VISITA DO BISPO DOM EDUARDO A SANT’ANNA DE PATOS, A

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Terminaram se aqui, ante-hontem as missões.

Desde o dia 22 deste, o nosso arraial ostentava um aspecto alegre e verdadeiramente animador. Todo o instante via-se as ruas completamente repletas de povo.

Durante todos esses dias houve sermões e praticas, de manhã e á noite pelo eminentissimo e apreciado orador sacro, Exmo. Sr. D. Eduardo Duarte Silva.

Em um desses dias, tivemos tambem o praser de, pela primeira vez, ouvir a palavra eloquente do Revmo. Conego Mario, illustre secretario deste Bispado.

Verdadeiramente imponentissima, foi a chegada aqui, do Exmo. D. Eduardo.

A’s 3 horas da tarde, mais ou menos do dia acima referido, numeroso prestito composto de um numero superior a 500 pessoas, tendo á frente o Estandarte do Rosario cercado de 15 meninas que impunhavam bandeirinhas com diversos diseres, tendo junto os Revmos. Pe. Agostinho Christobal e Vicente Peres, de Lagoa Formosa, dirigiram-se ao encontro de S. Excia.

Em frente á residencia da Exma. Sra. D. Altina M. da Silva, foi a eminente auctoridade Eclesiastica recebida com o mais justo carinho e devido respeito, entre os acordes do Hymno Nacional, bellamente executado pela afinada banda “Lyra Santannense” e ao estrugir de muitas baterias e grande quantidade de foguetes que nesse momento rasgavam os espaços.

Nessa hora, saudou ao Exmo Sr. D. Eduardo, em nome dos habitantes deste logar e de suas irmandades alli representadas, o Sr. Prof. João F. do Amaral, terminando a sua bella oração com um prolongado viva ao grande recémchegado.

As ruas appresentavam um aspecto alegre e aprasivel.

Desde a entrada do arraial até á casa do Revmo. Pe. Agostinho, estendiam-se duas filas de bananeiras, entrelaçadas de bandeirinhas de cores, e, mais ou menos á distancia de vinte metros uns dos outros, ostentavam-se bonitos arcos com laçadas de fitas pendentes, ornados de flôres naturaes sendo sete destes com bem feitos diseres talhados a porpurina em tiras de setim vermelho, medindo estas 3 metros de extenção e 50 centimetros de largura; estes arcos estavam collocados em diversos pontos, sendo o 1.º, á entrada do arraial com os diseres: Viva o Brasil Catholico!; o 2.º á frente da casa da Sra. D. Maria Lucinda, no qual se lia: Viva a Religião Catholica!; o 3.º em frente á residencia do Sr. Marinho Rodrigues, no qual se via: Viva o Sagrado Coração de Jesus!; o 4.º á porta do Sr. Manoel do Nascimento, no qual estava: Viva a Paz e o Catholicismo no Brasil!; o 5.º ao lado do largo da Matriz, e nesse lia-se: Viva Pio X, Papa Rei!; o 6.º á porta da Matriz com os diseres: Viva a Nossa S. Sant’Anna!; e o 7.º em residencia do Pe Agostinho, onde se achava hasteada a bandeira hespanhola, no qual lia-se: Viva D. Eduardo Duarte Silva!

Acompanhado da grande massa popular e ao som da philarmonica local, dirigiu-se o Sr. D. Eduardo, á sombra do pallio em demanda á Matriz. Chegado ahi, S. Excia. subiu ao pulpito de onde com sua palavra burilada demonstrou a saudade que sentia deste logar e muito agradeceu ao Sr. Pe. Agostinho e ao povo em geral aquella prova de religião e verdadeira estima para com elle.

Da Matriz, dirigiu-se S. Excia. para a residencia de nosso Vigario, onde foi festivamente recebido ao som harmonioso das vozes de seis meninas trajadas de branco, que entoavam, acompanhadas pela banda de musica em dois bem ornamentados coretos, um bello hymno, dedicado a S. Excia., pelo Prof. João F. do Amaral.

Ai, foi, por gentis senhorinhas, coberto o pallio e todo o prestito de enorme camada de flores naturaes, ficando nesse momento, terminada a alegre e carinhosa recepção.

Calculou-se em 12 mil as pessoas que assistiram as missões durante os treis dias.

O Sacramento do Chrisma foi menistrado, segundo nos consta, em 4 mil creanças, observando-se que faz somente nove annos, que aqui foi menistrado esse Sacramento.

Informam-nos, ter attingido a duas mil pessoas que durante apenas treis dias, foram confessadas, e que esse numero não attingiu a mais, devido o tempo que foi assás diminuto para esse fim.

Ficou demonstrado mais uma vez que o povo deste lugar è sobejamente catholico e verdadeiramente ordeiro: pois findaram esses dias de verdadeira agglomeração de gente, sem se observar siquer uma pequena desavença entre o pessoal.

27 – 8 – 914.

Greenhalg.

* Fonte: Texto publicado com o título “Sant’Anna de Patos – Missões” na edição de 03 de setembro de 1914 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.

* Foto: Início do texto original.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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