LÁBIA DE CANDIDATO

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Ninguém, em sã consciência, poderia imaginar Antônio do Valle Ramos (PMDB) derrotado nas eleições municipais de 1988. Se não por outros motivos, a vitória era “fava contada” pelo incontestável prestígio do padrinho político, Arlindo Porto Neto. Foi a primeira vez que o apoio e a liderança do prefeito a ser sucedido contaram votos numa eleição municipal. A campanha, por isso mesmo, foi tranquila. Uma espécie de jogo para cumprir tabela¹.

Além do prestígio de Arlindo Porto Neto e do trabalho de corpo a corpo, Antônio do Valle contou com o apoio sempre decisivo do esquema eleitoral comandado por Pedro Pereira dos Santos, e teve todo o PMDB ao seu lado. Outro fator que favoreceu Antônio do Valle na eleição de 1988 foi a forte chapa de candidatos a vereador. Entre eles tinha um bom de lábia que rezava todos os dias para ser eleito. Certa vez, num corpo-a-corpo na Praça do Coreto, abordava os passantes com alguns companheiros agitando bandeiras. Numa delas, houve esse diálogo:

– Prezado, qual seu nome?
– Juscelino – falou o sujeito esse nome que não era o seu porque já estava cansado de ouvir promessas de candidatos.
– Puxa, nome de presidente da república, muito legal.
– E o sobrenome, Juscelino?
– Fonseca Queiroz – mais uma vez nada a ver com a família dele.
– Caramba, Fonseca Queiroz, duas das mais tradicionais famílias de Patos de Minas desde os seus primórdios. Já vi que eu estou lidando com gente importante. E aí, Juscelino, nasceu em que dia?
– 24 de maio – mais uma vez nada a ver com a sua real data de nascimento.
– A coisa está ficando boa demais, sô. Você, Juscelino Fonseca Queiroz, nasceu no dia em que se comemora o aniversário da Cidade, dia muito importante para nós, pois passamos de Vila à Cidade. E seus pais, quem são?
– Os dois são falecidos – que nada, estavam vivos e fortes.
– Prezado Juscelino Fonseca Queiroz, são nesses tristes momentos que nós temos que ter muita força para suportar tamanha dor e ter a certeza absoluta de que vai chegar a nossa hora de partir e reencontraremos no Céu todos os nossos familiares e amigos. Muita força, Juscelino Fonseca Queiroz.
– Muito obrigado, você é muito gentil.
– Eu é que agradeço a sua atenção. E não deixa de votar em mim, pois vou ter a mesma garra que você para juntos melhorarmos Patos de Minas.

O falso Juscelino se foi e as rezas não foram suficientes para eleger o bom de lábia e esperançoso candidato, provando que nem toda lábia de candidato funciona e nem toda informação de eleitor é confiável.

* 1: Leia “Como foi a Eleição de Antônio do Valle Ramos”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.

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