Quase ao lado do Edifício Ponto Chic, na Rua Major Gote, existiu um imóvel de dois andares construído por Afonso Queiroz em 1930. Afonso morou no andar de cima e no térreo funcionaram dois comércios que são lembrados até hoje: a Barbearia do Joãozinho e a loja de material elétrico comandada por Acir Marques¹. Certa vez, um sujeito aparentando uns 40 anos adentrou ao salão com um menino de uns 8 a 9 anos. Chegando a sua vez, o homem solicitou corte de barba e cabelo. O Joãozinho, como sempre, efetuou um serviço de primeira qualidade, deixando o cliente satisfeito. Admirando-se ao espelho, o sujeito disse:
– Enquanto você corta o cabelo do garoto vou até ali na Casa do Gérson pagar uma conta.
Praticando o serviço, o barbeiro reparou que o garoto estava vestido com roupas surradas que não condiziam com um pai zeloso. Terminado o corte, o pai ainda não havia voltado da Casa do Gérson. Então o Joãozinho falou ao menino:
– Senta ali e espera seu pai voltar.
– Ele não é meu pai − respondeu o menino.
Tudo bem, então ele deve ser seu tio, um outro parente ou um amigo. De qualquer modo você vai ter que esperá-lo voltar.
– Mas ele não é nada meu – retrucou o garoto.
Nessa o Joãozinho coçou a cabeça e ficou sem entender a situação. Intrigado, perguntou:
– Ora, se não é seu pai, se não é nenhum parente seu e também não é amigo, então, ora bolas, quem é aquele sujeito?
E o menino com uma candura de assustar respondeu:
– Não tenho a mínima ideia, nunca vi aquele cara na minha vida, ele me viu ali na esquina e disse que ia pagar o meu corte de cabelo.
* 1: Leia “Três Imóveis da Rua Major Gote na Década de 1980”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.