Não, por favor, não me culpe, pois não tenho absolutamente nada com isso. Sim, tenho plena consciência de que o meu surgimento veio ao custo trágico da demolição de uma semelhante, não tão esplendorosa como eu, óbvio, mas era uma casa e eu fui erguida sobre seus escombros¹. Poderia ter sido um edifício, já que edifício é uma autêntica pandemia na construção civil ao se espalhar por toda a Cidade como praga-mor do progresso. E se mesmo assim me culpar, terá que culpar um mundaréu de outras casas que igualmente se assentaram de cara nova sobre os escombros das outras. Bem, vamos parar de falar nisso porque Inês é morta, o leite já derramou, e agora cá estou eu com minha belezura e devidamente protegida com esse troço aí no muro porque a coisa por aqui não está brincadeira não. Se acredito que serei eterna aqui? Ora, não sou ingênua, se eu ocupei o lugar de uma, outra pode ocupar o meu lugar. Então, que fique muito bem claro, sei que não serei eterna. Só sei que sou bunitinha demais da conta, e nessa buniteza, quero aproveitar ao máximo o meu tempo de vida. Não é assim com os humanos? Não sou choramingas e jamais serei. Serei sim, quando chegar o meu momento de partir, parte da História de Patos de Minas. E deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na esquina da Rua Rui Barbosa (à esquerda) com sua colega Espírito Santo (à direita), no Bairro Santa Terezinha.
* Texto e foto (13/08/2023): Eitel Teixeira Dannemann.
