É CAPAZ QUE AINDA DÊ CERTO

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TEXTO: RAFAEL GOMES DE ALMEIDA (1977)

Desde a fundação da Associação Comercial e Industrial de Patos de Minas, tenho seguido com muito interesse a vida daquela Entidade. Antes mais de perto, agora mais afastado, mas de uma forma ou de outra dei muito de mim para que tivéssemos um espírito empresarial associativo, aonde os interesses de todos pudessem repousar numa só organização.

Há poucos dias, li a coluna da Associação e pude observar que as reclamações que o Presidente faz agora, são as mesmas que se fazia em 1957, “O associado só se lembra da Entidade na hora da precisão!”

Isto significa dizer que, como entrosamento comunitário não tivemos o menor desenvolvimento. Não se pode e nem se pensa em culpar a Entidade, mas existem detalhes que devem ser encarados de frente, sem muito medo, ou preferencialmente, sem medo nenhum.

Depois li, na mesma coluna, “que a Entidade se preocupa com a concorrência suicida, aonde todos saem mais pobres”.

Isto significa dizer que muita coisa pode ser feita e precisamos ter a coragem necessária para dar o primeiro passo, ainda que a jornada seja de 100.000 léguas.

Somente para citar exemplos gritantes e recentes em nossa cidade, vamos citar dois exemplos que merecem de nossa Entidade e até mesmo da Câmara dos Vereadores, protestos veementes para se coibir o anonimato de nossa cidade. Está certo que no jornalismo de interior, ficamos rapidamente, conhecidos e no fundo não conhecemos ninguém. Como temos compromissos com a comunidade, vamos escrever para a comunidade.

PRIMEIRO EXEMPLO: Como a Nestlé não entrou por aqui, o leite produzido em Patos está sendo beneficiado e vendido para duas empresas, sendo uma, genuinamente, patense e a outra aqui radicada. Até aí tudo bem. Mas nós sabemos que a Cooperativa luta com todas as suas forças para a sobrevivência, enquanto a outra compra o nosso leite, aqui fabrica o produto e na hora de rotular, colocam: “PRODUZIDO EM SÃO LOURENÇO”, ou no diabo que o carregue. Ora, se isto está certo, paciência!

SEGUNDO EXEMPLO: Há poucos dias, uma modesta empresa que começava a proliferar em nosso meio, com capital patense causando emprego para os patenses, foi, pode assim dizer, arrematada por uma firma de Patrocínio que aqui deixou o imóvel e o desemprego, levando as máquinas e nova fonte de emprego para aquela cidade.  Isto seria compreensível se, por trás dessa transação, não existisse interesse de eliminação de concorrência por parte dos patenses que trabalham no mesmo ramo. Aliás, no gesto magnânimo, parece até que o patense ficou com o imóvel para facilitar a saída das máquinas. Atitude como esta deve merecer o nosso repúdio e se for o caso, devemos até levar serviço para Patrocínio para provar o nosso protesto e a nossa revolta.

Assim sendo eu me congratulo com os dirigentes da ACIPM, mas fica registrado o meu protesto contra estes atos praticados na nossa cidade e contra o interesse de nossa gente. Como conheço muito bem a intenção da diretoria da Associação, tenho certeza de que medidas serão tomadas para evitar a concorrência suicida, como será retornada ou revitalizada em Patos a empresa que daqui se foi e o leite patense, utilizado em fabrico de laticínios será considerado como PRODUTO FABRICADO EM PATOS DE MINAS.

Se nada disto acontecer, só nos resta continuar naquela de plantar abóboras no Alto Paranaíba, jogar a abóbora fora e depois comprar as sementes lindamente rotuladas e com dizeres internacionais: “Made in Japão”. A gente tem que concordar que isto é dose prá jerico!

* Fonte: Texto publicado na coluna “Da Minha Fazenda Grande”, da edição de 03 de setembro de 1977 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Institucional.

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