Durante 50 anos o Cirurgião Dentista Sebastião Borges de Amorim, formado em 1945 pela Faculdade de Odontologia e Farmácia da Universidade de Minas Gerais, exerceu a profissão num único endereço: Rua Major Gote n.º 719, entre as ruas General Osório e Olegário Maciel. “Não me esqueço da data: foi em 26 de abril de 1946, com a grande honra da bênção do Monsenhor Fleury. Esse dia foi só da inauguração do consultório. No outro dia eu abri e iniciei a minha profissão e lá naquele endereço trabalhei até 1996, quando já cansado e por causa dos problemas de saúde de minha esposa resolvi me aposentar”.
Nascido em Patos de Minas no dia 20 de janeiro de 1920 na casa do avô João Gualberto de Amorim, localizada na esquina da Avenida Getúlio Vargas com Rua Afonso Pena, na antiga Praça da Matriz e hoje Praça Dom Eduardo, Sebastião Borges de Amorim é um dos 6 filhos de Olívio Borges e Olímpia Caixeta de Amorim Borges. O pai trabalhou como gerente de negócios do Armazém Borges & Amorim e posteriormente da Casa da Confiança, de Virgílio e Deiró Borges, na esquina da Rua General Osório com Avenida Getúlio Vargas. Em 1927, Virgílio convidou Olívio para gerenciar o Hotel da Luz. Pouco tempo depois veio a sorte grande para o pai de Sebastião, quando ganhou uma quantia significativa na Loteria Federal. Resolveu, então, fazer uma oferta para comprar o hotel. Virgílio aceitou e Olívio o administrou até 1948.
Sebastião Borges de Amorim iniciou os estudos no Grupo Escolar Marcolino de Barros. Lá estudou até o terceiro ano primário. Fez o 4.º ano na Escola da Dona Madalena. Os cinco anos de ginásio foram completados no Ginásio Diocesano de Uberaba. Em 1939 foi para Belo Horizonte cursar a faculdade, onde se formou em 1945.
Um ano e meio após a inauguração de seu consultório odontológico na Rua Major Gote, Sebastião se casou aos 27 anos de idade com Natália Brandão, um verdadeiro amor à primeira vista. “Naquele tempo tinha o Baile da Primavera na Recreativa, eram concorridíssimos aqueles bailes, era tão bom que tinha até ensaio. E foi num desses ensaios que eu conheci a Natália. Foi no dia 21 de setembro de 1946. A gente estava ensaiando e a Elza, irmã do Geraldo Borges, me apresentou uma moça recém-chegada de Formiga que era de família amiga deles. Pois não é que nós ficamos noivos em dezembro? Quando chegou em outubro do ano seguinte nos casamos”. Sebastião e Natália tiveram seis filhos: Paulo Henrique, Maria Célia, Maria Letícia, Maria Olívia, Maria Nazaré e Carlos Henrique.
Sebastião Borges de Amorim não se esquece dos tempos de rivalidade política-religiosa entre os Borges e os Maciel. Mas, comedido, prefere não se enfronhar muito no assunto. Diz apenas que naquele tempo muitas e muitas vezes as coisas foram resolvidas na base da bala. “Quando o Farnese (Dias Maciel) morava na Fazenda Gameleira, toda vez que vinha à cidade se hospedava na casa de meu avô e sempre cumprimentava com educação o meu pai”.
O esporte favorito de Sebastião nos tempos de juventude foi o futebol. No Ginásio Diocesano de Uberaba fazia parte do time da escola. Em Patos, tinha um time de jovens que chegou a jogar no campo da URT quando era murado com taipas de barro e o pessoal ficava escorado nele para assistir aos jogos. Essa turma costuma jogar na hoje Praça Ibrahim Pereira. “O Ibrahim Pereira da Fonseca tinha uma máquina de arroz naquele lugar e jogava as palhas de arroz na praça, que naquele tempo não era praça, era um descampado, praticamente não tinha casas. Então espalhamos as palhas, botamos as duas traves e lá jogávamos, o nome do time era Sete de Setembro. Uma vez jogamos no campo da URT e eu não esqueço o time: Waldir Nascimento, Fábio e Teufredo, Zé Fonseca, Ofílio e Ozanan, Eu, Zaminha, Antônio do Zama, João do Zama e Zé Miúdo”.
Sebastião Borges de Amorim se sente realizado profissionalmente. Numa época de parcos recursos tecnológicos, era uma espécie de “faz tudo”, pois além do trabalho bucal propriamente dito, confeccionava dentaduras. O maior orgulho é quando se depara com alguém na rua e lhe mostra uma dentadura de muitos anos feita por ele ainda em pleno funcionamento. E a maior decepção, foi quando, ao se aposentar, ter doado à ABO alguns itens de seu trabalho, como maquinários, livros e até um crânio que tinha um dente de ouro. “Uma vez fui lá fazer uma visita e estava tudo empoeirado e jogado nos cantos e até o dente de ouro do crânio tinha sumido”.
Mesmo com a grande quantidade de “práticos” que existia na cidade no início de carreira, ele seguiu em frente e até relembra alguns fatos pitorescos, como esse: “Certo dia o Bertiê Borges foi ao meu consultório para eu lhe extrair um dente que doía muito. Examinei bem e percebi que não tinha como recuperar, era tirar mesmo. Anestesiei e quando encostei o boticão no dente o Bertiê me encostou uma faca na barriga e disse: – Se doer aqui dói também na sua barriga! Levei um baita susto e logo vi o Bertiê rindo pra caramba, pois era uma brincadeira dele. Mas eu me assustei, e foi muito”.
Transcorridos tantos anos de vida, Sebastião Borges de Amorim é um patense que contribuiu e muito para o progresso da cidade e centenas de cidadãos carregam até hoje em suas bocas a qualidade profissional de seu trabalho honesto. Considera-se um homem feliz, com muitas alegrias, e a única tristeza que o amargura até hoje é a morte da esposa Natália em 14 de setembro de 2003. Hoje, aos 96 anos de vida, 11 netos e 4 bisnetos, vive satisfeito ao lado da prole e pretende, com determinação, passar e muito de um século de vida.
NOTA: Sebastião Borges de Amorim faleceu em 12 de abril de 2016.
* Texto e foto (19/01/2016): Eitel Teixeira Dannemann.