Era tiro e queda: lá por volta das cinco e pouco da tarde meu dono chegava da labuta na roça do Seu Pereira e quase todos os dias catava umas minhocas, pegava seu embornal e a vara de bambu e descia para o Ribeirão Água Limpa, logo ali embaixo¹. Com a noitinha tomando conta da cidade, era também tiro e queda: ele voltava com várias piabonas, bagres, mandis, piaus e outros. Aí, enquanto ele tomava um banho, a patroa limpava os peixes, fritava e depois os dois saboreavam, ele acompanhado de uma pinguinha e ela de uma jarra de Ki-Suco de morango. Era assim por aqui, uma vidinha simples, de gente simples, de casa simples, mas ao lado de uma mata exuberante, com inúmeras nascentes de águas puríssimas, cuja uma delas nos abastecia em tudo, e o Córrego Água Limpa, que honrava o nome e tinha muito peixe. Bons tempos que se foram, bucólicos, e que nunca mais voltarão. Toda aquela vidinha tranquila, as pescarias, as nascentes de águas cristalinas, a mata do vale do Córrego Água Limpa, tudo isso está nos seus finalmente, sendo gradativamente derrotados por um inimigo invencível: o progresso. Eu não sei quando, só sei que não será muito adiante no tempo, chegará o dia em que não mais estarei presente nessa cidade. Chegará o dia em que não restará uma única árvore da então exuberante mata do Córrego Água Limpa. Chegará o dia em que o Córrego Água Limpa estará como um filete d’água e será canalizado ou, nada impossível, secado. Triste fim para mim também, mesmo fazendo parte da História de Patos de Minas. Pelo menos, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se no final da curta Rua Geraldo Resende Lima, no Bairro Nossa Senhora das Graças. O vale do Córrego Água Limpa é aquele que fica atrás do Parque João Luiz Redondo, a popular Lagoinha.
* Texto e foto (29/07/2024): Eitel Teixeira Dannemann.