TEXTO: RAFAEL GOMES DE ALMEIDA (1976)
Meu caro locutor, enquanto que os cães ladram, a caravana passa. Este pensamento não deve jamais sair de sua mente, quando pessoas maldosas insinuam que você faz o movimento “Folia” para proveito próprio, mandando parte para o Dispensário.
Existem, meu caro Patrício, pessoas que não suportam ver o bem que a gente faz neste mundo e se valem de todos os expedientes para acabar com a reserva moral, com o mundo de caridade, com o mundo de desprendimento que existem em cada um de nós. Você, deve estar imune às acusações que possam fazer contra o seu trabalho. Na humildade que desenvolve o seu serviço, nunca vi um dado comparativo entre a renda das “Folias” e as verbas públicas devotadas ao Dispensário. Sem menosprezo ao Poder Público, o seu trabalho é de muito mais valia. E tem outro detalhe: – As pessoas que concorrem para as arrecadações da “Folia”, são pessoas que dão um pouco de si, e não as sobras de seu banquete farto. São homens humildes é bem verdade, e exatamente por isto mais autênticos que tantos que atiram as pedras e escondem as mãos. Por isto, Patrício, eu acho que é válida a sua dor e compreendi o seu desabafo mesclado com pranto. Deixa de lado e dê a volta por cima. Você e seu trabalho são mais importantes que esta mesquinharia que anda por aí!
Mas agora Patrício, vamos falar de um assunto tão importante quanto o acima abordado.
Você sabe que os foliões são os mesmos homens que sangrando a terra, produzem a riqueza e produzindo a riqueza são os donos maiores de nossa Festa do Milho. No entanto, quando chega a Festa, estes homens não participam do desfile, empunhando as suas enxadas, manobrando os seus carros de boi, trazendo para o asfalto o suor bendito do rosto cansado e o sorriso sofrido.
Já é tempo, se não for possível do dia final, pelo menos que se lembre de fazer um desfile para esta gente. Trazê-los para receber o nosso carinho, o nosso aplauso e nosso incentivo. Poderia se fazer o desfile pelas micro-regiões rurais, porque, no ano passado, Pindaíbas deu um show de bom gosto e autenticidade em nossa terra.
Em 1971, os nossos foliões foram donos de nosso folclore na TV Itacolomi. Desde a primeira Festa do Milho, quando a festa era só de nossa cidade, o homem do campo só recebeu uma homenagem e por certo nem sabe que a recebeu: – a estátua ao lavrador que se encontra na Getúlio Vargas.
Para tanto Patrício, seria bom que você assumisse em seu programa sertanejo, um compromisso com os nossos caboclos: – vocês irão desfilar na avenida, porque no trabalho sofrido do homem do campo, recebemos uma lição de humildade e de união, quando a gente simples da roça doou mais de Cr$ 100.000,00 (cem mil cruzeiros) para o dispensário de São Vicente.
É claro, Patrício, que isto provoca uma certa inveja em tantas pessoas que tendo muito, não aprenderam a doar nada. O que não é claro é que nós passemos a aceitar o desafio excuso dos maldizentes e não procuremos retribuir, no mínimo com o nosso carinho, a esses heróis anônimos que, donos da festa, se quedam esquecidos por nossa omissão, principalmente, quando nunca se furtaram a ser respostas diante de nosso chamamento.
Por tudo que você já fez; pelo muito que você tem a fazer em favor de nossa comunidade; pela grandeza de pranto ao suportar as agressões que você não merece, tenha fé em seu trabalho e acredita que as más línguas vão ficar felizes com a sua dor, mas por tudo isto, eu lhe digo, em nome de nossa gente, VÁ EM FRENTE E QUE DEUS LHE PAGUE, PELA GRANDEZA DE SEU TRABALHO!
* Fonte: Texto publicado na coluna Tiro de Canto da edição de 05 de fevereiro de 1976 do jornal Folha Diocesana, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Arquivo do jornal Folha Patense.