PAQUERADOR SEM DESCONFIÔMETRO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Um expressivo paquerador! Quem? Ora, o Ariovaldo, desde cedo, para ser mais exato, desde o Marcolino de Barros, passando pelo Marista e UNIPAM, onde se formou em Advocacia. E foi na universidade o apogeu dessa sua característica-mor. Aliás, ele tem outra característica que rivaliza seriamente com aquela: nadica de casamento, seja formal ou união estável, pois o cujo só namorava e quando o relacionamento começava a ficar sério, ele terminava o namoro e engatava outro.

Assim, como dizia um certo jogador de futebol, o tempo foi fondo, foi fondo e ele não percebeu que lhe estava enraizado uma terceira e expressiva característica: já sessentão, mesmo assim só queria saber de namorar mocinhas nos seus vinte e poucos anos, no máximo. Foi por aí que ele reparou que, a cada aniversário, ficava mais difícil conquistar as jovens. Sendo o Ariovaldo um daqueles que não tem desconfiômetro, ele só foi perceber que já estava passado para as mocinhas quando, numa caminhada pelo passeio da Avenida Marabá, topou com uma delas tentando atravessar a via com um idoso numa cadeira de rodas. Ele parou, deu uma encarada na jovem, se encantou com a mocinha e, claro, mesmo na faixa de pedestre teve que ir fazendo sinal para os carros pararem e assim o trajeto até o outro lado da avenida foi feito. A mocinha, muito sorridente, agradeceu e disse:

– Muito obrigado, tio.

Imagine aí uma dor alucinante no corpo. Pois foi o que sentiu o Ariovaldo, mas na alma. Não demorou uma semana e veio o golpe fatal. Com o pai fazendo um exame demorado no Hospital Imaculada Conceição, resolveu esperar sentado num banco da Avenida Getúlio Vargas. Logo, na entrada do hospital, surgiu uma mocinha linda acompanhada de uma garotinha de uns seis anos de idade. Sem o tal desconfiômetro, ele se empolgou, e ficou empolgadíssimo quando reparou que a mocinha lhe olhava a todo instante. E quase subiu aos céus quando a mocinha falou algo para a criança e esta lhe acenou. Ora, ele não resistiu, levantou-se, atravessou a rua e foi logo dizendo:

– Oi, para essa garotinha ser tão linda só pode ser sua irmã.

A mocinha, num largo sorriso que quase arriou o conquistador, disse:

– Impressionante, mas muito impressionante, incrível.

– O que é impressionante, mocinha? A propósito, meu nome é Ariovaldo, e o seu?

– Lourdes. O que é impressionante é como o senhor se parece com meu avô, até a corcunda é igual, o que  comentei aqui com a minha sobrinha. Mas é muito impressionante mesmo.

Por onde anda o Ariovaldo? Dizem por aí que ultimamente ele pouco sai de casa, aliás, só sai quando realmente necessário, principalmente para receber a aposentadoria.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.

Compartilhe