Bêbados é o que não falta zanzando pela cidade. Há muitos lugares preferidos por eles. Um é nas imediações da Rodoviária, onde sempre se aglomera uma turma complicada de moradores de rua, pois o negócio com eles não se resume somente ao álcool. E é o tipo do vai-e-vem, isto é, tiram eles de lá e no máximo uma semana depois estão de volta, num verdadeiro contraste, com a linda Lagoa Grande de um lado e os vagabundos no outro lado. O nosso judiado Mercado Municipal é outro preferido pelos cachaceiros, sendo eles o cartão postal da entrada principal, sempre na risaiada e gritaria. Outro é na Praça Nossa Senhora de Fátima, a popular Praça do Rosário, onde até fogueiras eles acendem. E por aí vai, com tantos outros lugares.
E foi um dos canas-bravas do Mercado Municipal que resolveu implicar com o gerente de uma sapataria na Rua Padre Caldeira. Estava ele no penúltimo grau do alcoolismo passando em frente ao citado comércio quando, sabe-se lá porque, talvez o álcool explique, perguntou naquela voz característica de trêbado impossível de transpor para o papel e por isso vai no normal mesmo:
– Tem cachaça?
O comerciante, ajeitando umas caixas de sapatos, nem respondeu, continuando seu trabalho. O bêbado se foi cambaleando em direção à Praça Desembargador Frederico, mexendo com todos os transeuntes. No outro dia, o gerente na porta e chegou o bêbado:
– Tem cachaça?
O comerciante girou nos calcanhares e mais uma vez nem se dignou a responder. Novamente o bêbado se foi cambaleando em direção à Praça Desembargador Frederico, mexendo com todos os transeuntes. No outro dia, o bêbado se apresentou:
– Tem cachaça?
Dessa vez o comerciante, já fulo da vida, resolveu responder:
– Tem dó, manguaça burricido, vai chatear sua mãe, e se você aparecer novamente aqui perguntando se tem cachaça, taco-lhe um cassetete na cabeça.
De novo, o bêbado se foi cambaleando em direção à Praça Desembargador Frederico, mexendo com todos os transeuntes. No outro dia, surge novamente o bêbado:
– Tem cassetete?
No que o gerente, nervosíssimo, respondeu que não tinha cassetete, o manguaça perguntou:
– Tem cachaça?
Dizem as boas línguas que o bêbado só parou de aborrecer o gerente da sapataria porque ele reclamou com a polícia-móvel que fica na porta do Mercado Municipal.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.