CICLO O QUÊ?

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TEXTO: DIRCEU DEOCLECIANO PACHECO (1985)

Na semana passada, foram postas em prática pelo policiamento da cidade, as medidas regularizadoras do trânsito para os ciclistas que de um modo geral, até então vinham agindo como se vivessem em um lugar sem lei, passando por onde e quando queriam, sem respeitar nem mesmo as mais elementares leis de trânsito.

Bastou que se começasse a exigir que nossos ciclistas respeitassem os semáforos, que não trafegassem na contra-mão e nem sobre as calçadas reservadas aos pedestres, para que muita gente pusesse a boca no mundo, a reclamar que “os pobres não têm vez”; “que meu filho agora tem que dar uma volta enorme para ir à escola” e outras coisas assim, completamente sem sentido, se considerarmos que as medidas salutares saneadoras, muitas vezes estarão impedindo que o ciclista indisciplinado acabe sob as rodas de um veículo, ou sobre o corpo de algum pedestre que tranquilamente transite pela calçada.

O certo é que a ação policial tem se verificado com razoável eficiência, pois o número deficiente de policiais não permite que cada esquina seja policiada devidamente e assim, de um modo geral, os nossos “bicicleteiros” só respeitam a lei na presença do policial de trânsito e onde ele não está, tudo continua praticamente na mesma e poucos ciclistas, muito poucos mesmo, têm procurado respeitar a lei, independentemente da presença do policiamento, e que sem dúvida já é prenúncio de um futuro êxito da campanha.

Espera-se que havendo uma ação policial continua, dentro de algum tempo, possamos ter um trânsito de bicicletas inteiramente organizado e dentro dos padrões impostos pela lei vigente, com disciplina e segurança para todos e as medidas orientadoras adotadas na semana anterior, devem a meu ver, se prolongarem por algumas semanas, antes de iniciar a fase repressiva de apreensão de bicicletas, o que no momento, seria de uma intensidade muito grande e capaz de gerar sérios problemas e atritos, porém a firmeza dos primeiros dias da atual campanha deverá ser preservada e se possível ampliada.

Tenho ouvido pessoas se baterem pelas ciclovias, o que na realidade seria a solução ideal, entretanto, tenho conversado com técnicos no assunto, que me informaram serem raríssimas as cidades brasileiras que conseguiram implantar tal recurso com sucesso e no caso de nossa cidade, esta prática se torna totalmente inviável, apesar de existir um certo projeto antigo prevendo as ciclovias, que não passa de um belo sonho.

Para que se tenha uma idéia, a implantação delas implicaria em se retirar uma faixa de mais de três metros de largura em nossas ruas, que apesar de serem consideradas muito largas em comparação às de outras cidades, são na realidade, bastante estreitas para o volume atual de trânsito. Além disto, na Rua Major Gote principalmente, que é a maior responsável pela grita, ter-se-ia que implantar uma nova sinalização semafórica para atender o trânsito de bicicletas em mão e contra-mão, como muitos reclamam.

Desta forma, as tais ciclovias, que eu mesmo até há bem poucos dias, não entendia exatamente como eram e como poderiam ser implantadas, são uma verdadeira utopia para uma cidade já construída, a não ser que fossem demolidos alguns metros das edificações existentes em toda extensão de uma rua, ou que sejam feitos dois verdadeiros corredores ao seu longo: um para carros e outro para as bicicletas. O máximo que se poderá fazer na Major Gote, após um estudo muito cuidadoso, será uma faixa de segurança para o ciclista, porém em mão única.

Desta forma, nada mais nos resta, que nos conformarmos com os meios e recursos que temos, passando a obedecer as leis e haveremos de viver felizes e em paz desde que motoristas, ciclistas e pedestres se respeitem mutuamente, pois nada de novo está sendo criado e nem absurdo nenhum está sendo imposto ao nosso povo, mas tão somente se está exigindo que uma lei antiga seja cumprida.

* Fonte: Texto publicado no Editorial do n.º 126 de 31 de outubro de 1985 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto: depositphotos.com, meramente ilustrativa.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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