GUARÁ-MANGUAÇA E O RELÓGIO MALDITO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Caboclo ajeitado é o Guará, companheiro para todas as horas, mas tem um problemão: adora uma manguaça, e quando a gente o encontra sóbrio é caso para levá-lo a um médico. Mas a manguaça dele não incomoda ninguém, quer dizer, não incomoda a nós, seus amigos, pois tem a coitada da esposa que já não estava mais aguentando, noite após noite, dormir com um cara cheirando a cachaça:

– Assim não dá, Guará, vê se consegue pelo menos um dia, um dia só, permitir que eu durma num ambiente saudável.

Dizíamos a ele para beber somente cerveja e maneirar na pinga para que o bafo não ficasse tão forte. No que ele retrucava imediatamente:

– Esse negócio de beber pelo simplesmente beber não está com nada, pois o bão mesmo é a tuntura, por isso tenho que beber cachaça, senão não fico tonto.

Noite sim e a outra também a esposa do Guará era uma alcoólatra passiva prestes a explodir. Certa vez estávamos no Bar do Cochila, já acertando a conta, quando alguém resolveu alertar o amigo:

– Cuidado, Guará, um dia a tua mulher te mete o pé na bunda.

Guará fez que nem ouviu e se mandou a pé para casa, no Bairro Rosário. Chegando, não deu outra: a mulher disse que ele só entraria sem bafo de cachaça. Aborrecido, e ciente de que dormiria na rua, resolveu voltar para o bar. E enfiou mais ainda a cara na cachaça. Bêbado demais da conta, andou um tempão sem rumo até se estatelar ao lado da estátua em homenagem ao Homem do Campo.

Amanhecendo o dia, despertou com as lambidas de um cachorro. Olhou para o ambiente e reparou em alguns transeuntes fazendo cara feia. Não estava nem aí. Foi conferir as horas e… surpresa: alguém roubou seu relógio. Revoltado, tomou a rota de casa, mas em momento algum culpou a cachaça. Na descida da Rua Olegário Maciel já chegando na Praça Pacífico Soares avistou o relógio no pulso de um gaiato e não perdeu tempo em abordá-lo:

– Ei, cara, esse relógio é meu!

O cara respondeu na bucha:

– Que seu o que, sô, esse relógio eu tirei de um bêbedo que comi de manhãzinha lá na Avenida Getúlio Vargas.

O Guará arregalou os olhos e respondeu no ato:

– Nossa, juro que pensei que fosse o meu!

E se mandou para casa imaginando o que contar à esposa.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

Compartilhe