Quando quase não usávamos motor e nem barco de alumínio, pescávamos em canoas de madeira tocadas a remos e varejão, a turma era toda jovem e com muita saúde e tirava tudo de letra, numa boa. Certa vez fomos pescar no Rio Paracatu, no lendário rancho do Sebastião Satiro. Levamos uma canoa de madeira no caminhão madeireiro do João Cor de Rosa, com seu motorista que tinha o apelido de Campeão. Lá no rancho, tinha outro barco, também de madeira, que pertencia ao Bastião Satiro.
Chegamos lá, arrumamos as tralhas e dividimos as turmas nas duas canoas. Em uma, fomos eu, Marlindo e Walter Nunes e na outra foram Zé Jorge, Mané Mendonça e Orlando Trajano. Naquele tempo, andávamos no rio quase como de motor. Era um bom de remo e os outros dois no varejão. Fomos do rancho do Satiro até a barra dos rios Escurinho e Paracatuzinho remando. O calor estava quase insuportável e nós suávamos às bicas. Pescamos bastante e voltamos para o rancho.
Nosso barco veio bem na frente e o barco que estava Zé Jorge ficou bem atrás. Chegamos ao rancho, fomos acender o fogo para aquecer a água do chuveiro para o banho da turma antes do jantar. Nós todos estávamos cheirando mal, pois naquele tempo não se usavam os desodorantes que se usam hoje. Até que a água se aquecia, resolvemos passar limão galego com sal nos sovacos para melhorar o cheiro e até hoje não sei qual de nós deixou o pedaço de limão em cima da mesa.
Daí a instantes, chega o outro barco e Zé Jorge vai direto para o rancho, com a garrafa de pinga na mão e fala:
– Vou tomar este restinho de pinga sozinho para completar justamente um litro, só eu, de cedo até agora.
Vira a pinga de uma só vez na garganta e pega o pedaço de limão-desodorante e sai chupando. Nós começamos a rir e ele sem saber de nada, já começou a apelar:
– Que que é, cambada? Podem falar. Vocês aprontaram alguma em cima de mim. Podem falar o que é.
Aí eu falei que ele estava chupando o limão que um de nós havia passado no sovaco. O homem virou uma fera, falou em bater, em matar, que não ia pescar conosco mais nunca etc., etc. Mas no outro fim de semana, saímos para outra.
* Fonte: Texto de Wanir Amâncio publicado na coluna Pesca & Prosa (Tião Abatiá) na edição de 25 de setembro de 1993 do jornal Folha Patense e republicado no mesmo jornal na edição de 14 de outubro de 2017.
* Foto: Muraljoia.com.