SEBASTIÃO CÂNDIDO DE OLIVEIRA (TOTÓ)

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TotoNaquele mês de outubro de 1945, nascia num vilarejo do município de Patos de Minas, o menino Sebastião Cândido de Oliveira. Tudo seria festa, se não fosse uma paralisia dos membros inferiores que comprometia também, parcialmente, o tronco. Mas, com o tempo, os pais e o próprio Sebastião, foram se adaptando àquela forma de vida; em vez de andar, o pequeno Sebastião engatinhava. Em vez de falar, sorria. Mas, sempre ouviu tudo, até hoje. Aos cinquenta anos de idade, Sebastião Cândido de Oliveira é um personagem vivo do folclore patense, que há 21 anos “estende a mão” numa esquina do centro da cidade, pedindo esmolas, onde os transeuntes o conhecem como “Totó”. Apelido dado pelos pais ainda em vida.

No dia 25 de outubro próximo, Totó irá completar 51 anos. Pesa 16 quilos. Segundo sua mãe (madrasta), “nunca soprou uma velinha”. Quem passa na esquina da Major Gote com a Rua General Osório, precisamente, na esquina da Casa Comercial Sinhozinho, vê Totó, com seu bandolim movido a pilhas, onde apertando alguns botões, emite um som de cordas, disritimado, mas que, para ele, é uma melodia bonita, o seu mundo. Sorri para todos, agradece cada moeda depositada na caixa de sapato, observado pela mãe-madrasta que murmura: “é pouco”.

Totó não é triste. Não é descortês. Faz pose para o fotógrafo e observa tudo ao seu redor com um olhar cheio de paz. É sempre calmo. Lógico, às vezes se irrita com a mãe-madrasta, que controla tudo.

Os dois moram juntos. Ela cuida de Totó, aproximadamente vinte anos. Moram numa casa humilde, afastada do centro da cidade. Totó, até hoje, ainda dorme num berço, com grades firmes. À noite, tem pesadelos. O berço é para sua segurança. Mas, a vida de Totó não é tão parada como alguns pensam. Em casa ele assiste TV, arrasta-se pela casa e através de sinais pede comida e bebida para a mãe-madrasta. Dorme cedo. Acorda cedo. Nunca foi a escola. A mãe-madrasta, recorda que Totó andou ensaiando umas letras e uns tais de desenho, mas desistiu. Bola nunca jogou.

Tem bons amigos na rua onde mora. Observa, com encanto as brincadeiras; as palavras dos amiguinhos. Participa, com seu olhar, com seus pensamentos, cada gesto.

Dias atrás, teve uma gripe forte. Mas, dificilmente adoece. Come de tudo. Totó, tem o sentimento de deleite, enlevo, respeito pelo pessoal da zona rural, tanto que, muitos fazem promessas para Totó. Sempre quando desejam adquirir alguma graça. E quando a graça é alcançada, dão-lhe presentes e enchem o pequeno Totó de agradecimento, com toda a fé depositada. Muitos deles, afirmam que Totó, é um anjo, que não nasceu para andar, mas para voar.

O universo de Totó não é o escuro. Vê-se quando do seu sorriso, do seu olhar. Dentro dele, deve morar um anjo. Como diz uma certa canção, quem sabe, um anjo de cara pintada, desses que vivem, fazendo sorrir. O que Totó sonha, o que ele deseja da vida, ninguém sabe. Claro, ele não fala.

Dos seus desejos, das suas angústias, das suas alegrias, quem sabe é ele.

Imaginamos que, Totó deve ter tido uma infância, uma adolescência difícil. Mas imaginamos também, a graça com que foi concebido. Imaginamos suas aspirações, de viver a vida intensamente, dentro de uma história de vida simples, que já faz meio século.

* Fonte e foto: Texto de Riba Araújo publicado com o título “A História de Totó” na edição de 15 de julho de 1995 do jornal Folha Patense, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

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