Era hábito usual antigamente os médicos atenderem seus pacientes nas respectivas residências, desarmados das tecnologias diagnósticas de hoje. Na enorme maioria dos casos, o doutor chegava, examinava, explicava tudinho aos familiares do doente e de prontidão cravava o diagnóstico. Os erros, muito poucos. O hospital só era necessário em casos que realmente requeria tal procedimento. Hoje, é muito difícil um médico confirmar um diagnóstico sem um mundaréu de exames, exames estes que, para alívio dos médicos, são os diagnósticos. Ainda bem, graças, que eles, os médicos, existem, pois sem eles nossas vidas seriam efêmeras.
Voltando no tempo, o Dr. Euphrasio morava e atendia em seu consultório na Rua Olegário Maciel, antes da esquina da Major Gote. Como hábito dos médicos de antigamente, seus atendimentos em domicílio eram constantes. Dizem as boas línguas de quem o conheceu que, certa vez, foi atender um paciente na Avenida Getúlio Vargas. De imediato, pediu aos da família que se retirassem do quarto onde estava acamado o doente e fechou a porta. Passado um minuto, ele abriu a porta:
– Tragam-me um alicate.
O alicate foi-lhe entregue e um minuto depois, outro pedido:
– Tragam-me uma torquês.
A torquês foi-lhe entregue e nessa os familiares já estavam mais do que impacientes, sem trocadilho, imaginando os piores horrores. Mais um minuto, e outro pedido:
– Por favor, vocês têm óleo lubrificante Singer?
O óleo lubrificante Singer foi-lhe entregue e os familiares já estavam naquela de, dane-se, entrarem no quarto. Mais uns dois minutos e outro pedido:
– Por favor, tragam-me um serrote, um serrote…
Foi o suficiente para os familiares não suportarem mais a tensão e assim adentraram ao quarto. E lá estava o Dr. Euphrasio tentando abrir a fechadura de sua maleta para retirar seus instrumentos de consulta. Para felicidade geral de todos, a fechadura foi rompida, a consulta foi realizada, o diagnóstico foi feito, o tratamento positivo e o paciente pôde, em pouco mais de uma semana, voltar às suas atividades na fazenda, ele que, na época, era um grande criador de gado Guzerá com alguns reprodutores importados da Índia.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.
