TEXTO: JORNAL O TRABALHO (1908)
A Egreja Catholica, que muito se inspira nos sentimentos de caridade e de amor, ensina e aconselha a seus adeptos que a elles cabe o dever humanitario de desenvolver o maximo interesse e a mais efficaz das dedicações para salvar das graves consequencias do vicio, repellente e ignobil, as naturezas fracas, que a elles inconscientemente se entregam, graças á ociosidade, ás más companhias e aos máos incitamentos, partidos de espiritos obsecados e pervertidos.
Entre todos os vicios que podem sacrificar o homem maculando o seu caracter, enfraquecendo sua saude e extinguindo as energias sãs de sua consciencia moral, especialmente na fase ditosa da juventude, acreditamos poder assignalar o alcool e o fumo, a que infelizmente vemos todos os dias entregue grande numero de creanças, abandonadas do carinho e protecção de seus paes e educadores e que assim preparam para si as horas mais amargas nos dias incertos do futuro.
Dizer o que produz o alcool, os infortunios e irreparaveis desgraças que elle fatalmente determina, é repetir inutilmente o que está na consciencia e convicção de todos e que dispensa a mais simples demonstração, tão evidentes, sensiveis e graves são as consequencias que se prendem ao seu uso ignobil e perigoso.
Em escala inferior, é certo, figura o fumo, mas que, por sua nefasta influencia sobre a saude do individuo, difficultando-lhe as digestões, prejudicando a vista, enfraquecendo a memoria e produzindo outros males de natureza differente, é egualmente comndemnavel, e que, entretanto, é considerado com relativa indifferença por não apresentar immediatamente os tristes effeitos da acção nociva que exerce sobre a economia humana.
Estas palavras não têm o fim de desenvolverem uma dissertação completa em relação aos abusos e inconvenientes inherentes a estes vicios e não traduzem mais do que a voz do alarma, no intuito de despertar os sentimentos generosos das almas crentes, convidando-as a se reunirem em uma santa cruzada, contra os terriveis efeitos de tão perniciosos habitos, a que se prendem tantos infortunios sociaes.
É sobremodo extranha a attitude dos chefes de familia, assistindo com pasmosa indifferença ao desenvolvimento das primeiras chammas, que inexhoravelmente hão de arrastar a ruina de seres a quem devem educação, carinho, amor e proteção!
No principio é por demais facil impedir que taes habitos se desenvolvam, mas, uma vez radicados nos costumes, extirpal-os é tarefa de embaraços e difficuldades muito superiores á energia humana e á mais sincera bôa vontade de coração.
O alcool é que dá a triste razão do crescente augmento da estatistica criminal em todos os paizes e, alem de sombrio effeito, são incalculaveis os damnos por elle causados no desenvolvimento da familia, condemnando a prole a molestias grevissimas, filiadas á negra tara de um vicio degradante e repulsivo.
Todos os sentimentos honestos e dignos são duramente aniquilados pelo alcool, que, com a corrupção dos costumes, degrada o caracter, extinguindo o brio, o amor ao trabalho, a dedicação pela familia, o respeito pelo cumprimento do dever, tudo emfim que nobilita e eleva o homem no conceito de seus concidadãos.
Para impedir tão grandes e insuperaveis males, nada tem tanta efficacia e poder como a iniciativa generosa e fecunda das almas sinceramente devotadas e crentes na religião de Jesus, e por isso para ellas appellamos, na consoladora certeza de que não clamaremos em vão, solicitando sua bôa vontade e valorosa interferência em favor de um problema, a que tão de perto se prende a felicidade da patria.
Jonjamo.
Do “S. Paulo”.
* Fonte: Texto publicado com o título “Alcool e fumo” na edição de 25 de outubro de 1908 do jornal O Trabalho, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.
* Foto: Início do primeiro parágrafo do texto original.