Em 12 de março de 1942 o prefeito Clarimundo José da Fonseca Sobrinho, o Prefeito Camundinho, comunicou ao Governador Benedito Valadares Ribeiro a excepcional situação financeira do Município, obtida sem o menor acréscimo no regime tributário municipal. A construção da nova usina, das Lages, autorizada pelo governo, estava em andamento, havendo em banco um depósito, a ela vinculado, de 799:773$400. Os cofres municipais tinham um saldo disponível de 126:505$100.
A produção de cereais, bastante avantajada, carecia de transportes suficientes. O Conselho Nacional de Petróleo, criado durante a 2ª Guerra Mundial, sem investigar as necessidades locais, determinou uma quota irrisória de combustível para o Município de Patos.
Com dinheiro em cofre, mas carente de autorização governamental para lançar mão dele, com a crise de combustível retendo a produção, os patenses acharam que era chegado o momento das reivindicações. Daí, arregimentando nomes de gente laboriosa, surgiu o movimento dos “Casca-Grossa”, cuja finalidade precípua era entrevistar-se com o chefe da nação, Getúlio Vargas.
A 1º de maio/1º de outubro de 1943¹, centenas de pessoas ganharam as ruas, levando as despedidas e bons augúrios à missão que os “Casca-Grossa” esperavam desempenhar no Rio e Belo Horizonte, junto aos governos federal e estadual.
A embaixada compunham-se dos senhores Coronel Osório Dias Maciel, Drs. Luiz Amaral, Jacques Corrêa da Costa, Sebastião de Castro Amorim, Cel. Francisco Cambraia Campos, Olegário Tibúrcio de Souza, Afonso Queiróz, Moacir Almeida Machado, Arlindo Porto, Augusto Teixeira (Varejão), João Porto Filho, Miguel Batista de Lacerda, Vicente Ferreira Filho, Arlindo Belluco, José Paulo de Amorim, José Alves da Silva, Sebastião Marques de Amorim, Luiz Ferreira de Barros, José Luiz Barros, Eunápio Corrêa Borges, Vicente Pereira Guimarães, Hercílio Trajano da Silva, Boanerges Ribeiro, Leão Teotônio de Castro, Altino Queiróz, José Teófilo Piau, Sebastião Alves do Nascimento, Miguel Alves, Vicente Borges de Andrade, Miguel Novato, Olivério Gonçalves, Evencio Queiróz, Jorge Veneroso, Joaquim Narciso, Alcides Silveira, José Augusto Queiróz, João Pereira Guimarães e Wirmondes de Castro.
Na capital mineira receberam a imprensa falada e escrita, às quais afirmaram tratar-se de viagem de otimismo; nada iam reclamar, nem pedir. Solicitaram apenas a presença do Presidente da República e do Governador do Estado em Patos de Minas; aqui, in loco, é que conversariam.
Em Belo Horizonte foram recebidos por todos os Secretários de Estado e pelos Diretores de Departamentos de Produção Vegetal e da Produção Animal, da Secretaria da Agricultura. O Governador Benedito Valadares os recebeu e, na oportunidade, Olegário Tibúrcio o saudou, em nome da comitiva. Olegarinho disse que a imprensa equivocou-se. Que eles não estavam ali para pedir. Que também nada tinham a reclamar. Falou que os patenses sabiam compreender a situação e as deficiências. Disse que, como os patenses souberam atender os apelos do governo na batalha da produção, acreditava que este não ficaria surdo aos reclamos de Patos. Lançou um desafio ao governo para ir a Patos, ver de perto o que afirmavam. E por aí vai, irônico, mordaz. O qual não chegou a ser compreendido. Na ocasião, fazendo parte da “Folha de Patos”, o autor pôde ouvir de Zama Maciel que, o discurso de Olegarinho foi “uma no cravo, outra na ferradura”.
Valadares nunca pôs os pés em Patos. Ficou a boa intenção de um punhado de entusiastas e o irônico protesto da comitiva que soube “dar o recado”. Vai-se ver, o Varejão deve haver “cutucado” o Olegarinho e lançado o seu “slogan”: “Tá legal? Manda a bucha”.
No Rio de Janeiro foram recebidos na Estação Pedro II pela imprensa e pelos representantes dos Ministros da Educação, Gustavo Capanema, e da Agricultura, Apolônio Sales. Como era esperado, o ponto culminante da visita teve lugar no Catete, onde os “Casca-Grossa” foram cordialmente recebidos, com o largo sorriso que o caracterizava, pelo Presidente Getúlio Vargas (foto acima).
* 1 – Há uma divergência entre as fontes: Geraldo Fonseca afirma que a comitiva partiu em 01/05/1943, enquanto Oliveira Mello afirma que a mesma comitiva partiu em 01/10/1943. O certo é o Oliveira (Leia “Preparativos Para a Viagem dos ‘Cascas-Grossas’ com o Sonho da Estrada de Ferro”.
* Fonte: Domínios de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca, e Patos de Minas: Capital do Milho, de Oliveira Mello.
* Fotos: Domínios de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.