MOCINHA DO FÓRUM, A

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O fato se deu bem na frente do Fórum Olympio Borges. Lá estava o bêbado, daqueles que não incomodam muito, mas que ele era chato pra caramba isso era. Puxava papo com todo mundo, o guarda mandava ele sumir dali, mas ele ficava. Sempre por volta das três da tarde lá estava ele. Parece até que aquilo fazia parte de sua agitada vida. E sempre por volta das três da tarde lá vinha a mocinha, garbosa, com aquele andar de fazer motorista respeitar sinal vermelho, sinuosa, não dando à mínima para os olhares pedintes do sexo oposto. Ela vinha e… de novo o bêbado a encarou. E ela pensou: de novo? É, de novo, pois todas as tardes ela passava por ali e lá estava o chato do bêbado a importuná-la com gracinhas.

– Sua sogra perguntou por você.

A mocinha, nervosa, deu de ombros e seguiu em frente.

– A que horas você volta, meu amor?

A estrutura anatômica nota 1000, irritadíssima, acelerou o passo e desapareceu ao virar a esquina. Assim era todo dia, de segunda a sexta. A mocinha já estava pensando em fazer uma reclamação na polícia. Mas para quê, se o próprio guarda que lá ficava não fazia nada. Mas fazer o quê? Afinal de contas o gambá fedorento nunca lhe havia encostado a mão ou lhe faltado com respeito. Apenas lhe dirigia algumas gracinhas. Mesmo não aguentando mais aquela situação, considerou que era melhor deixar isso pra lá e, sim, o melhor a fazer era mudar o itinerário. Três quarteirões a mais não iam fazer diferença nenhuma.

E assim a mocinha garbosa ficou uns três meses sem passar pelo caminho tradicional. Até que um dia, apressada, sem se aperceber disso, ela voltou a fazer o mesmo percurso e já estava na porta do Fórum, apinhado de gente trabalhadora nos bancos da praça botando seus afazeres nos conformes. Vinha pensativa, imaginando como seria o jantar à noite com o Jerônimo, seu namorado atual, quando ouviu uma voz cavernosa e vampiristica:

– A luz da minha existência voltou!

Sim, era o gambá fedorento. A mocinha levou um susto tão violento e gritou tão alto que aquele monte de gente ocupada da praça suspirou numa voz só:

– Que é isso, gente?

Foi uma confusão geral. Logo depois do grito da formosa mocinha houve um quiproquó danado. E a moçada ocupada da praça era só comentários.

– Meu Deus, que fera.

– Se o Adalberto não separa o Jiló Mamado (era assim que o povo se referia ao bêbado) ele tava morto.

– Santo Deus, ele tá todo remendado no Regional.

– Pois é, agora está lá a mocinha na delegacia tentando provar ao delegado que focinho de porco não é tomada.

– É, mas o delegado não está acreditando nela não.

– Como assim?

– Pro delegado a mocinha agrediu o bêbado por racismo, e agora vai ficar presa.

– Tadinha, tão bonitinha e tão violenta. Como que pode, né?

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

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