Quando esteve aqui pela primeira vez, não passou despercebido ao seu tino comercial uma característica interessante da Cidade. Durante três dias, prestou muita atenção naquilo, e voltou para a capital paulista matutando uma ideia. Dois anos depois voltou e logo percebeu que aquela interessante característica havia aumentado em intensidade. Conhecedor do Brasil de norte a sul e de leste a oeste, ficou impressionado pelo fato existente numa pequena urbe como Patos de Minas. Nunca havia presenciado em outro local com população semelhante o quanto se destacava no ambiente urbano aquela característica. A sua ideia inicial já era praticamente um projeto.
Dois anos de ausência e cá esteve novamente, ficando mais impressionado com o tanto que aquela característica havia se acentuado, e com novos elementos. Postado como um transeunte qualquer, primeiramente na esquina da Rua Major Gote com sua colega Olegário Maciel e depois em vários locais da Cidade, ninguém deu atenção àquele homem filmando o trânsito e fazendo anotações. Voltou para São Paulo com o projeto praticamente pronto, projeto esse que depois de apenas duas reuniões com a alta cúpula da empresa, foi unanimemente aprovado. Pelas características observadas, Patos de Minas será a primeira Cidade do Brasil a receber os produtos que nascerão de sua ideia genial.
Enquanto isso, o Jaiminho estava numa dessas oficinas de motocicletas conversando com o amigo e proprietário, que se mostrava bastante sorumbático. Preocupado, Jaiminho perguntou o que o deixara assim:
– É que fiquei sabendo de uma notícia que vai prejudicar muito o nosso negócio.
O amigo esclareceu que tem um primo que trabalha numa montadora de motocicletas em São Paulo, uma das maiores do país. Um projeto secreto da empresa havia vazado e alguns funcionários ficaram sabendo. Silenciosamente, a notícia se espalhou e chegou aos ouvidos do primo, e logo aos ouvidos do dono da oficina daqui, que contou ao Jaiminho:
– Um disgranhento dum gerente da montadora de motocicletas onde trabalha meu primo esteve várias vezes aqui e percebeu que praticamente todas as mais de trinta mil motos daqui estão com o escapamento adulterado e que a fiscalização não existe. Aí o disgramado bolou um projeto que é entregar aqui as motos zero já com o escapamento adulterado do jeitinho que os motoqueiros daqui gostam, inclusive com opções de escolha do barulho e dos tipos de tiros, incluindo um de canhão, outro de metralhadora e até de bomba atômica, com garantia de um ano. Ah, e vão fabricar também aquelas bicicletas motorizadas que fazem mais barulho que as motos. Entendeu agora porque isso vai prejudicar o nosso negócio?
O Jaiminho deixou o amigo atolado em seus pensamentos sorumbáticos e se mandou com um sorrisinho malicioso, já se imaginando zanzando pela Cidade com uma moto com barulho de bomba atômica sabendo que ninguém vai lhe importunar. UAU!
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.