O histórico das famílias Borges e Maciel é repleto de feitos em prol do crescimento de Patos de Minas. Cada uma contribuiu com seu quinhão para que as benesses chegassem aos habitantes em forma de progresso. Entretanto, Nem Tudo Foram Flores Entre os Macieis e os Borges. Este é o título de um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso, do Unipam) que Gaspar Pereira da Silva produziu em 2003 sobre a trajetória das duas famílias em solo patense. De acordo com o autor, as rusgas ideológicas e partidárias foram frequentes entre elas, principalmente após a proclamação da República em 1889, gerando consequências muitas vezes trágicas.
Quando a família Borges chegou a Santo Antônio de Patos¹, a família Maciel já era detentora de um poder político incontestável². No entanto, pouco a pouco, os Maciel encontraram nos Borges uma franca oposição. As fontes mostram que até certo momento histórico havia entre alguns membros das duas famílias uma relação natural de amizade, de confiança e mesmo de compadrio. Como exemplo, o Coronel Antônio Dias Maciel foi padrinho de batismo de Deiró Eunápio Borges, fato acontecido em 09 de maio de 1880.
Segundo Deiró Eunápio Borges Júnior, em seu livro “De Deiró a Deiró, Memórias de um Menino de Recados”, entre essas duas famílias, embora existisse uma “separação natural”, até 1904, houve “um como simulado acordo”. Fatos relevantes, de um momento para outro, teria levado a uma oposição declarada dos Borges aos Maciel. A resposta seguramente se encontra em um conflito ideológico-religioso e político-partidário que desembocou em ameaças, violências e mortes.
Antônio e Jerônimo eram republicanos declarados. Antônio é, inclusive, considerado o fundador do Partido Liberal (PL) patense, raiz do futuro Partido Republicano Mineiro (PRM). A família Borges era de ideologia contrária. Quando da queda da Monarquia, em sessão de 09 de dezembro de 1889, o vereador Sesóstris Dias Maciel propôs a adesão da Câmara ao Governo Republicano. Conforme a ata, o único voto contrário foi dado pelo vereador monarquista Major Olympio Borges, filho do Capitão José Antônio Borges. Na sessão de 12 de dezembro, Olympio se declara contrário à República e exonera-se da Comissão de Redação. Talvez este tenha sido a primeira desavença política real entre eles.
Assim sendo, os primeiros anos da República provocaram uma separação entre as duas famílias motivada por cunho ideológico. Com o tempo as divergências foram se intensificando e cada vez mais se tornando públicas. Após a eleição de Alfredo Borges e Olympio Borges, realizada em 1900, somente 36 anos depois seria eleito um membro da família Borges.
Em 05 de outubro de 1924, em reunião na residência do Capitão Virgílio Caixeta de Queiroz, no Largo da Matriz (hoje Praça Dom Eduardo), foi fundado o Partido Político Popular de Patos (PPPP), por diversos membros das famílias Queiroz, Caixeta e Borges, cujo presidente foi Deiró Eunápio Borges. Estava, assim, organizada a oposição declarada à família Maciel e aos partidários do PRM, com a formação de redutos eleitorais especialmente nos Distritos de Lagoa Formosa e Ponte Firme.
As rivalidades entre as duas famílias não se limitaram ao terreno ideológico e político. Existiram também outras divergências, inclusive de cunho religioso. Os Borges sempre foram católicos. Suas casas se concentravam próximas à antiga e nova Matriz, construídas com ajuda de membros da família. Quanto à religiosidade dos Maciel, a primeira geração seguramente era católica. No entanto, a conversão ao Presbiterianismo de Antônio Dias Maciel, filho de Farnese Dias Maciel e neto do coronel Antônio Dias Maciel, o Barão de Araguari, teria provocado uma rachadura dentro da própria família e levado a católica família Borges a uma oposição mais acentuada.
Segundo Alex de Castro Borges e R. M. Ferreira e Silva, em Informe Histórico de Patos de Minas, o conflito religioso entre as duas famílias se refletiu na “configuração simbólica do cenário urbano da cidade de Patos”. A Catedral de Santo Antônio seria a demarcação, o “limite simbólico do território”. Ao norte, território da família Borges; ao sul, da família Maciel. Outra observação singular é referente aos bustos. O que homenageia Olegário Maciel foi colocado de costas para a Matriz (território dos Borges) e voltado para o sul, o “futuro” da cidade e onde se localiza a Escola Normal e a Igreja Presbiteriana. Já o busto do Monsenhor Fleury foi postado de costas para o de Olegário Maciel, a mirar a sua Igreja, o território dos Borges e o lado norte, onde nasceu a cidade e onde se localizam os colégios católicos: Nossa Senhora das Graças e Marista.
Também no esporte a separação era evidente, e cada família fundou ou ajudou a fundar e apoiou um clube de futebol. Assim, a União Recreativa dos Trabalhadores (URT) era ligada diretamente à família Maciel e o Esporte Clube Mamoré, ligado à família Borges. Na vida social também existiam dois clubes distintos, um chamado “Clube dos Borges” e outro conhecido como “Clube dos Maciéis”.
Assim a História nos vislumbrou apenas a tênue superfície do que aconteceu. Nos tempos atuais, Borges e Maciel continuam suas vidas patenses, cada uma fazendo a sua parte para que Patos de Minas se torne cada vez mais progressiva.
* 1: Leia “Origem da Família Maciel”.
* 2: Leia “Origem da Família Borges”.
* Fontes: Domínio de Pecuários e Enchadachins, de Geraldo Fonseca: A História da Diocese de Patos de Minas, de Nilson André Fernandes.
* Foto: Juventudebarramendense.net, meramente ilustrativa.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.