VÃ PROMESSA

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

De família humilde, o jovem Márcio, quando completou o Ensino Médio, resolveu trabalhar para ajudar no sustento da casa. Diga-se de passagem, atitude não aprovada pelos pais, que, com todo o esforço de seus trabalhos, queriam ver o filho formado em qualquer profissão. Mas não teve jeito e ele, já nos seus 21 anos de idade, ao receber uma proposta de uma loja de calçados na Rua Major Gote, aceitou a incumbência de ser vendedor.

Bom de papo e carismático, logo se destacou e pouco mais de um ano no emprego já era o gerente do comércio, período em que conheceu a Maria Eduarda, um ano mais nova que ele e filha de uma das clientes. Foi paixão imediata e ao mesmo tempo árdua, pois o Márcio consumiu cinco meses para conseguir conquistá-la. O namoro já estava no 11.º mês e até o assunto casamento rolou. Veio então a tragédia para o moço: a Maria Eduarda arrastou as asinhas para o filho de um rico fazendeiro e assim findou-se o namoro e o futuro casamento.

Depois de inúmeras tentativas de reconciliação sem sucesso, Márcio passou a frequentar um buteco e varava a madrugada bebendo. Os pais se desesperaram, o patrão começou a se preocupar com o bafo de cachaça de seu gerente, os amigos tentavam de todas as formas convencê-lo a parar com isso, mas nada do Márcio parar de beber, e ele, já alcoólatra, até pensava em se suicidar por causa da perda do seu grande amor.

Antes que o patrão perdesse a paciência e despedisse seu filho, os pais resolveram levá-lo a uma respeitada benzedeira no Bairro Santa Terezinha. E foi lá na casa da benzedeira, que o Márcio prometeu de pés juntos não beber mais. Foi uma explosão de alegria para a família, para os amigos e igualmente para o seu patrão, que valorizava muito o trabalho de seu gerente.

Eis que um dia depois, o Márcio chega em casa de madrugada, totalmente bêbado. Que decepção para os pais, que verteram lágrimas ao presenciar o filho mal conseguindo trocar de roupa para se deitar. E assim o drama continuou, até que o patrão, ao final de um expediente, pegou o Márcio, praticamente na marra, antes dele partir para a bebedeira, e o levou até sua casa para uma conversa séria com os familiares. Lá, ele foi incisivo:

– Márcio, você está sendo uma enorme decepção pra mim e principalmente pra seus pais. Você prometeu a todos nós não beber mais, mas, infelizmente, não cumpriu com a palavra. Continuando assim, a contragosto, serei obrigado a despedi-lo.

Imediatamente o Márcio retrucou:

– Eu jamais deixei de cumprir a minha palavra quando prometi que não bebia mais. Por isso, parei de beber mais do que sempre bebo!

Óbvio, o Márcio acabou sendo demitido, os pais tiveram que se conformar com o alcoolismo do filho, sei lá se procuraram o AA e sabe-se lá o que aconteceu mais para frente.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.

Compartilhe