BOCA SANTA

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De vez em quando, e muito quando, costumo viajar pela Cidade nos nossos ônibus coletivos da única empresa que nos oferece esse serviço aqui. O motivo? Simplesmente pelo prazer do passeio e da oportunidade de, livre da condução do automóvel e da atenção ao trânsito, simplesmente me ver liberto para apreciar cada quarteirão por onde o ônibus passa em seu roteiro. E assim vou registrando os prós e os contras da Urbe.

Numa dessas, no ponto do Mercado Municipal, entrei num ônibus da linha “Rota 1 – Alto Colina/Rodoviária”, pois a minha intenção era vasculhar alguns pormenores daquela parte alta da Cidade. Lá foi então o coletivo pela Rua Major Jerônimo, Praça Champagnat, Rua Major Gote e quando estava chegando na Avenida Marabá, percebi um casal de cada um no máximo 15 anos de idade, com uniformes de escola, no maior auê. O mancebo apertou a bochecha da manceba e perguntou:

– Doeu, trenzinho fofo?

– Doeu sim, coisinha fofa.

O rapaz envolve o pescoço da mocinha com um braço e ao dar-lhe uma bicota caprichada, pergunta:

– E agora, pastelzinho?

– Parou de doer, quero outra bicota melhor que essa.

Imediatamente o garotão dá uma beliscadinha na perna da garota e pergunta:

– E agora, minha loucurinha, doeu?

– Doeu sim, meu loucurinho.

Rápido como um relâmpago ele tasca-lhe outra bicota, mais caprichada que a primeira:

– E agora, como está, minha joinha?

– Parou de doer, meu joinho.

E assim, como dizia um ex-jogador de futebol, o trem foi fondo, foi fondo, o jovem apertando levemente diversas partes do corpo da jovem, ele perguntando se doeu, ela respondendo que tinha doído, ele tascava-lhe uma caprichadíssima bicota, ela dizia que a dor passou e assim quando já estávamos na Avenida Patrício Filho, no Bairro Morada do Sol, um senhor de lá seus 80 anos de idade aciona o sinal de parar. Passando pelo jovem casal, com um sorrisinho malicioso, pergunta ao mancebo:

– Você aí garotão, dono dessa boca santa, faz furúnculo na nádega parar de doer?

Eu, os restantes cinco passageiros e até o motorista caímos na risada, obrigando os dois pombinhos a descerem no próximo ponto.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.

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