Estes dias, num grande negócio que você fez, deixou em grandes dificuldades financeiras seu parente e amigo…
Mais que depressa Varejão recolheu sua mão, assustado, e saiu fora daquela roda, deixando, lá, a velha senhora.
E cremos que só hoje o Varejão vai ficar sabendo da verdadeira história…
* Publicado em “Patos de Minas – Histórias que até parecem estórias…”, de Donaldo Amaro Teixeira e Manoel Mendes do Nascimento (1993). Ilustração de Ercília Fagundes Moura.