CONFLITO ENTRE MARCOLINO DE BARROS E JOÃO DA COSTA RIOS – 3

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Estando colhendo documentos irrefutaveis sobre os tristes factos da noite de 22 de março, desenrolados nesta Cidade, e que tanta impressão causou nesta zona, creando em torno do nome de Patos uma athmosphera de prevenção e de pavor, deixo de trazer a publico esses factos pelo jornal de hoje. Fallando pela voz da verdade, não quero fazer affirmativa em falso, pois o meu interesse é deffender-me e não accusar. A calumnia nojenta, arrojemol-a no monturo da degradação moral, mesmo trazida por terceiros, e fitemos a luz da verdade com o seu prestigio radiante, illuminando as nossas palavras.

Não sou politico, nunca fui a Bello Horizonte insinuar a minha candidatura a deputado, quero apenas mostrar que a politica local, não agio, com o pedido feito de minha não reconducção, de accordo com os principios da Razão. Pois a politica de Patos tem tanta influencia assim, para conseguir uma medida desta natureza? Perguntou-me alguem. Não entro nessas indagações, mesmo porque já expliquei a que criterio seguio o Governo, deixando-me de reconduzir para o Termo de Patos.

Ao Governo foi apresentada uma carta minha, dizendo acceitar “com muito prazer”, o Termo de Entre Rios. Francamente, não sei até que ponto chega a influencia da politica patense; acreditando que seja grande, lamento, como todos devem lamentar, que essa politica não queira utilisar-se do seu prestigio para fins nobilitantes, dando à Cidade e ao Municipio, melhoramentos pelos quaes o povo clama sem cessar.

Que immensa necessidade faz o Telegrapho Nacional, ha annos em Patrocinio tão perto de Patos! Que falta immensa faz a agua, que no rigor da secca è aqui vendida, a muitos, em pipotes, puxados em carrinhos de cabritos, quando tão cedo não n’a teremos aqui! Que falta extraordinaria está fazendo a linha de correio para as cidades de Patrocinio, Araxà, Sacramento, Uberaba, etc. etc., correndo subscripção publica afim de se mandar portador buscar malas do correio, havendo mesmo a ideia irrisoria de se mandar tocar trombeta pelas ruas da Cidade, quando algum particular mandar portador a Patrocinio levar cartas afim de outros aproveitarem! Nem um projecto viavel de estrada de ferro, parecendo que a geração que ora surge nunca verà locomotiva em Patos.

A Cidade não apresenta nenhum melhoramento de importancia, entregue às trevas da noite, sendo o silencio nocturno quebrado, muitas vezes, pelo toar das carabinas.

Não está no meu temperamento fazer destas analyses mas acho (e commigo muita gente) que seria muito mais nobre, mais louvavel que a politica local fizesse jus à gratidão do povo, dando-lhe, com o seu prestigio, esses melhoramentos, do que fazer pedidos odiosos, para satisfação do capricho, ou coisa que o valha, de uma só pessôa, contrariando, em geral, os sentimentos desse mesmo povo que ella representa.

(Continúa).

* Fonte: Texto de João da Costa Rios publicado com o título “Termo de Patos − Explicação Necessaria” na edição de 05 de abril de 1914 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Início do primeiro parágrafo do texto original.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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