MULHER DE SETE METROS, A

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Até o ano de 1911 o segundo cemitério de Patos de Minas funcionou onde se localiza hoje o Fórum Olympio Borges. Naquela de mexer nas ossadas e transferi-las para o novo local, parece que teve alguma alma que se sentiu ultrajada em seu sossego e não se conformou com a mudança de endereço. Talvez já conturbada pelo passado amargo que proporcionou aos próximos enquanto vivos, sabe-se lá, o negócio é que ela se revoltou com a mudança. Assim dizem, e como diz o ditado, onde tem fumaça tem fogo.

O que contam é que a tal alma penada tinha o nome de Lavi Lopes e quando em vida morava no centro próximo à Matriz (alguns dizem que era próximo à residência de Olegário Maciel, outros que era na Rua Tiradentes, e outros…). Possuidora de muito dinheiro (era fazendeira) e escravos tinha o hábito de fazer turismo no Rio de Janeiro. Nestas viagens todos respiravam aliviados. Acontece, dizem, que a mulher era mancomunada com o tinhoso, pois era ruim de doer, sobretudo com os vários escravos que possuía. Um dos “esportes” favoritos dela era jogar gordura quente nos criados quando eles não lhe obedeciam adequadamente. A revolta contra a tirana era imensa, tanto que numa oportunidade uma escrava mandada ao tronco abraçou a patroa com a intenção de jogá-la numa cisterna. Não precisa dizer o desfecho da história.

Outro gosto favorito da mocréia era pisar com seus fabulosos sapatos de salto alto nos filhos dos escravos, principalmente quando engatinhavam à sua frente. Invariavelmente as crianças tinham vários ossos partidos e a cruel não permitia que fossem tratados. Sabe-se lá o que acontecia com eles depois.

O tempo passa e tipos como a malvada, mesmo em família, começa a viver isolada. Assim foi até que todos a abandonaram. Não se sabe quanto tempo viveu. Dizem que na velhice avançada viveu sozinha e sem o conforto de então, e melhor dizendo estava na miséria. Outros dizem que quando morreu totalmente solitária seu cadáver metia medo, pois não fechou os olhos nem a boca e, pior, ficou com a língua de fora.

Será mesmo que a malvada não se conformou com o ultraje de cavucar o seu lar no cemitério e por isso danou a assombrar as pessoas?

Cláudia Guimarães Maia e Ms. Helânia Cunha de Sousa Cardoso pesquisaram sobre folclore. Em seu trabalho “O Resgate dos Causos da Região do Alto Paranaíba e do Noroeste Mineiro Como Possibilidade de Reconstituição da Memória Cultural” elas citam a mulher de sete metros de Patos de Minas através de um depoimento de Sebastiana Maria Castro, 84 anos, analfabeta e aposentada. Eis o que a senhorinha diz (de acordo com o vocabulário dela):

“Aqui em Patos, sempre , eles falava muito na mulher de 7 metros e nós morava lá perto onde era o campo, lá em baixo, campo do URT. Aí nóis morava lá… tinha o campo… mas não tinha como é hoje. E aí nesses tempo eu tinha uns 10 anos, mais ou menos, e aqui, na bera da lagoa, tinha um lugar onde os homens juntava tudo pra jogar toda noite, e meu avó era doido por causa dos jogo. Aí um dia ele foi daqui pra lá, de madrugada, sozinho quando ia pra lá da cadeia, na rua Tiradentes, apareceu aquela mulherzinha lá longe. Aí ela veio chegando e foi crescendo, e foi crescendo… quando ela chegou pertinho deles, ela ficou alta mesmo… aquele mundo mesmo. Ele olhou pra cima e ele não agüentou e desmaiou… desmaoiou quando foi no outro dia é que achou ele lá, assim.  Ele contou a história desse jeito. E meu avó, ele é que fez essa linha daqui de Patos, deus de a linha da Santana, aqui tudo Patos de Minas essa linha de automóvel, que passava pr’aqui, e hoje é asfalto, mas era tudo de terra. Ele trabalhava a ái, a gente ia levar comida pra ele lá na … as veis tava trabaiando sozinho, sempre ele trabaiava por conta, de capina, co, enxada, eu ia mais meu irmão, levar comida pra ele quando ele tava sozinho. Quando num tava sozinho, levantava eu, minha tia, nóis levantava de madrugada, ali na rua do Zé de Santana. Aí nís morava ali, e ia fazer comida pra levar. Levava num caxote de, desse caxote de querossene que tinha uns tempo, os calderãozinho pra cada companheiro que tinha. Muita vezes, nóis passava a gente ia lá e eles tava trabaiando lá naquela coisa, Até São Pedro da Ponte Firme… passou pra lá tudo… meu avô era esse que viu a mué de sete metros. Passou esse medo cum essa mué de sete metro”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto de rfitaperuna.com.br.

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