Pois é, sô, cá estou nesse estado de desamparo. E não sei se fico triste ou alegre ao perceber um sujeito em frente a mim me fotografando. Ele já é rodado, deve ter mais de sessenta anos, pelo que meus tijolos atinaram. Será que com essa idade ele porventura teve a oportunidade de me ver quando eu era nova? Uai, nova como ele foi e eu fui. Ele já foi novo, moço, hoje está na sua condição de idoso, e depois de me fotografar, desceu a rua¹ e sabe-se lá se algum dia vou vê-lo de novo. Ele se foi, e eu aqui fiquei nesse desamparo, igualmente como ele, na condição de idoso, isto é, no meu caso, idosa. Por que aquele sujeito fez isso? Por que ele não veio aqui quando eu era vistosa, mesmo na minha simplicidade, mas nova, toda pintada e com os meus construtores felizes por terem me erguido e, principalmente, por estarem aconchegados no meu interior, naqueles áureos tempos em que havia tranquilidade nas ruas da Cidade? Tanto é que me largaram aqui com marcas daqueles tempos de tranquilidade, sem muros altos e apenas com essas gradezinhas aí. Percebo em volta de mim muitas semelhantes sendo literalmente demolidas para a construção de outras novas casas. E o pior, para a construção de edifícios. Eu não sei o que vai acontecer com aquele sujeito que me fotografou. Mas, quanto a mim, abandonada, e vendo ao meu redor as transformações do tétrico progresso, não me resta a alternativa de me contentar por fazer parte da História de Patos de Minas e quando me desmontarem, acredito piamente que deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua dos Bariris, poucos metros antes do encontro com a Rua dos Guaranis. Está, no Bairro Padre Eustáquio. À frente, depois do outro lado da Rua dos Guaranis, já é o Bairro Caramuru.
* Texto e foto (21/04/2024): Eitel Teixeira Dannemann.