Fato é que, atualmente, por aqui um vereador − referência exclusiva ao cargo e não ao ocupante − recebe pra lá de dez mil reais por mês, tem uma sessão ordinária de quatro horas por semana, algumas parcas extraordinárias e ainda assessores. E todos continuando suas vidas profissionais normalmente. Quer dizer, um extra mais do que bem vindo para não resolver os problemas de Patos de Minas. Prova inexorável, por exemplo, é o nosso CÓDIGO DE POSTURAS, no qual os vereadores não movem um fio de cabelo sequer para que ele seja acatado pelo prefeito, por isso não serve nem para papel higiênico. Não à toa a quantidade enorme de candidatos a cada eleição, todos sonhando com uma grana muito legal por pouco trabalho. Ou vão me dizer que vereador trabalha o suficiente para merecer mais de dez mil reais por mês? Responde aí, CÓDIGO DE POSTURAS!
Além dos tradicionais, muitos, inúmeros incógnitos a cada eleição se inscrevem e colocam seus nomes para mudar Patos de Minas, como aconteceu nas eleições de 2020: foram 249 candidatos, quase todos mal sabendo o significado de vereança ou, para ficar mais bonitinho, edilidade. Assim, na ânsia suprema do cargo, unicamente na ânsia suprema do cargo, se lançaram na empreitada imaginando alcançar o pote de ouro no fim ou no começo do arco-íris. Pelo menos por quatro anos, nada ruim!
Numa dessas recentes eleições, um jovem estava animado. O pai foi contrário inicialmente, pois queria o filho ao seu lado nos negócios. Mas o filho queria uma vida mais tranquila, sem as atribulações e responsabilidades diárias de uma empresa, pois sabia que o pai estaria segundo a segundo no seu pé cobrando-lhe as tais responsabilidades. Ele queria ser vereador, sabedor que não precisaria arcar com responsabilidade alguma, bastaria marcar presença nas sessões, entrando calado e saindo mudo, pois estaria atestado nas atas que ele participava de todas elas. O pai acabou acatando a vontade dele. E este, imaginando-se o suprassumo das estratégias políticas, traçou o plano: visitar os Distritos para divulgar a sua candidatura.
E assim, amparado no poderio econômico do pai, lá foi ele com um amigo. Depois de inúmeras visitas, com pouquíssima repercussão, estavam voltando do Distrito de Chumbo, lá pelas oito horas da noite, com as tripas grossas já querendo abocanhar as finas, quando resolveram parar num bar-mercearia na comunidade do Leal. Com poucas opções, depois de não perderem a oportunidade de fazer campanha ao atendente e a quatro presentes, solicitaram esquentar em banho maria três latas de sardinhas. Enquanto esperavam, saborearam uma cerveja. Quando as sardinhas chegaram, acompanhadas de seis pães dormidos, aliviaram o bucho. Mais ou menos satisfeitos, pediram a conta. E veio o susto do candidato a vereador:
– Cem reais por míseras três latas de sardinha e seis pães de ontem? Eu nunca tinha visto uma aberração igual a essa!
Pausadamente, o atendente, que era o dono, respondeu:
– E eu nunca tinha visto uma aberração como essa, um candidato a vereador no meu comércio!
Papo encerrado, o candidato pagou a conta, não foi eleito e sabe-se lá o que está tramando atualmente para fugir de responsabilidades. Afinal, raposa muda de pelos, mas não deixa de comer galinhas. Não é, CÓDIGO DE POSTURAS?
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.