SEBASTIÃO FERNANDES SANTIAGO, O SEBASTIÃO SANTEIRO

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tiao 6Nascido em 11 de junho de 1946 na pequena localidade de Santiago, distrito de Presidente Olegário, Sebastião Fernandes Santiago trouxe consigo o dom, a capacidade de criar com as mãos, em um simples pedaço de madeira, lindas e delicadas esculturas, repletas da mais pura expressão artística. Filho de carpinteiro, ele aprendeu desde pequeno, ainda, na oficina de seu pai, a manejar o formão, ferramenta que lhe daria condição, anos mais tarde, de exprimir todo o sentimento criativo embutido em sua alma de entalhador. É casado com Gasparina Gomes da Silva Santiago, desde o dia 07 de junho de 1970. Tem três filhos: Heleno, Emílio e Sérgio.

O velho carro de boi esteve presente em sua infância na roça, e nas oportunidades em que não candiava as disciplinadas juntas de boi puxando estrada afora o carretão gemedor, reclamando pelos cocões do peso que carregava, o menino Sebastião corria para brincar com seu carrinho de caule de buriti. Mas ele fazia de tudo um pouco; capinava, arava, plantava e colhia, que a labuta campesina não é fácil e por isso já se disse, certa feita, que o sertanejo é antes de tudo um forte. E que outra coisa é o roceiro, no bom sentido, que não um sertanejo, um rude e silvestre batalhador contra as pirraças da natureza?

Mas os anos se passaram e em 1976, trinta anos depois, casado e morando em Pindaíbas, distrito de Patos de Minas, Sebastião Santeiro dividia suas horas de trabalho entre o cuidar das plantações e o entalhamento de santos em madeira maciça. Aposentado em virtude da precariedade de sua saúde, que lhe impedia o trabalho braçal de sol a sol, no amanho da terra, ele foi ampliando suas atividades de artista e aí então começaram a surgir as oportunidades. As lindas peças confeccionadas com esmero, com capricho, com amor, também, tornaram-se conhecidas e apreciadas. Utilizando ferramentas por ele mesmo fabricadas, foram sendo criadas obras diversas: um carro de boi completo, com canga, canzil, cambão, carreiro e ferrão, tendo ainda laço, cabaça com água, enxada, foice e esteira tecido pelo próprio artista; e uma santa, um homem arando a terra, uma viola, a roda de fiar, Jesus crucificado, e assim por diante. Sebastião foi esculpindo em peças de cedro figuras belíssimas, cheias de harmonia, completas em seus detalhes: Santo Antônio e São José, São Sebastião, Imaculada Conceição, Senhora Aparecida, São Geraldo, Jesus ressuscitado, São Cristóvão, Sagrado Coração de Jesus e Maria, e tantos outros trabalhos. A primeira peça artística criada por Sebastião Santeiro foi entalhada em cedro (Imaculada Conceição) e faz parte do acervo particular de Marialda Coury.

Sobre o nome “Santeiro”, o próprio Sebastião explica: “Comecei a levar algumas imagens para Brasília, onde trabalhava vendendo minhas telas. Uma boa oportunidade para quem gosta de arte sacra. Eu levava sem compromisso, mas sempre voltava com o dinheiro na bolsa. Para enviar o recado, usava o Programa do amigo Patrício Filho, na Rádio Clube de Patos: – Alô, Alô, Tião Santeiro, a Dona Marialda Coury chegou de Brasília e trouxe o seu dinheiro dos santos. – Tá ficando rico, heim Tião? Assim eram dados os recados, o meio de comunicação mais rápido. O apelido ficou para sempre: Tião Santeiro”.

Dentre os trabalhos de Sebastião Fernandes Santiago destacam-se: um presépio com 6 peças, doado ao acervo cultural de Patos de Minas; São Cristóvão, com 70 cm, na capela do 15.º Batalhão, em Patos de Minas; São Geraldo, com 1,50 m e Cristo Crucificado, com 2 metros, ambos na Igreja de São Geraldo, em Patos de Minas; Cristo Ressuscitado, com 2,10 m, na Igreja Nossa Senhora do Rosário, em Patos de Minas; Santa Ceia, escultura individual, pertencente ao acervo de Calimério Babilônia, de Lagoa Formosa.

Seus filhos Heleno Geraldo Fernandes e Emílio Aparecido Fernandes seguem os passos dados pelo pai, e da convivência no meio rural cresceu a inclinação pela criatividade. Enquanto Heleno produz carros de boi e monjolos, Emílio envereda por um caminho diferente, ousado, traços mais fortes executados com o formão, mas cada um deles procurando extrair do fundo da alma a marca inapagável de suas raízes, buscando realizações distintas em rumos também diferenciados.

No dia 20 de maio de 1996, a agência local do Banco do Brasil inaugurou o “Espaço Cultural Banco do Brasil”, e Sebastião foi convidado para expor, juntamente com seus filhos Heleno e Emílio, através da coordenação da Casa da Cultura. Todos os trabalhos foram comercializados, o que demonstra a importância do espaço como oportunidade para os novos valores culturais e artísticos. Eles participaram ainda da tradicional Exposição de Artes Plásticas, na 38.ª Festa Nacional do Milho, promoção da UNART (União dos Artistas Plásticos de Patos de Minas) e denominada Cores da Terra, realizada em 31 de maio.

Sebastião Santeiro prossegue em sua jornada, conservando a alma simples do interiorano humilde, mas com enorme, com imenso talento. As dificuldades para a comercialização dos trabalhos são muitas, quase todos feitos sob encomenda. O artista autodidata participa de exposições (já mostrou no Espaço Cultural Zumbi dos Palmares/Câmara dos Deputados em Brasília e até na Itália), de feiras, levando ao público sua obra que se espalha já por muitos lugares, estando presente em Patos de Minas, Belo Horizonte, Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Uberlândia e até no exterior.

Tião Santeiro esteve doente por um longo tempo, mas não se abateu, e hoje já curado novamente volta a entalhar na madeira cedro as suas imagens. No ano passado foi convidado a participar do 2.º Balaio de Arte e Cultura na 54.ª Festa Nacional do Milho.

Sebastião Santeiro, juntamente com seus filhos, resgata em seu trabalho as tradições do interior mineiro e os anos de produção artística marcam a vida do escultor de Pindaíbas.

* Fonte: Compilação de dois textos de Marialda Coury, um publicado na edição n.º 5 do jornal O Tablóide de 01 de julho de 1996 (arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann) e outro publicado na edição n.º 1.014 do jornal Folha Patense de 29 de setembro de 2012.

* Foto: Programa Triângulo das Geraes.

NOTA: Veja um vídeo do escultor em http://close.com.br/triangulodasgeraes/o-escultor-tiao-santeiro/

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