Lá pelos idos de 1968, quase toda manhã o Atanásio visitava seu compadre Gérson que morava na Avenida Getúlio Vargas. Era um costume muito comum naqueles idos tempos as pessoas se encontrarem para um bate-bate no alpendre das residências que raramente tinham muros altos, costume esse que praticamente não existe mais. Então, no alpendre da residência os dois compadres proseavam à vontade saboreando um delicioso café.
Certo dia, o cãozinho do Gérson chegou com um jornal na boca e o depositou no colo do dono. Depois de receber um carinho, o animal se mandou para dentro da casa. O Atanásio considerou aquilo muito do engraçadinho, mas não comentou nada, ficando apenas em sua imaginação que o amigo tinha uma assinatura do jornal e o dito cão, muito do bem treinado, ia busca-lo na redação.
Alguns meses após, depois da cena repetida inúmeras vezes, o Atanásio reparou que o jornal era a Folha Diocesana. Aí não aguentou mais a curiosidade:
– Compadre, estou realmente impressionado com esse seu cãozinho. Nunca tinha visto um bichinho assim tão bem treinado para sair de casa e voltar com um jornal na boca. Foi custoso você treiná-lo para ir buscar o jornal na redação? Se todo assinante tivesse um cachorro treinado como o seu para buscar o jornal não precisaria mais de entregadores, né.
– Nada disso, compadre, não treinei ele não, nem assinatura de jornal eu tenho. Um dia o danadinho apareceu aqui com um jornal na boca e não parou mais. Eu nem sei aonde ele pega o jornal, acho é bão demais da conta.
– Mas aí o trem ficou esquisito, compadre, por que ele só pega a Folha Diocesana?
– É por isso que ele é o cão mais inteligente, se não do mundo, pelo menos daqui de Patos de Minas.
– E o que tem a ver com inteligência ele só pegar a Folha Diocesana?
– Ora, sô, muito simples: além dele ser extremamente religioso, por isso só pega o jornal da Diocese, ele não gosta nadinha do Zé Maria, que um dia passou aqui na porta e danou com ele¹. É ou não é o cão mais inteligente de Patos de Minas?
* 1: Em 1968, além da Folha Diocesana, circulava o Jornal dos Municípios, do José Maria Vaz Borges, que danou com o ardiloso cãozinho.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.
