Apesar de ser o terceiro destilado mais consumido no mundo, a cachaça não é reconhecida como uma bebida superior porque pouco foi feito para a difusão de uma cachaça de qualidade. Muito se consome, mas é aquela pinguinha sem graça, absurdamente barata, feita em grandes volumes e associada ao bafo e à dor de cabeça do dia seguinte. As cachaças como a Leblon estão no mercado para mudar esse conceito e elevar toda uma categoria de produção – a da cachaça artesanal de alambique.
Se o nome Leblon tem o apelo internacional de um bairro famoso, chique e de fácil pronunciação em inglês ou francês, a produção da cachaça está bem longe das praias cariocas. É em Patos de Minas, no Alto Paranaíba, onde estão instalados os seus alambiques de cobre. Desde 2005, a cidade foi escolhida para produzir os 350 mil litros por safra da bendita sob a supervisão de Carlos Oliveira, diretor de produção, e Gilles Merlet, master blender francês famoso pelos seus conhaques. A experiência da dupla é fundamental para unir os ingredientes brasileiros com as técnicas de blendagem europeias. As cachaças da Leblon passam por barris de carvalho francês, mas também carregam os aromas, sabores e a tradição do terroir do interior de Minas Gerais.
Com uma comunicação arrojada e com foco no mercado exterior, a Leblon quer vender a cultura brasileira em uma dose de cachaça. As suas ações de marketing estão sempre associadas ao estilo de vida do povo brasileiro e ao consumo de Caipirinha, um drinque já reconhecido internacionalmente. Entre as campanhas de maior destaque está a “Salve a Caipirinha”, uma iniciativa da marca para exaltar a mistura de limão, gelo, açúcar e cachaça – posto que vem sendo substituído por outros destilados. Capivodca, Caipisaque ou Caipiríssima estão roubando os holofotes do único coquetel brasileiro.
A visão estratégica é responsabilidade de outro estrangeiro e principal executivo da Leblon, o norte-americano Steve Luttmann. Apaixonado pelo Brasil, Luttmann construiu uma marca de cachaça do zero priorizando a qualidade e mostrando que uma bebida de difícil pronunciação, e até pouco tempo atrás conhecida nos EUA como Brazilian Rum, tem tudo para agradar os paladares mais exigentes.
Se a garrafa comprida e enfeitada com cores verde limão mais parece uma garrafa de vodca premium do que uma cachaça mineira, a experiência de visitar o coração da Leblon em Patos de Minas nos mostra a essência por trás da embalagem. A Leblon é uma marca que já nasceu global, mas que tem o desafio de traduzir a complexidade de um produto brasileiro centenário ainda pouco conhecido – e essa comunicação deve ser feita de gole em gole, devagarinho. O melhor exemplo para mostrar essa complexidade está na Maison Leblon Signature Merlet, segundo produto lançado pela marca. A cachaça extra-premium leva a assinatura de Gilles Merlet e carrega os aromas e sabores típicos do carvalho francês, mas tem na superfície da garrafa a caligrafia de uma das funcionárias mais antigas da destilaria, a mineira Helen Cristina. A Leblon é um blend de talentos europeu, norte-americano e brasileiro.
Com o tempo e o sucesso das cachaças de qualidade no Brasil e exterior, acredito que a Leblon poderá afrouxar ainda mais o nó da gravata e se fortalecer como uma bebida cada vez mais brasileira. O primeiro passo foi a criação de um licor de Açaí – e não me espantaria se nos próximos anos lançarem produtos que traduzam ainda mais essa brasilidade, usando madeiras nativas no processo de envelhecimento da aguardente e seguindo até mesmo a linha das engarrafadas, com infusões de ervas e raízes do cerrado.
Em um mercado saturado com diversos rótulos de uísque, tequila, vodca, rum, a cachaça seria uma nova bebida para atiçar a curiosidade e o paladar de consumidores que buscam um destilado diferenciado. E talvez uma das grandes sacadas da Leblon foi reconhecer o potencial do destilado brasileiro para ocupar um lugar de destaque ao lado de outros grandes spirits. O desafio não está apenas em produzir uma bebida de qualidade para um mercado global, mas também comunicar os seus valores, a sua tradição e a sua complexidade sensorial. Se essa for a fórmula para o sucesso de uma marca de cachaça, a Leblon está no caminho certo.
* Fonte e foto: Texto de Felipe Jannuzzi (28/08/2014) publicado em Mapadacachaca.com.br.