Ele e ela se conheceram ainda novos, ambos com 10 anos de idade, na Escola Estadual Major Mota, no Distrito de Major Porto. Ambos descendentes de famílias pioneiras do então lugarejo, tornaram-se coleguinhas grudentos. No início, tudo era encarado como amizade infantil. Só que o tempo é inexorável. Já com 15 anos de idade, a tal amizade infantil começou a ficar um pouquinho diferente, quando os hormônios dos prazeres se instalaram fortemente nos dois. Aos 16, a amizade infantil partiu para uma amizade repleta de descobrimentos corporais, a fase do namoro. Em outras palavras, partiram para os finalmente. E não deu outra: gravidez!
Antes do acontecimento fora da hora programada, para ser mais exato, desde que os jovens se conheceram, a mãe dele não foi com a fuça dela, considerando-a entrona e fofoqueira, daquelas que tudo o que ouvia passava adiante na maior cara de pau. Diziam até que quem quisesse espalhar uma intriga sem ter o trabalho para tal, era só fuxicar no ouvido da garota.
Voltando à vaca fria, veio a gravidez. E como as duas famílias eram de costumes tradicionais, mesmo em pleno século 20, casaram os dois mancebos, para tristeza da mãe dele que foi obrigada a engolir a obrigação moral. Porque, para a mãe dele, às favas as tradições, não era para ter acontecido o casamento. Mas como aconteceu, o negócio era deixar bem evidente à nora que ela não era bem quista pela sogra.
No popular, o tempo foi fondo, foi fondo, a família já morando na Sede, e a sogra começou a pegar no pé do marido para que ele consertasse a garota e o sogro dizia sempre que agora não adianta mais, pois pau que nasce torto, morre torto. E quando começava o mesmo papo com o filho, este ficava bronqueado e fugia do assunto, deixando a mãe falando sozinha.
O casamento havia completado dois anos e dois anos foram completados com a mãe do rapaz enchendo a paciência do marido com a mesma ladainha de sempre:
– Pelamordedeus, marido, a gente não pode conversar nada perto daquela mulher que ela logo espalha pra todo mundo e ainda por cima fica se intrometendo nas nossas vidas, tá difícil de aguentar isso e eu não entendo porque você fica quietinho e não conversa com nosso filho para dar um jeito na esposa dele.
O marido respondeu duramente que nunca faria isso e a esposa perguntou o porquê ele nunca faria isso. A resposta foi sucinta e esclarecedora:
– Na minha vez, desde o nosso namoro a minha mãe sabia que o seu gênio era difícil e cheia de manias, como por exemplo, guardar embalagens bonitinhas de produtos, mas nunca me importunou com isso. Por que, então, eu iria importunar meu filho?
Dizem as boas línguas que sogra e sogro andaram se estranhando por muito tempo.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.